A população transexual do Rio Grande do Sul pode contar, a partir de agora, com mais um serviço de saúde para a cirurgia de redesignação sexual. O Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), está habilitado na Atenção Especializada no Processo Transexualizador, na modalidade hospitalar, junto ao Ministério da Saúde. A medida oferece a oportunidade de realizar cirurgias para afirmar a identidade de gênero desses pacientes.
Os procedimentos podem incluir a construção de órgãos genitais ou a remoção de órgãos acessórios, como testículos, mamas, útero e ovários. Apenas uma instituição de saúde do Estado — o Hospital de Clínicas, em Porto Alegre — estava habilitada a realizar as cirurgias até então.
— A solicitação foi muito suada, muito desgastante, mas a gente vê com bons olhos, porque temos uma população no Brasil de 2,9 milhões de pessoas acima de 18 anos que se declaram transexuais. E é um número subnotificado. Para a gente ter uma melhora na qualidade de vida das pessoas trans, esse trabalho que a gente vai fazer vai ajudar muito — afirma Tânia Fonseca, obstetra, chefe da Unidade da Mulher do HU-Furg e responsável pelo novo serviço.
Agora, a instituição espera ajudar a desafogar a fila de espera dos procedimentos cirúrgicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul.
— O Hospital Universitário vem para tentar reduzir essa fila de demanda reprimida de pacientes aptos à realização da cirurgia — pontua.
O HU-Furg tentava garantir a habilitação há seis anos. A instituição chegou a promover capacitações à época, mas enfrentou dificuldades no credenciamento, assim como outros hospitais brasileiros. Em junho deste ano, a portaria com a autorização foi publicada.
Em relação à espera para a cirurgia de redesignação sexual no Hospital de Clínicas, a instituição informa que, para ingressar na fila, o paciente passa por acompanhamento de dois anos no Programa Transdisciplinar de Identidade de Gênero. Dos pacientes que já fizeram esses dois anos de acompanhamento, há 28 mulheres e 12 homens transexuais aguardando as cirurgias correspondentes. Além disso, há 58 mulheres e 35 homens transexuais em acompanhamento no programa.
A partir de outubro
A instituição de Rio Grande ainda não realizou nenhuma cirurgia de redesignação sexual. O serviço está em fase de organização de fluxos. Profissionais da equipe, como psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras, estão passando por novas capacitações e realizando visitas técnicas ao Hospital de Clínicas.
Os responsáveis pelo serviço esperam dar início aos procedimentos em outubro. No auge de seu funcionamento, o hospital estima realizar duas cirurgias por mês, conforme Tânia. É o mesmo número mensal de procedimentos feitos no hospital de Porto Alegre. A regulação do serviço ainda está em discussão, considerando que existe uma série de regras para o indivíduo trans se submeter ao procedimento.
Inicialmente, em função do número reduzido de especialidades na instituição, serão realizadas a redesignação sexual do sexo masculino — retirada do pênis e do testículo e criação de uma neovagina — e a mastectomia simples para homens trans que desejam retirar o seio.
Além disso, o hospital dispõe de poucos profissionais no momento. Ainda que a equipe seja ampla, incluindo também profissionais como endocrinologistas, eles são responsáveis pelo atendimento pré-cirúrgico. Já o procedimento cirúrgico transexualizador conta com um urologista, que faz a redesignação sexual do sexo masculino; e uma ginecologista, responsável pela retirada do seio.
Faltam ainda profissionais para desenvolver uma maior variedade de procedimentos, como um cirurgião plástico para colocar a prótese nas mulheres trans — o que também faz parte do rol de cirurgias de redesignação sexual. À medida que mais profissionais sejam agregados, a instituição deve ampliar a lista de procedimentos cirúrgicos oferecidos.