Um programa de exercícios que pode ser feito em casa, de forma segura, por pacientes que tiveram a forma grave da covid-19 e, mesmo após a alta hospitalar, apresentam sintomas persistentes capaz de melhorar a condição dos pacientes . Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) publicaram nesta quarta-feira (10) no British Journal of Sports Medicine dados de estudo que mostram como o protocolo é capaz de melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade, além de reduzir o número total de sintomas persistentes, como fraqueza muscular e mialgia.
A covid longa, também conhecida como síndrome pós-covid-19, é uma condição que afeta mais de 40% dos pacientes contaminados pelo vírus SARS-CoV-2 e está associada a sintomas persistentes (que duram mais de 12 semanas). Na lista estão baixa aptidão cardiorrespiratória, capacidade funcional reduzida, menor massa muscular, ansiedade e depressão, entre outros. Evidências científicas sugerem que os mais afetados são aqueles que tiveram a forma mais grave da doença.
Levando em conta o potencial terapêutico da atividade física em casos de distúrbios cardiovasculares, metabólicos, mentais e respiratórios, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP criaram um programa remoto de exercícios para diminuir o impacto desses sintomas em 50 pacientes com mais de 45 anos que apresentaram a forma grave da doença e que haviam tido alta da unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas de São Paulo três e seis meses antes.
Durante 16 semanas, em três sessões semanais de 60 a 80 minutos, os pacientes realizavam exercícios focados na recuperação de sua capacidade funcional. A complexidade, duração e intensidade dos exercícios obedeciam ao grau de comprometimento individual de cada paciente, medido pela escala funcional pós-covid.
Todos os participantes do estudo passaram por avaliações cardiorrespiratórias e funcionais e receberam material de apoio, como folhetos que incluíam instruções de como realizar os exercícios, cuidados a serem tomados e indicações de implementos a serem utilizados, como cadeira e balde com água para gerar resistência.
Ao final, a qualidade de vida relacionada à saúde foi avaliada por meio do “Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey”, um questionário científico padrão que mensura função física, dor corporal, saúde geral, vitalidade, função social, função saúde emocional e mental. Os resultados foram animadores: o programa físico melhorou consideravelmente todos os parâmetros analisados.
— Observamos ainda melhora em parâmetros cardiorrespiratórios, como o consumo de oxigênio e a recuperação da frequência cardíaca, além de diminuição de gordura corporal e do número total de sintomas persistentes no pós-covid, com destaque para mialgia, fraqueza muscular e fadiga — relata Hamilton Roschel, professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da Faculdade de Medicina da USP, que coordenou o estudo.
— Ou seja, além de ser um programa seguro, característica especialmente importante quando se realiza intervenções remotas, ele foi eficaz em seu propósito— complementa Roschel.
Impactos de saúde e econômicos
Os pesquisadores envolvidos acreditam que o modelo possa ser aplicado em larga escala, trazendo benefícios à saúde pública, com economia tanto para o sistema previdenciário quanto para o de saúde, já que a funcionalidade garante autonomia e facilita, por exemplo, o retorno ao trabalho após a doença. Porém, testes e adaptações seriam necessários. Entre as dificuldades a serem contornadas estariam, por exemplo, o baixo conhecimento da população sobre tecnologia, a falta de acesso à internet e a dificuldade de monitoramento.
— Sabemos que o exercício tem um potencial terapêutico importante no tratamento das consequências da covid-19. Como as UBS (Unidades Básicas de Saúde) infelizmente não dispõem de profissionais de educação física e fisioterapeutas em número suficiente para lidar com esses pacientes, modelos alternativos de entrega de programas dirigidos a eles se fazem necessários —alerta Roschel.