Estudo aponta que as taxas de sobrepeso estão crescendo em todo o mundo, com destaque para a América Latina. Estimativas de 2020 indicavam que 14% da população mundial vivia com obesidade. A previsão é que, em 2035, esse índice seja de 24%, incluindo crianças, adolescentes e adultos.
— É importante encontrar estratégias nutricionais e farmacológicas para mitigar o problema, mas será que isso é o suficiente? Sabemos que o impacto de fatores socioeconômicos e ambientais se sobrepõe a quaisquer outros que influenciam a ocorrência da obesidade, incluindo componentes genéticos ou tentativas de imputar ao indivíduo a culpa de ser obeso— afirma Marcelo Mori, integrante do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Mori é um dos autores de um artigo publicado nesta segunda-feira (4) na revista Nature Metabolism, que aponta a necessidade de as iniciativas destinadas a compreender a obesidade envolverem abordagens multidisciplinares e globais. Além de Mori, o estudo contou com a contribuição de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidad Nacional Autónoma de México (Unam).
No trabalho, são elencados oito determinantes principais – ambiente físico, exposição alimentar, interesses econômicos e políticos, iniquidade social, limitação do acesso ao conhecimento científico, cultura, comportamento contextual e genética – para explicar o crescimento da obesidade na América Latina e para orientar a construção de políticas e estratégias públicas mais eficazes.
— Elencamos aspectos cujos efeitos no ganho de peso se sobrepõem, ressaltando a ideia de olhar para o problema com mais cuidado e de forma mais ampla, interferindo na questão a partir de soluções mais contextualizadas. São mudanças no estilo de vida? São, mas elas precisam ser especialmente baseadas em alterações na comunidade e no ambiente, não atribuindo exclusivamente ao indivíduo tal obrigação — acrescenta o pesquisador.
Ainda, ele afirma que há diferenças regionais relacionadas com questões socioeconômicas e culturais que podem impactar na epidemia da obesidade. Isso faz com que não exista uma solução única para o problema, garante o pesquisador.
De acordo com o estudo, em décadas passadas foram registradas taxas mais elevadas de obesidade em crianças e adultos de países desenvolvidos na comparação com países em desenvolvimento. No entanto, ao comparar as tendências mais recentes na prevalência da obesidade, os dados têm mostrado de forma consistente aumentos mais acentuados nos países em desenvolvimento.
Conforme dados de pesquisas nacionais, uma grande proporção da população latino-americana tem sobrepeso ou obesidade: 75% dos adultos no México, 74% no Chile, 68% na Argentina, 57% na Colômbia e 55% no Brasil. Entre crianças e adolescentes, as taxas de sobrepeso e obesidade também são altas: 53% no Chile, 41% na Argentina, 39% no México, 30% no Brasil e 22% na Colômbia.
— Os países de renda média e baixa, como é o caso da maioria dos países da América Latina, em menos de 50 anos saíram de uma realidade com altas taxas de desnutrição para um crescimento acelerado da obesidade. Portanto, é possível que essa rápida transição da carência alimentar e desnutrição para a abundância de alimentos ultraprocessados e hipercalóricos seja um aspecto relevante na indução de uma herança epigenética, contribuindo para as altas taxas recentes de obesidade, sobretudo em crianças — avalia.
Com isso, de acordo com os pesquisadores, caminhos preventivos e terapêuticos contra a obesidade que têm como base ações coletivas ganham luz. Uma solução indicada no artigo é o incentivo a políticas que facilitem a alimentação tradicional e regulem os alimentos ultraprocessados – que têm maior densidade calórica e são menos nutritivos.