Encantado, no Vale do Taquari, concentra 57,9% dos casos de dengue confirmados neste ano no Estado. Conforme a atualização do painel da Secretaria Estadual de Saúde (SES) na manhã desta segunda-feira (6), o município tem 259 dos 447 registros do Rio Grande do Sul em 2023.
A diferença é grande em comparação com as outras cidades com mais confirmações. Ijuí, que ocupa o segundo lugar, tem 20 registros confirmados e 19 em investigação. Na sequência, está Ivoti, com 15 confirmados e cinco suspeitos, e Porto Alegre, com 13 registros positivos e 114 investigados.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Encantado, o primeiro caso na região foi identificado no dia 23 de janeiro. Desde então, houve uma intensificação nos trabalhos de varredura, e eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, com aplicação do produto específico disponibilizado pelo Estado.
— Criamos uma sala de crise, onde concentramos todas as informações, organizamos as ações, planejamento de estratégia e capacitações com as equipes que estão na rua — explica a secretária municipal de saúde Clarissa da Rosa Pretto Scatola.
Para a titular da pasta, a maior dificuldade é a eliminação de criadouros, como tonéis onde a água da chuva fica acumulada. Nesses casos, é dado um prazo de 24 horas para que o responsável tome providências e, se necessário, é aplicada uma multa — até o momento, essa autuação não precisou ser realizada.
A secretária ainda salienta que não há mais pacientes hospitalizados em razão de dengue no município. Neste ano, não há registro de óbitos pela doença no Estado. A prefeitura está atuando junto com o governo estadual para reforçar as ações preventivas. Segundo o diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), Marcelo Vallandro, a força-tarefa já constatou situações que puderam ser amenizadas.
— É um surto bastante importante. Em Porto Alegre, tem casos de pessoas que estiveram em Encantado — afirma.
Este relato também é sinalizado pela prefeitura da Capital. Dados parciais apontam que, até 27 de fevereiro, três dos nove importados de Porto Alegre foram de pacientes que estiveram em Encantado.
O fato de o município do Vale do Taquari ser uma rota de turismo também gera preocupação. Vallandro orienta que a população fique atenta para focos de água parada e também faça uso de repelentes e inseticidas. Além disso, é essencial que se preste atenção para o início de sintomas, como febre, náusea, dores no corpo, atrás dos olhos e musculares. Se observados, o paciente deve buscar atendimento em uma unidade de saúde imediatamente.
Dengue tipo 2 gera alerta
Autoridades e especialistas alertam para o registro de novos casos da dengue tipo 2 no Rio Grande do Sul. Na quinta-feira (2), Porto Alegre confirmou o primeiro diagnóstico do ano desse tipo de vírus no Estado — foi no bairro Vila São José, na Zona Leste. Em 2022, o novo sorotipo foi encontrado em Condor (seis casos), Novo Hamburgo (5), Canoas (3), Sapucaia do Sul (1), Santa Maria (1) e Erechim (1), segundo a SES.
Os dois sorotipos da dengue têm transmissão e sintomas similares, mas o segundo pode desenvolver quadros graves da doença, principalmente em pessoas que já foram contaminadas por outro tipo. Em 2022, o Estado teve 66.731 casos de dengue tipo 1 e 66 óbitos pela doença.
O diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) Marcelo Vallandro explica que quem já teve o tipo 1, por exemplo, já adquire imunidade para esta variação do vírus, no entanto ainda pode se contaminar com o tipo 2, correndo o risco de ter uma infecção mais grave.
Diferente de 2022, quando houve uma explosão de casos, 2023 não está tendo uma transmissão alta, o que não significa que os cuidados possam ser deixados de lado.
— Um fator que pode explicar é que estamos reforçando os riscos desde o ano passado. Quanto menos mosquitos tivermos, menos chance de ele achar uma pessoa doente e passar para outra. Então, é fundamental as medidas para evitar criadouros — frisa Vallandro.
Se comparados os dados parciais que indicam os casos confirmados a cada semana epidemiológica, é possível perceber que 2023 está com menos registros em relação ao mesmo período do ano passado. Na semana 8, por exemplo, foram 624 confirmações em 2022, contra 132 em 2023. Já na semana 9, também há uma diferença expressiva. Enquanto que em 2022 a curva passou a subir significativamente com 1.593 confirmações, neste ano, foram 41 casos constatados.
Vallandro salienta que as informações de 2023 ainda podem ser atualizadas, conforme os resultados dos testes forem sendo encaminhados, mas ainda assim é possível fazer esta comparação.
A dengue é um arbovírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. O mais comum no Brasil é o do tipo 1, ainda que os outros três já tenham sido registrados no país. Segundo Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, o aparecimento da dengue do tipo 2 no Estado é uma situação similar à disseminação de variantes observada com a Sars-CoV-2.