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M-CHAT ajuda na triagem de sinais de transtorno do espectro autista em crianças, mas não pode ser usado para confirmar diagnóstico

Instrumento tem 23 questões que devem ser respondidas pelos pais de crianças entre 16 e 30 meses

GZH

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Instrumento foi feito para crianças de um ano e quatro meses até quase três anos de idade.

Durante o Abril Azul, mês de conscientização sobre o autismo, o M-CHAT, instrumento de triagem que ajuda a identificar sinais precoces de transtorno do espectro autista (TEA) em crianças, ganha destaque. O questionário pode ser aplicado por médicos, psicólogos e enfermeiros habilitados em consultórios da rede pública e privada.

Criado em 1999 pelas pesquisadoras norte-americanas Diana Robins, Deborah Fein e Marianne Barton, o Modified Checklist for Autism in Toddlers (Lista de Verificação Modificada para Autismo em Crianças Pequenas, em tradução livre), conhecido com M-CHAT, conta com 23 perguntas que devem ser respondidas pelos pais de crianças entre 16 e 30 meses. Os questionamentos buscam avaliar diferentes áreas do desenvolvimento infantil.

— O M-CHAT é um instrumento público fácil de usar, mas que não pode ser usado para diagnóstico. As perguntas não têm certo ou errado, mas a combinação de pontos pode indicar suspeita de TEA. A partir dessa triagem, pode haver uma entrevista mais detalhada com os pais e o médico pode observar a criança brincando. O diagnóstico é clínico — explica o médico presidente do comitê de Pediatria do Desenvolvimento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), Renato Santos Coelho.

Segundo o especialista, o instrumento é inconclusivo para diagnóstico de TEA. Ou seja, são necessários exames, entrevistas e outros processos observacionais com profissionais de diferentes áreas para concluir a descoberta. Além disso, o M-CHAT tem uma alta taxa de falsos positivos, o que significa que nem todas as crianças que pontuam como risco de ter TEA serão diagnosticadas.

— Lembrando que o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento em que se tem déficit na parte da comunicação social e um comportamento marcado por movimentos repetitivos e interesses restritos. Existe um movimento para o diagnóstico precoce porque quanto mais cedo a criança for diagnosticada, mais cedo se iniciam as intervenções e o resultado costuma ser melhor — acrescenta a neuropediatra do Hospital Moinhos de Vento Alessandra Pereira.

Como funciona

O M-CHAT conta com 23 perguntas, e o M-CHAT-R, versão revisada do questionário, tem 20. As questões, que podem ser respondidas com sim ou não, são referentes aos hábitos e habilidades das crianças. A pergunta 11, por exemplo, questiona os pais se a criança apresenta sensibilidade a barulhos, enquanto a questão 18 é sobre o movimento dos dedos do pequeno.

— Quando os pais vão responder o questionário, explicamos que não existe certo ou errado. Se a pergunta for se seu filho usa o dedo indicador para demonstrar interesse em alguma coisa e a resposta for “às vezes”, existe um indicador. De 10 vezes, em quantas ele faz isso? Se for, por exemplo, só duas vezes, então essa pergunta deve ser marcada como “não” — afirma Coelho.

Essas orientações são importantes porque o teste precisa ter um padrão, garante o especialista. As respostas geram uma pontuação, que será avaliada pelo profissional responsável por aplicar o instrumento. Se a nota final ficar entre zero e dois pontos, configura um risco baixo de TEA. Caso o resultado seja entre três e sete, o risco é moderado. Já entre oito e 20, é considerado um risco alto.

Se nos primeiros 18 meses já tem risco moderado ou alto, deve-se encaminhar a criança para avaliação diagnóstica e de intervenção precoce. Mas se tem risco baixo e a criança tem menos de 24 meses, é necessário reavaliar após o segundo aniversário. Nenhuma outra avaliação será requerida a menos que a evolução clínica indique risco de TEA — explica Alessandra.

Onde fazer

O M-CHAT é um instrumento que pode ser realizado nos consultórios médicos da rede pública e privada de saúde por diferentes profissionais da saúde, desde que capacitados. Segundo a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 13 grupos de operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde, o valor do teste está incluso no atendimento do médico pediatra.

O projeto de lei (PL) 443/2024, atualmente em análise pela Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, prevê a obrigatoriedade da aplicação do M-CHAT pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto isso, o Ministério da Saúde recomenda que a avaliação de indivíduos com suspeita de TEA seja conduzida de forma colaborativa, nos diferentes pontos de atenção das redes de atenção à saúde, podendo contar com o M-CHAT.

Em Porto Alegre, o instrumento de triagem está dentro da carteirinha da criança que as unidades de saúde (US) usam como base. Qualquer US da Capital está apta para realizar o teste. O instrumento também é oferecido no Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa).

*Produção: Yasmim Girardi

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