Na madrugada desta quinta-feira (20), a família do sertanejo Chrystian, da dupla com Ralf, informou que o cantor faleceu após passar o dia internado em São Paulo. Conforme a assessoria, o músico estava com pneumonia e uma infecção generalizada. Com o quadro de saúde debilitado, ele aguardava um transplante de rim devido à doença renal policística do adulto. O procedimento estava marcado para o fim do ano.
Na condição, os rins dos pacientes apresentam cistos (pequenas bolsas preenchidas por líquidos) que dificultam ou até impedem o funcionamento normal do órgão. Os primeiros sintomas costumam aparecer ainda na juventude, por mais que o avanço progressivo da doença seja mais comum em adultos e idosos.
— A doença renal policística, ou mais comumente conhecida como rins policísticos, é uma doença genética. As pessoas afetadas têm uma mutação no gene PKD1 ou PKD2, que produzem a mesma patologia. No entanto, quem tem a mutação no PKD1 tem uma doença mais agressiva e que se manifesta precocemente — explica o médico David Saitovitch, chefe do serviço de Nefrologia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
A condição é caracterizada como autossômica dominante, o que significa que basta ter um gene com a mutação genética (herdado do pai ou da mãe) para manifestar os sintomas. Nesses casos, os pacientes normalmente não descobrem que têm a doença por acaso, é comum que o problema já tenha aparecido anteriormente no histórico familiar.
A idade média em que os sintomas crônicos aparecem, e as pessoas afetadas precisam realizar hemodiálise ou transplante renal, é de 50 a 55 anos para quem tem a mutação do gene PKD1. Já quem apresenta a mutação no gene PKD2 tende a sofrer as consequências mais agressivas da doença na faixa dos 70 anos.
— Diferentemente dos rins das pessoas normais, que medem de 10 a 12 centímetros de comprimento, nessa doença, os rins apresentam cistos de uma forma intensa, o que destrói a arquitetura normal do órgão, que tem uma estrutura importante para o seu funcionamento — continua o médico.
Enfermidade sistêmica
A doença renal policística não afeta apenas os rins – segundo o nefrologista, é comum que pacientes apresentem um aumento de pressão arterial secundário, associado à doença renal. Esse sintoma é tratável, e o controle da pressão pode retardar o avanço do distúrbio.
Com a pressão alta, a condição abre portas para outras questões de saúde importantes, como aneurismas cerebrais e problemas cardíacos. O médico pontua que essas manifestações associadas são, na verdade, as maiores responsáveis pelas mortes de pacientes com a doença, e não os cistos encontrados nos rins.
E as pequenas bolsas de líquido no sistema renal não são exclusivas da doença. Não é todo diagnóstico de cistos nos rins que está associado às mutações genéticas explicadas anteriormente. Saitovitch esclarece:
— Ter cisto no rim é igual ter cabelo branco na cabeça, é uma manifestação de envelhecimento normal.
Como funciona o tratamento
Para combater a enfermidade, é necessário focar na pressão sanguínea.
— O tratamento é o da pressão arterial, porque, se a pessoa que tem o rim policístico e trata adequadamente a pressão, a doença renal dela vai avançar mais lentamente. Se não tratar, pode ter problemas de insuficiência renal mais precocemente — expõe o médico.
Além disso, o nefrologista é direto: não adianta remover os cistos. A cirurgia é um procedimento invasivo e não definitivo, já que os cistos podem retornar, tanto nos rins quanto em outros órgãos, como fígado, pâncreas e baço. Alguns pacientes podem necessitar de transplante, o que também não cura a doença, mas retarda o seu avanço. Pela origem da condição ser genética, a tendência é de que ela permaneça voltando, apesar dos tratamentos.
Produção: Caroline Guarnieri e Giovanna Batista