A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou nesta sexta-feira (12) um documento em que traz mudanças no padrão de aferição da pressão alta. Pela nova conduta, o diagnóstico definitivo de hipertensão arterial, e posterior tratamento, não deve considerar apenas os resultados obtidos nos dados de consultórios. É preciso levar em conta as verificações feitas na casa do paciente.
— A pressão do consultório é realmente frágil. Tanto que podemos ter alguns erros na avaliação. Por exemplo, quando o paciente está ansioso ou mais preocupado com a consulta, isso faz a pressão elevar. E nessa situação em que a pressão se eleva por estresse ou ansiedade, a pressão fica alta no consultório, mas está normal em casa — explica, Audes Feitosa, coordenador do documento e membro do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A nova conduta faz parte das Diretrizes Brasileiras de Medidas da Pressão Arterial Dentro e Fora do Consultório. O documento foi elaborado por 67 especialistas e busca orientar profissionais de saúde e pacientes sobre a forma adequada de realizar a aferição atualmente. A divulgação das recomendações ocorreu durante o 1º Encontro de Departamentos da Cardiologia, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo.
Feitosa também aponta que houve uma mudança nos resultados que são considerados alterados. No consultório, segundo o especialista, a pressão é considerada alta quando passa de 140 por 90 (14 por 9). Já em casa, é alta a partir de 130 por 80 (13 por 8).
— Na MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial), na medição anterior, era alta a partir de 130 por 80 e, na MRPA (monitorização residencial da pressão arterial), era 135 por 85. Mas os trabalhos mostraram que o valor mais adequado para avaliar a hipertensão é 130 por 80 nos dois métodos. Então, agora, tanto na Mapa quanto na MRPA a partir de 13 por 8 já é hipertensão em casa — explica.
De acordo com Feitosa, a pressão arterial pode ser aferida em casa, no trabalho e até durante o sono com a ajuda de equipamentos automáticos. Entre as principais metodologias para se monitorar a pressão fora do consultório médico, estão a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), a monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) e a automedida da pressão arterial (AMPA).
Na avaliação da SBC, a utilização dessas outras técnicas e equipamentos ajudam na elaboração de um diagnóstico mais complexo e assertivo. Isso porque são capazes de detectar variações comuns como hipertensão do avental branco (HAB), hipertensão mascarada (HM), alterações da pressão arterial no sono e hipertensão arterial resistente (HAR) — condições que normalmente não são detectadas em acompanhamentos restritos aos consultórios.
— O acesso a esses equipamentos e profissionais capacitados nos serviços de saúde se faz necessário e merece um olhar atento na formulação de políticas de saúde. Essas novas diretrizes oferecem um embasamento técnico e científico altamente qualificado para orientar gestores, médicos e demais profissionais da saúde — destaca o coordenador.
A aferição da pressão é um procedimento obrigatório em qualquer atendimento médico ou realizado por outros profissionais de saúde, conforme a SBC. Feitosa comenta que as novas diretrizes enfatizam a importância de realizar medidas em farmácias e outros locais públicos:
— Não vamos dar diagnóstico de hipertensão nas farmácias, mas isso serve como triagem para o paciente ser encaminhado a um serviço de saúde e confirmar se é hipertenso ou não. A hipertensão é praticamente assintomática, então ou você mede a pressão ou você não tem o diagnóstico. Então, a oportunidade de medir na farmácia, por exemplo, é fundamental.
O documento da SBC traz outro aspecto relevante, que está relacionado à necessidade de olhar para a jornada dos pacientes a partir de suas características, como gênero, faixa etária, classe social e condições de saúde diversas.
Conforme o Ministério da Saúde, a pressão arterial diz respeito à força que o sangue faz sobre as artérias para conseguir circular pelo organismo e se divide em dois tipos: sistólica e diastólica. A sistólica é aquela exercida sobre os vasos sanguíneos no momento de contração dos músculos do coração; a diastólica é exercida no momento de relaxamento do coração.
Doença atinge quase um quarto dos brasileiros
Um dos maiores fatores de risco para doença arterial coronária, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal, a hipertensão atinge quase um quarto (23,93%) da população brasileira, conforme o relatório Estatística Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 2023. Os dados apontam que a prevalência é maior entre as mulheres (26,45%) do que entre os homens (21,06%).
Já em relação às faixas etárias, os mais atingidos são os idosos — 61% das pessoas com mais de 65 anos têm a doença crônica. Por outro lado, estima-se que cerca de 10% das crianças e adolescentes já conviva com o problema.