A primeira remessa da Qdenga, vacina contra a dengue, chegará nesta terça-feira (30) ao Rio Grande do Sul. Assim como outras unidades da federação, o Estado enfrenta uma crise em função da doença – já são 92 mil casos confirmados até abril, frente aos 67 mil casos registrados em todo o ano de 2022, que, até então, tinha o número recorde.
O Estado registrou 109 mortes pela doença apenas em 2024, superando todos os marcos da série histórica. Ainda não há definição de quando a vacina começará a ser aplicada no Rio Grande do Sul, conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES). Estima-se que o início da campanha ocorrerá na próxima semana.
O Brasil também bateu recorde de mortes. Confira perguntas e respostas sobre a dengue e a vacinação no RS:
Qual é o público-alvo da vacina Qdenga?
A Qdenga pode ser administrada em adultos, jovens e crianças, dos quatro aos 60 anos. O público-alvo na campanha do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde são jovens de 10 a 14 anos. Na rede privada, a vacina pode ser aplicada em todas as faixas etárias para as quais está indicada, mas está em falta.
Para quem serão disponibilizadas as vacinas no RS?
A orientação do Ministério da Saúde é de que, no Rio Grande do Sul, assim como no restante do país, o público-alvo da campanha de vacinação seja de jovens entre 10 e 14 anos. As cidades contempladas serão Porto Alegre, Alvorada, Cachoeirinha, Glorinha, Gravataí e Viamão.
Quando o imunizante começará a ser aplicado no Estado?
Ainda não há definição de quando a vacina começará a ser aplicada no Rio Grande do Sul, conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES). Estima-se que o início da campanha ocorrerá na próxima semana.
Qual é o perfil das mortes por dengue no RS?
Das mortes no Estado, 75,2% foram registradas entre pessoas acima de 60 anos. Apenas 24,7% foram entre pessoas abaixo dessa idade – público apto a receber a vacina. Médica infectologista da Santa Casa e mestre em Virologia, Cynara Nunes lembra que a Qdenga é uma vacina nova, que segue as premissas dos primeiros estudos – realizados com pessoas de até 60 anos, motivo pelo qual as pessoas acima dessa idade não podem recebê-la. Isso não quer dizer que, no futuro, o público-alvo não possa se expandir, mas a decisão dependerá de novos estudos.
— O idoso, no decorrer da idade, tem uma degradação na resposta imunológica. Com isso, ficam mais suscetíveis — explica.
A médica destaca a importância do imunizante e de expandir a faixa etária – e está na expectativa de que isso aconteça em breve. Quanto mais pessoas vacinadas, menos infectados, o que diminui a cadeia de transmissão e, consequentemente, afeta os idosos.
De acordo com a assessoria de imprensa da Takeda, empresa que desenvolveu a vacina, não há previsão de realização de um novo estudo com pessoas acima de 60 anos. Serão apenas analisados dados da vida real, com o objetivo de reiterar a eficácia e segurança já demonstradas pelos estudos clínicos. Esse tipo de monitoramento técnico é previsto para qualquer imunizante aprovado e avalia o impacto da vacinação na vida real, conforme recomendações das agências regulatórias e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A vacina se mostrou bastante eficaz, não só em evitar a doença, mas, principalmente, ela tem uma eficácia protetora mais alta ainda para as formas graves de dengue, o que incluiria diminuir a hospitalização e os óbitos.
JUAREZ CUNHA
Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e médico pediatra
Quais são as restrições e contraindicações à vacina Qdenga?
As restrições e contraindicações ao uso da Qdenga são:
- Hipersensibilidade ou alergia a qualquer componente da formulação ou após dose anterior de Qdenga
- Imunodeficiências primárias ou adquirida, incluindo terapias imunossupressoras
- Pessoas que vivem com o vírus HIV, sintomáticas ou assintomáticas, quando acompanhada por evidência de função imunológica comprometida
- Gestantes
- Mulheres de qualquer idade que estejam amamentando
- Pessoas fora das faixas etárias indicadas
- Presença de quadro febril agudo
O imunizante é seguro?
Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e médico pediatra, Juarez Cunha avalia que, nos dados de fase um, dois e três, a vacina se mostrou bastante segura, sem relato de casos de eventos adversos graves relacionados à ela. Ao mesmo tempo, houve um alerta do Ministério da Saúde, há cerca de um mês, sobre alguns registros de casos de alergia, o que deve despertar a atenção dos pacientes em relação a algum histórico de alergia a outras vacinas ou a algum dos componentes.
— Em geral, é uma vacina segura, e os eventos adversos são aqueles habituais para as vacinas com essas características de vírus atenuado. Então, eventualmente, as vacinas também podem dar reações mais tardias por essa característica. Em geral, até 15 dias depois, um quadro de febre, mal-estar, dor no corpo, pode acontecer também, e esses sintomas mais tardios podem persistir, em geral, entre dois e quatro dias — afirma.
Por que é importante se vacinar?
A vacina é mais uma ferramenta disponível no combate à dengue, especialmente quando as estratégias utilizadas até o momento – e há décadas – podem ter contribuído, mas não conseguiram controlar a doença, que nunca teve números tão importantes como agora, frisa Cunha.
— A vacina se mostrou bastante eficaz, não só em evitar a doença, mas, principalmente, ela tem uma eficácia protetora mais alta ainda para as formas graves de dengue, o que incluiria diminuir a hospitalização e os óbitos — explica.
Além da vacina, é preciso continuar, o máximo possível, controlando o vetor de transmissão (o mosquito Aedes aegypti). O médico também ressalta que há outra vacina, do Instituto Butantan, em fase avançada de pesquisa, que pode vir a contribuir no combate.
Quantos sorotipos de dengue circulam no RS?
Atualmente, circulam no RS os sorotipos DENV1 e DENV2. Conforme SES, o sorotipo DENV1 é predominante na maioria dos municípios embora o DENV2 tenha se distribuído por mais municípios do que em relação a 2023. Ano passado, tínhamos apenas 19 com DENV2. Atualmente, são 55. Entre eles: Porto Alegre, Novo Hamburgo, Gravataí e Torres.
A vacina Qdenga é eficaz para todos os sorotipos de dengue?
Conforme o Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e médico pediatra, Juarez Cunha, a resposta da Qdenga é semelhante para os sorotipos que circulam no RS, mas para a DENV2 é um pouco melhor, pois a estrutura da vacina foi construída em cima desse "esqueleto". O médico destaca, no entanto, que a vacina também é eficaz contra o sorotipo DENV1.