O atendimento a pacientes nos hospitais administrados pela Fundação Universitária de Cardiologia (FUC) não será afetado pelo processo de recuperação judicial solicitado pela entidade nesta segunda-feira (20). A afirmação é de Oswaldo Luis Balparda, superintendente executivo da FUC, em entrevista a GZH.
— A recuperação judicial se deu justamente para a manutenção das operações de todas as unidades: significa que nenhum hospital será fechado ou terá sua produção atual diminuída — assegura.
A FUC informou ter entrado com pedido de recuperação judicial junto à Vara Regional Empresarial de Porto Alegre. Essa solicitação é um dispositivo legal utilizado para evitar a falência de uma empresa ou organização. O processo permite a suspensão e renegociação de parte das dívidas, com o objetivo de evitar o encerramento das atividades, demissões e falta de pagamentos. O procedimento deve ser aprovado pela Justiça.
— Isso nos dará fôlego para voltar a trabalhar dia a dia, mês a mês, com outra perspectiva econômica, sem o ônus daquilo que está no passado, pelo menos não neste primeiro momento. A medida vem para preservar a condição de trabalho, de operação, de prestação de serviço das seis unidades — acrescenta Balparda.
“Fazer mais com menos” no Cardiologia
Na semana passada, a instituição demitiu 20% dos trabalhadores do Instituto de Cardiologia (IC) de Porto Alegre. Segundo o superintendente, três motivos farão com que o centro não tenha a quantidade de atendimentos reduzida. O instituto trabalhará “com processos assistenciais mais otimizados, sempre focados na necessidade do paciente, mas de forma mais efetiva”.
Além disso, se necessário por conta da demanda, o superintendente afirma que contratações pontuais serão feitas. Por fim, ele acrescenta que hospital tinha “uma capacidade instalada superior à necessidade de produção”:
— De forma mais clara: havia mais gente do que o necessário. Estamos iniciando toda uma reestruturação interna dos nossos processos com o objetivo de “fazer mais com menos” — resume o superintendente.
Antes das demissões, a folha mensal do IC era de R$ 6,8 milhões; com os desligamentos deve ficar em torno de R$ 5,1 milhões. O superintendente diz que os pagamentos dos profissionais demitidos estão sujeitos à recuperação judicial. Se o processo for aprovado pela Justiça, o grupo desligado terá prioridade no recebimento.
Havia mais gente do que o necessário.
OSWALDO LUIS BALPARDA
Superintendente executivo da Fundação Universitária de Cardiologia
— Espero sinceramente que a gente consiga fazer todos os pagamentos antes de um ano, que é o prazo legal que temos na recuperação judicial — acrescenta.
O tamanho da dívida
O pedido de recuperação judicial faz referência a uma dívida de R$ 233,7 milhões. Segundo o escritório MSC Advogados, que está à frente do processo, o endividamento total da FUC é de cerca de R$ 343 milhões.
Do montante, R$ 63 milhões são débitos com funcionários e prestadores de serviço. Outros R$ 65 milhões estão relacionados a impostos em atraso e R$ 215 milhões somam dívidas de fornecedores e instituições financeiras. O superintendente foi contratado em agosto após a direção da FUC decidir que precisava “profissionalizar a gestão”.
— É uma situação bastante grave. No início, a ideia não era chegar a uma recuperação judicial. Tentamos fazer com que os entes públicos colocassem recursos em um volume superior, mas não tivemos sucesso. Chegamos a uma situação econômica que estava muito difícil garantir a continuidade da prestação de serviços, de uma operação adequada — pontua.
A direção da FUC diz acreditar em uma decisão positiva ao pedido de recuperação judicial, o que pode ocorrer ainda nesta semana. Não há, porém, um prazo para manifestação da Justiça sobre o tema. Se for favorável à solicitação, a fundação tem 60 dias para apresentar um plano de recuperação, que deve indicar os meios para que isso ocorra e a forma de pagamento das dívidas.