Principal fator de risco para acidente vascular cerebral (AVC), a hipertensão está fortemente associada a doenças cardiovasculares e insuficiência renal. A condição pode ser controlada através de reeducação alimentar, perda de peso e exercícios físicos associados ao uso de medicamentos. O Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial é celebrado em 26 de abril.
O cardiologista Mário Wiehe, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), coordenador da residência médica do Hospital São Lucas e ex-presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (SOCERGS), explica a manutenção de um nível de pressão arterial adequado permite o funcionamento adequado do nosso organismo. A hipertensão arterial é definida quando o nível se eleva e passa a ser prejudicial aos nossos órgãos, especialmente para o cérebro, o coração e os rins.
— A pressão dentro das artérias através da circulação do sangue bombeado pelo coração tem o papel de levar oxigênio a todos os sistemas do corpo, o que não deve ser demasiadamente elevado e nem muito baixo — diz.
No dia 12 de abril, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alterou a forma de diagnóstico da hipertensão arterial, e passou a considerar aferições feitas pelo paciente antes e depois da visita ao consultório médico, em sua casa. Conforme a SBC, um quadro da doença passa a ser considerado quando a medida aponta 130 por 80 (13 por 8) na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) e na monitorização residencial da pressão arterial (MRPA).
A mudança passou a considerar fatores subsequentes à consulta médica, como quadros de ansiedade e estresse por estar em um consultório médico, explicou o cardiologista Eduardo Barbosa, professor de Medicina na Feevale e coordenador do Núcleo de Hipertensão e Cardiometabolismo do Hospital São Francisco, da Santa Cara de Misericórdia de Porto Alegre.
— A hipertensão é caracterizada por um aumento persistente da pressão arterial, seja no índice máximo acima de 140, ou mínimo, menor ou igual a 90. Cerca de 20% dos pacientes apresentam o que chamamos de hipertensão do avental branco, que se caracteriza por aquela pessoa que chega no consultório e a pressão está mais alta do que ela era na realidade, pode ser por estresse ou ansiedade de estar frente ao médico, e quando essa pessoa deixa o consultório, a pressão volta a apresentar valores normais — explica Barbosa.
Fatores hereditários são a principal causa da hipertensão arterial. Além disso, a obesidade, o sedentarismo, a ingestão de produtos ultraprocessados, tabagismo, consumo excessivo de sal e uso de alguns medicamentos como anticoncepcionais de uso oral e anti-inflamatórios podem estar associados ao maior risco da doença.
Mudança de hábitos
A hipertensão arterial é habitualmente silenciosa, geralmente os sintomas apresentados já estão atrelados a casos mais graves que podem indicar problemas no coração, rins e risco de AVC. Entre os sinais que possivelmente indicam um quadro da doença, estão dores no peito, palpitação, tontura, alteração na visão e dor de cabeça em níveis mais elevados e sustentados.
Para Wiehe, é importante que a população crie o hábito do autocuidado, da prevenção com a realização de baterias de exames e participação campanhas temáticas, para que não se procure ajuda médica apenas ao sentir algum sintoma, quando a exposição à doença já denuncia um quadro clínico mais grave. Segundo o cardiologista, realizar uma bateria de exames anualmente e aferir a pressão arterial regularmente, especialmente pessoas com histórico familiar, é uma boa forma de prevenir ou chegar ao diagnóstico precoce da doença.
Apesar de não ter cura, a hipertensão conta com tratamento eficaz através da administração de remédios, de acordo com a necessidade e gravidade de cada caso. Uma opção muito eficiente, que pode, inclusive, substituir o uso de remédios, é a reeducação alimentar associada à mudança de estilo de vida.
Ambos os especialistas destacam que a prática de exercícios somada a uma dieta equilibrada, especialmente com consumo de frango, peixes laticínios magros frutas e verduras, pode reduzir os níveis de pressão arterial, dispensando e diminuindo a necessidade de remédios.
— A mudança de estilo de vida é fundamental, em função dos fatores que levaram você a ser hipertenso. A história familiar não tem como a gente mexer, é uma questão genética. Mas, você começar a fazer exercício é importante, você perder peso é importante, você reduzir a ingestão de sal é extremamente importante — orienta Eduardo Barbosa.
O primeiro passo, é enfrentar o sedentarismo. Pequenas mudanças no dia a dia podem auxiliar como preferir escadas ao utilizar elevador, realizar pausas durante o trabalho para alongar-se e realizar caminhadas em percursos habitualmente realizados de carro. Durante a prática de atividades físicas, Barbosa ressalta que é normal uma queda temporária da pressão arterial, devido as alterações vasculares decorrentes do esforço do organismo.
*Produção: Lucas de Oliveira