Sonhar com a maternidade se tornou uma possibilidade para mulheres que passarão pelo tratamento de radioterapia. A técnica de transposição de útero – que busca preservar o órgão de células malignas – foi realizada no dia 26 de fevereiro, na Santa Casa de Porto Alegre - o primeiro procedimento do tipo no Estado. A realocação do órgão da paciente está prevista para o dia 11 de abril.
O médico oncologista Reitan Ribeiro, que realizou a cirurgia pela primeira vez, há nove anos, afirma que o útero é realocado da região da pelve para a parte de cima do abdômen. Os vasos sanguíneos sustentam o órgão durante o período da radioterapia.
Após o período, é colocado de volta no lugar e funciona normalmente junto aos ovários. O profissional afirma que a cirurgia já foi aplicada nos Estados Unidos, Israel, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, sendo improvável estimar um número de procedimentos alcançados até hoje.
Pioneirismo
Uma das primeiras pacientes é a maquiadora gaúcha Carem Santos. Em 2018, ela enfrentou uma série de quatro tumores seguidos, entre eles na região da pélvis. Isso poderia deixá-la infértil caso não fizesse o procedimento.
Na ocasião, Carem viajou a Curitiba, onde realizou a cirurgia, e hoje é mãe do Nicolas, de dois anos, que é o primeiro brasileiro nascido por transposição.
— A radiação poderia afetar meu útero e minhas trompas. E eu jamais poderia ser mãe. Acabou se tornando (meu sonho) naquele momento, quando me falaram da possibilidade de não ser mãe. Então ali eu vi que queria ser mãe no futuro, com certeza — afirma.
Histórico
A primeira cirurgia deste tipo foi realizada em 2015, com a paciente Francielle Boarão, que tinha 26 anos na época. A equipe havia prometido 60% de chance de ser mãe, o que se concretizou. Com a repercussão, médicos de outros países vieram ao Brasil para aprender sobre o procedimento.