Pode até parecer descanso, mas passar longos períodos sentado ou deitado enquanto se está acordado é extremamente prejudicial à saúde. A falta de movimentos dos músculos – o que caracteriza o sedentarismo – propicia o desenvolvimento de diversas doenças e quadros de risco. Pequenas mudanças na rotina, como na escolha entre o elevador ou a escada, podem auxiliar na melhoria de vida.
Chefe do Serviço de Cardiologia da Santa Casa de Porto Alegre, Paulo Ernesto Leães destaca que o sedentarismo não é uma doença, mas sim um comportamento que decorre do estilo de vida das pessoas. A falta de atividades físicas eleva o risco de quadros de obesidade e desenvolvimento de diabetes, problemas cardiovasculares e, em alguns casos, de cânceres, alerta o cardiologista.
— O sedentarismo decorre de alguém que se acostumou. O homem sempre foi nômade, caminhava muito e a partir do momento que passou a se fixar mais nas cidades este indivíduo começou a praticar cada vez menos atividades físicas. A industrialização mudou tudo — explica o Leães.
Em um mercado profissional dominado por grandes escritórios e indústrias cada vez mais automatizadas – sem a necessidade de mão de obra humana –, muitos profissionais executam suas funções sentados, passando horas em posições similares. Este cenário possibilita o início de comportamentos sedentários, por isso é importante movimentar-se em meio às atividades profissionais.
Uma das dicas é ter atenção com a postura enquanto se está sentado, seguidamente mudar de posição e corrigir a coluna. Problemas posturais e ortopédicos são alguns dos casos mais comuns oriundos do sedentarismo.
Professor do curso de Educação Física da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rafael Baptista também atribui a evolução tecnológica ao aumento nas horas passadas deitados ou sentados, até nos momentos de lazer.
— Trabalhamos sentados, aí chega em casa e vai assistir um filme, é deitado. Nosso nível de atividade física comparado com outros momentos da humanidade reduziu muito. Nos deslocamentos, vamos de carro, sentados. A gente caminhava mais, me lembro que para eu ir para o colégio, caminhava quase 20 minutos para ir e mais 20 para voltar — disse.
Como identificar o comportamento?
Os primeiros sinais do sedentarismo não são propriamente clínicos ou físicos. É preciso ter atenção ao seu comportamento dia após dia. Quando estiver acordado, evite ficar muito tempo deitado ou sentado sem se mover.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que uma pessoa saudável deve praticar 155 minutos semanais de atividade física moderada ou 75 de atividade intensa. Ou seja, alguém que pratica pelo menos 30 minutos de exercício por dia, durante cinco dias, dificilmente desenvolverá um comportamento sedentário.
Baptista explica que existe uma métrica, baseada no gasto de energia, chamada equivalente metabólico (met) que ajuda a diagnosticar um comportamento sedentário. De acordo com o educador físico, uma pessoa sentada tem 1met – medida considerada baixa – enquanto em uma atividade física moderada a medida varia entre três e 6met.
— O sedentarismo está muito associado ao tempo muito grande em que o gasto energético é abaixo do recomendado e fica muito próximo ao de momentos de repouso (sentar ou deitar) — explicou Baptista.
Mudança de hábitos
O primeiro passo para combater o sedentarismo é aceitá-lo e entender o comportamento. Mas, iniciar atividades físicas por conta própria e sem as orientações e recomendações de um médico e de um educador físico pode ser perigoso.
É importante consultar com um médico – cardiologista, por exemplo –, realizar um check-up de exames para identificar possíveis problemas clínicos.
— É para a pessoa saber se tem algum risco de saúde. Estamos falando de atividades que aumentam a frequência cardíaca, às vezes algum sintoma só se apresenta quando a pessoa dá início a esta atividade — salienta Baptista.
Com a liberação médica e a orientação de um educador físico, a pessoa está liberada para iniciar as atividades físicas. Pensando na agitação do dia a dia que vivemos atualmente, Leães e Baptista listaram pequenas mudanças em ações do cotidiano que podem auxiliar no combate ao sedentarismo:
- Deslocamentos: se for de transporte público, descer três quadras antes e completar o percurso caminhando. De carro, estacione distante e faça o mesmo. Dê preferência à trajetos a pé ou de bicicleta
- Utilize escadas no lugar do elevador
- Em casa, pratique atividades manuais, como jardinagem, lavar o carro ou fazer faxina.
- Dançar – que é uma atividade física moderada
- Brincadeiras: aproveitar os momentos de lazer para brincar, seja com filhos e netos, por exemplo, pode ser uma boa opção também, desde que com ações de pé ou esforço físico.
*Produção: Lucas de Oliveira