Os cuidados com a saúde bucal das crianças devem iniciar antes mesmo do nascimento dos dentes decíduos - também chamados de dentes de leite. Por isso, o ideal é que os pais recebam orientações ainda durante a gravidez, ressalta o odontopediatra João Batista Blessmann Weber, que é membro titular da Academia Gaúcha de Odontologia (ACGO) e coordenador do curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A recomendação do Ministério da Saúde é que, no primeiro semestre de vida do bebê, a higienização das bochechas, gengiva e língua seja feita com uma fralda limpa ou gaze umedecida com água filtrada ou fervida. Já a primeira consulta com um odontopediatra deve ser realizada por volta dos seis meses de idade, período em que os dentes de leite começam a aparecer. De acordo com Weber, esse atendimento inicial é fundamental para que a família possa estabelecer estratégias para a prevenção de doenças bucais.
A partir do nascimento dos primeiros dentes, também é necessário iniciar a escovação, utilizando sempre cremes dentais fluoretados (compostos com 1000 a 1500 ppm de flúor), explica o especialista:
— É importante utilizar escovas com cerdas macias e com tamanho adequado para cada criança. Para bebês, pode-se optar por escovas adaptadas a dedeiras disponíveis comercialmente.
É indicado que a criança escove os dentes ao mínimo duas vezes ao dia, entretanto, é preciso controlar a quantidade de creme dental colocado na escova. Para menores de quatro anos, deve ser equivalente ao tamanho de um grão de arroz cru. Já a partir dessa idade – inclusive na vida adulta – é recomendado que seja correspondente a um grão de lentilha.
O uso do fio dental também deve iniciar na infância, principalmente para aquelas crianças que possuem pouco espaço entre os dentes. O Ministério da Saúde alerta que bebês e crianças, principalmente durante o primeiro ano de vida, podem ter um tipo de cárie que evolui muito depressa e pode atingir vários dentes de uma só vez. A causa mais comum da chamada cárie na primeira infância é o consumo excessivo de açúcar, frequentemente associado à amamentação durante a noite, prolongada e frequente na mamadeira, e posterior falta de limpeza.
O controle da dieta e a escovação dos dentes com cremes dentais fluoretados são cuidados fundamentais para a prevenção dessa doença (cárie). Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto a Associação Internacional de Odontopediatria recomendam a introdução do açúcar somente após os dois anos de idade. Quando mais frequente for a ingestão de açúcar, maior será o risco para o estabelecimento da doença.
JOÃO BATISTA BLESSMANN WEBER
Coordenador do curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Por isso, recomenda-se que os pais tentem fazer a higiene após a mamada noturna. Além disso, deve-se evitar acrescentar açúcar ou achocolatado no leite, chás e sucos ofertado às crianças. Weber destaca que a cárie é uma das doenças mais comuns na primeira infância, estando relacionada ao acúmulo de bactérias sobre os dentes. No Brasil, mais da metade das crianças abaixo dos seis anos têm, pelo menos, um dente cariado.
— O controle da dieta e a escovação dos dentes com cremes dentais fluoretados são cuidados fundamentais para a prevenção dessa doença. Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto a Associação Internacional de Odontopediatria recomendam a introdução do açúcar somente após os dois anos de idade. Quando mais frequente for a ingestão de açúcar, maior será o risco para o estabelecimento da doença — alerta.
A troca de dentes inicia, em média, aos seis anos. Nessa idade, também podem começar a aparecer problemas ortodônticos, como a falta de espaço para a erupção dos dentes permanentes, aponta o odontopediatra. Alguns procedimentos preventivos, como o uso de aparelhos removíveis, podem ser realizados já nessa fase da vida.
— Também é uma fase na qual medidas preventivas adicionais podem ser necessárias para o controle da cárie dentária, como a aplicação de selantes de fóssulas e fissuras. É um procedimento realizado por um odontopediatra, dependendo da necessidade individual de cada criança — afirma Weber, acrescentando que sinais como manchas brancas nos dentes, sangramento gengival, dores na articulação, desgastes dentários e ranger de dentes podem indicar alguma patologia, sendo recomendável avaliação com um especialista.
O ideal, segundo o odontopediatra, é que as crianças tenham consultas regulares com um cirurgião-dentista para evitar maiores problemas. A frequência desses encontros é determinada pelos profissionais de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Na adolescência
Os adolescentes devem manter os cuidados com controle da dieta e escovação utilizando creme dental fluoretado, enfatiza Weber. Mas a higienização entre os dentes com fio dental deve receber uma atenção especial, porque, nessa fase da vida, podem surgir doenças periodontais (nas gengivas) mais severas. Assim, é preciso ficar atento ao acúmulo de tártaro e ao sangramento gengival.
De acordo com o especialista, os adolescentes possuem quase todos os dentes permanentes - exceto terceiros molares ou sisos - e, nesse período, também podem surgir problemas ortodônticos mais severos, sendo necessário o uso de aparelhos fixos ou alinhadores. A cárie e o bruxismo (ranger dos dentes) são outras questões que podem se manifestar de forma mais grave nessa etapa da vida.
— A consulta com um ortodontista é fundamental para o diagnóstico e tratamento dessas alterações. E, além desses problemas, os traumatismos dentários, envolvendo desde uma pequena trinca até a perda total do dente, também são bastante comuns em crianças e adolescentes, tanto em dentes decíduos quanto em permanentes – comenta Weber.
