Conhecida como a doença que causa “a pior dor do mundo”, a neuralgia do trigêmeo virou assunto nas redes sociais devido ao caso da brasileira diagnosticada com essa condição neurológica. Aos 27 anos, Carolina Arruda convive com os sintomas que remetem à sensação de um choque muito intenso na face há mais de uma década e quer buscar eutanásia no Exterior. De acordo com especialistas, a enfermidade causada por alterações do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade do rosto, pode ser tratada com medicamentos e, em alguns casos, cirurgia.
Moradora de Minas Gerais, Carolina compartilha os desafios da doença em suas redes sociais há alguns anos e, no início deste mês, falou em um vídeo sobre a decisão de buscar eutanásia na Suíça. Na publicação, a jovem conta que foi diagnosticada há 11 anos e já passou por quatro cirurgias e diversos outros tratamentos farmacológicos, sem conseguir alívio duradouro da dor.
— Por isso, eu tomei a difícil decisão de buscar a eutanásia na Suíça. Esse é um processo extremamente burocrático e demorado, então é um projeto a longo prazo. Enquanto isso, vou continuar seguindo os tratamentos prescritos pelo meu médico, incluindo o canabidiol, que tem sido fundamental para controlar a minha dor e manter uma qualidade de vida com o mínimo de sofrimento possível — disse Carolina.
Na segunda-feira (8), Carolina foi internada na Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais, para fazer um tratamento intensivo com medicamentos.
Vanise Grassi, neurologista do Hospital São Lucas da PUCRS, explica que a neuralgia do trigêmeo se caracteriza por crises de dor forte, que ocorrem na face, no território do nervo trigêmeo. A sensação descrita por pacientes é semelhante a choques elétricos súbitos, principalmente na região abaixo dos olhos, entre a maxila e a mandíbula:
— Geralmente, ocorre só de um lado do rosto. Ou seja, é uma dor unilateral, na parte mais inferior da face. E as crises são como choques elétricos bem intensos. Alguns pacientes descrevem a sensação de facadas, fisgadas. É uma dor muito intensa, que pode impossibilitar a pessoa para atividades rotineiras. Cada crise dura de alguns segundos até dois minutos, mas pode acontecer múltiplas vezes no dia.
Conforme o neurologista Pablo Winckler, coordenador da Divisão de Doenças Neuromusculares do Serviço de Neurologia do Hospital Moinhos de Vento, a enfermidade pode ter diferentes causas. Existem situações em que a pessoa tem alguma alteração do nervo em sua origem, quando sai do tronco cerebral, dentro do crânio. Isso pode ser gerado por fatores como uma artéria, uma lesão ou um tumor, que causam pequenas compressões no nervo.
— Em alguns casos, não sabemos por que o nervo começou a ter essa alteração. Mas, às vezes, está relacionado à compressão do nervo quando sai do sistema nervoso central. E diversas outras causas já foram descritas, como alguma questão inflamatória. Quando não se sabe o motivo do mau funcionamento do nervo, dizemos que é idiopático — comenta Winckler.
Os especialistas apontam que as dores são ocasionadas por estímulos simples, como mastigar, falar, tocar, escovar os dentes e sorrir. Alteração de temperatura e vento também podem desencadear crises.
Perfil dos diagnosticados
Essa doença neurológica é considerada rara e costuma acometer mais mulheres do que homens, afirma o neurologista do Moinhos de Vento. Além disso, é mais comum em pessoas acima dos 50 anos, sendo raramente diagnosticada em jovens como Carolina.
Segundo Vanise, o tratamento tem como objetivo o controle da doença e depende muito da causa, que pode ser apontada por uma ressonância de crânio. Em geral, começa com medicamentos anticonvulsivantes para atenuar a sensação de dor. Em alguns casos, como quando há tumor comprimindo o nervo ou o paciente não responde à intervenção medicamentosa, pode ser necessário realizar cirurgia.
— Alguns pacientes usam os medicamentos por um certo tempo até entrarem em remissão. Aí reduzimos as doses e retiramos os remédios. Às vezes, acontece de a pessoa voltar a ter dor depois de meses e até anos sem, e aí temos que começar o tratamento de novo, ajustar as doses até conseguir diminuir as crises — esclarece Winckler.
Vanise acrescenta que a resposta ao tratamento varia muito de acordo com o paciente, mas aponta que a maioria costuma responder de alguma forma. Mesmo assim, existem casos mais refratários, ou seja, que não apresentam resultados positivos com as intervenções.