Uma pesquisa que será realizada no Rio Grande do Sul buscará validar um exame que detecta marcadores da doença de Alzheimer por meio do sangue e identifica o risco de desenvolver a doença. Liderado por Eduardo Zimmer, professor de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professor adjunto da Universidade McGill, no Canadá, pesquisador associado do Instituto do Cérebro e especialista em Alzheimer, o projeto é desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde.
A iniciativa será viabilizada por meio de um equipamento de R$ 1,4 milhão, adquirido com recursos da Secretaria Estadual da Saúde (SES) repassados à Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs). O Equipamento de Imunoensaio Ultrassensível já está em funcionamento no Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da UFRGS.
A doença de Alzheimer é caracterizada pela presença de duas proteínas insolúveis no cérebro: beta-amiloide e tau. A hipótese dos cientistas era de que essas proteínas poderiam vazar para o sangue, podendo ser identificadas, o que foi confirmado em artigos científicos. Essa é uma das principais apostas da atualidade para o diagnóstico precoce da doença.
Esse tipo de exame já está disponível em alguns países, inclusive no Brasil, mas ainda não foi validado para a população brasileira. O estudo busca, justamente, realizar essa validação, para registrá-lo junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponibilizar a tecnologia para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Dez cidades gaúchas participarão da pesquisa, representando as mesorregiões do Estado:
- Porto Alegre
- Osório
- Bento Gonçalves
- Veranópolis
- Passo Fundo
- Lajeado
- Pelotas
- Santa Maria
- Santo Ângelo
- Uruguaiana
O projeto envolverá 300 indivíduos por cidade. Os participantes devem ser cognitivamente saudáveis, sem sinal de alteração de perda de memória ou de cognição. O primeiro município a receber a pesquisa será Porto Alegre, fornecendo uma ideia inicial da validação. Os testes devem ser iniciados até o fim do ano. Os primeiros resultados já indicam que o exame parece funcionar bem em uma amostra pequena, conforme Zimmer.
Parte dos resultados será comparada com exames de neuroimagem, para verificar se a presença das proteínas no sangue refletem e antecipam o que acontece no cérebro humano.
A iniciativa viabilizará um teste mais acessível para o SUS.
— A expectativa é que a gente consiga validar e mostrar que os exames funcionam na população brasileira e, a partir daí, derivar os valores de referência do exame para indicar o que é ser positivo ou não para a doença de Alzheimer, para as placas amiloide, uma das proteínas da doença de Alzheimer, baseado nos valores do exame — afirma Zimmer.
Os pesquisadores esperam iniciar o recrutamento antes do fim do ano. Após o início da pesquisa, o resultado será disponibilizado em 36 meses. Neste ínterim, relatórios interinos serão compartilhados.
Recursos
Os recursos para a compra do equipamento integram o Plano Estadual de Cuidado Integral em Demências, do governo do Estado. A gestão do recurso é feita pela Faurgs, que conduziu todo o processo para a aquisição do aparelho.
A ação foi viabilizada por meio de convênio direto da Faurgs com o governo do Estado, sem ganhos ou ressarcimento de custos da fundação (como é padrão, para que a instituição consiga se manter), para agilizar os trâmites. Posteriormente, o aparelho será doado ao governo do Estado.
Além do entusiasmo do professor pelo assunto e de sua capacitação, com publicações em periódicos importantes e reconhecimento internacional, a fundação apostou no projeto devido à oportunidade de trabalhar práticas de ESG (sigla que significa “Ambiental, Social e Governança”), segundo Ana Rita Facchini, diretora-presidente da Faurgs:
— Na parte social, a gente resolveu investir nessas iniciativas, que vão dar uma repercussão para a sociedade, bem significativa. Com o sucesso dessa pesquisa, e a gente tendo ajudado e podendo ajudar mais ainda, nós vamos cumprir uma meta de apoio à comunidade em geral. Sair só da questão de fazer a execução dos projetos, e conseguir atingir, junto com a universidade, com a nossa contribuição, uma área social mais intensamente. Porque a área de saúde é a mais cara para as pessoas. E o Alzheimer é uma doença que não afeta só a pessoa, afeta toda a família e tem uma repercussão no SUS para além da própria doença.