Na vida adulta
Os adultos precisam manter todos os cuidados com escovação, uso do fio dental e controle da frequência do consumo de açúcar e produtos açucarados. Além disso, deve-se buscar orientação profissional, consultando um especialista regularmente para garantir que está seguindo as recomendações específicas para sua necessidade.
— É preciso fazer uma visita periódica, uma vez por ano, no mínimo. Algumas pessoas podem ter orientação de ir com mais frequência para fazer manutenções, limpezas, raio X para acompanhamento de tratamento de canal, de próteses ou implantes — ressalta o cirurgião dentista Diego Augusto da Rosa Pretto, que é mestre em saúde bucal coletiva e conselheiro do Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Sul (CRO/RS).
Se houver cuidado com a higiene bucal e com os hábitos alimentares saudáveis, é pouco provável que um adulto sem histórico prévio de cárie desenvolva o problema nessa fase da vida, acrescenta a professora de Odontologia da PUCRS Karina Pereira. No entanto, as doenças gengivais e periodontais, que atingem o osso e a base que envolve o dente, podem ser mais comuns:
— Enquanto a cárie está muito relacionada aos hábitos alimentares e à higiene, podem ocorrer outras doenças relacionadas a fatores referentes ao próprio indivíduo. Ou seja, algumas pessoas podem ser mais suscetíveis por conta de microrganismos específicos que possuem no organismo ou de condições sistêmicas.
Em casos mais avançados, algumas doenças gengivais podem levar à perda do dente. O problema, conforme Karina, é que a evolução do problema pode ocorrer de forma silenciosa, sem sintomas aparentes de dor ou sangramento.
A professora destaca que existe uma crença popular de que gestantes têm uma predisposição maior para cárie e sangramento gengival, o que não se confirma com a manutenção dos hábitos de higiene bucal e das revisões. É importante, contudo, marcar uma consulta ao descobrir a gravidez, com o objetivo de detectar se existe algum processo infeccioso que precise ser tratado.
Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis por conta de microrganismos específicos que possuem no organismo ou de condições sistêmicas
KARINA PEREIRA
Professora de Odontologia da PUCRS
— A mulher pode ter limitações para procedimentos mais complexos durante a gestação. Por isso, trabalhamos com prevenção antes e no início da gravidez. Assim, conseguimos evitar que intercorrências ocorram durante esse período – diz Karina.
Na terceira idade
Os especialistas enfatizam ainda que, antigamente, era bastante comum a extração de dentes, seja em razão da falta de recursos para tratamentos mais complexos ou da dificuldade de acesso à especialidade. Por isso, muitos idosos não têm a arcada dentária completa. Apesar do mito de que é normal perder dentes ao longo da vida, Karina ressalta que um indivíduo pode chegar à fase idosa com todos eles:
– Não existe enfraquecimento do dente. Mas podem surgir condições como a diminuição da produção de saliva associada ao envelhecimento e o uso de determinadas medicações, que podem contribuir para o desenvolvimento de cáries e alterações gengivais. Isso aumenta a necessidade de ter uma atenção maior voltada à saúde bucal.
Além disso, alguns idosos perdem um pouco da motricidade, o que pode dificultar o uso do fio dental e a escovação. Pretto acrescenta que, ao perder um dente, é possível colocar implante e prótese. Também destaca que as tecnologias duram de cinco a oito anos sem precisar de reformas ou trocas, mas dependem de manutenção periódica para evitar possíveis problemas.
— O implante é uma peça metálica de titânio, que é colocada diretamente dentro do osso. Já a prótese dentária é feita de cerâmica ou porcelana e parafusada sobre o implante. A manutenção deve ser feita com intervalo de um a dois anos, mas depende do que o profissional orientar conforme a necessidade do paciente. Próteses mal adaptadas ou quebradas podem provocar lesões graves — alerta o cirurgião dentista.
Seis dicas essenciais
1) Use fio dental ao menos uma vez por dia
O hábito traz uma limpeza mecânica para regiões onde a escova não consegue alcançar, como entre os dentes. Em algumas situações, o fio pode não ser suficiente. Aí, escovas interdentais podem complementar a limpeza.
2) Troque sua escova regularmente
A recomendação é trocar a cada três meses. No entanto, algumas pessoas deterioram suas escovas antes disso. Dessa forma, é indicado trocar quando o padrão das cerdas ficar deformado.
3) Evite escovar com muita força
Não é necessário utilizar força na escovação. Isso pode causar desgaste na superfície dos dentes, além de traumatismo gengival e outros prejuízos. Vale lembrar que as escovas devem ter cerdas macias, e não médias ou duras.
4) Fique atento à composição do creme dental
Para a prevenção da cárie, é importante que a pasta de dente tenha no mínimo 1000 ppm de fluoreto de sódio (flúor). Pessoas com hipersensibilidade dentária devem evitar cremes dentais que prometem clarear os dentes, porque eles contêm componentes mais abrasivos, que podem piorar o quadro.
5) Não tenha pressa para escovar os dentes
O tempo de escovação reflete na qualidade. Repetir o processo várias vezes ao dia não é uma garantia de que a limpeza está sendo eficiente. É necessário de um a dois minutos para escovar bem uma boca com 28 dentes.
6) Não esqueça de limpar a língua
A língua acumula restos de alimentos e bactérias. Há limpadores específicos que podem ajudar no processo, mas a própria escova já é eficaz. É recomendado fazê-la ao menos uma vez por dia, com movimentos cuidadosos, “varrendo” a língua da parte interna até a ponta.