Hospitais de Porto Alegre retomaram sua capacidade de realizar cirurgias eletivas a níveis pré-pandemia, disseram diretores de unidades de saúde consultados por GZH. O desafio agora é promover mutirões para “vencer o atraso” deixado pelo período em que as atenções ficaram voltadas à covid-19 e assim reduzir a fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS).
Conforme números do Datasus, plataforma de dados do Ministério da Saúde, um total de 298 mil procedimentos cirúrgicos foi realizado na média e alta complexidade do SUS no Rio Grande do Sul em 2022, número que retoma índices de 2017 e 2018. No início da pandemia, a oferta de cirurgias chegou a 263 mil no Estado, em 2020.
Os administradores ouvidos pela reportagem aguardam reuniões com gestores públicos para contratualizar a ampliação desses atendimentos, já que há limitações de estrutura e recursos humanos. Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou que o Rio Grande do Sul receberá R$ 32 milhões para mutirões de cirurgias eletivas.
Foram questionados a respeito da situação da fila para cirurgias eletivas representantes do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), da Santa Casa de Misericórdia da Capital, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e o Hospital São Lucas da PUCRS.
Diretores de hospitais relataram esperas maiores em procedimentos cirúrgicos de áreas como oftalmologia, urologia e ortopedia. Só no âmbito dos quatro hospitais do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) sediados em Porto Alegre, hoje, 1,48 mil pacientes aguardam por cirurgias eletivas, um total de 192 para procedimentos oftalmológicos, 177 em urologia e 157 em ginecologia, conforme levantamento interno do grupo.
— Já estamos fazendo mutirões e vencemos uma grande parte do atraso ao operar nos finais de semana, aumentar horários de funcionamento do bloco cirúrgico e organizar a sequência das cirurgias para otimizar o rendimento. Voltamos para o nível de trabalho da pré-pandemia e agora temos que fazer um esforço para recuperar esse represamento — diz o médico Francisco Paz, diretor técnico do GHC.
A rede retomou no ano passado uma capacidade de atendimento mensal na casa das 1,2 mil cirurgias, próxima da média de 1,4 mil de 2019. No início da pandemia, o número chegou a atingir a faixa de apenas 500 cirurgias mensais.
A Santa Casa de Misericórdia, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o Hospital São Lucas da PUCRS informaram não dispor de dados consolidados sobre a espera por cirurgias eletivas em suas unidades.
Mutirões são importantes, mas não definitivos
Um plano para a realização de mais mutirões será coordenado pelo governo estadual após o Ministério da Saúde criar um programa para reduzir a fila de consultas, exames e cirurgias eletivas no SUS, depois de um represamento causado pela pandemia. Os R$ 32 milhões destinados ao Rio Grande do Sul no programa, são valor que “ajuda, mas não resolve o problema” das filas, na avaliação da secretária estadual de saúde, Arita Bergman. O Estado tem até abril para enviar um planejamento para o governo federal.
— Os mutirões são importantes para tentar diminuir a fila de espera, mas também é preciso buscar soluções definitivas para aumentar a capacidade instalada dos hospitais — diz o cirurgião Brasil Silva Neto, diretor médico do HCPA.
Na avaliação dele, os esforços para a diminuição da fila devem seguir para além de 2023 em função da alta demanda reprimida e do persistente aumento no contingente de pacientes em busca de tratamento. Silva Neto explica que o funcionamento pleno do centro cirúrgico do HCPA foi retomado em julho do ano passado e que um represamento causado pela falta de capacidade hospitalar, como houve nos primeiros anos da pandemia, deixou de existir. A instituição ainda analisa qual foi o incremento na fila de pacientes que ficou de 2022.
Além de GHC e HCPA, os hospitais São Lucas da PUCRS e Santa Casa da Misericórdia afirmaram à GZH que aguardam orientações do poder público e disseram estar à disposição para integrar o Programa Nacional de Redução de Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas do governo federal no Estado.
"Como forma de tentar reduzir a fila de cirurgias represadas, anualmente a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre realiza diversos mutirões em diferentes especialidades. Em 2022, foram pelo menos 15 mutirões entre áreas como urologia, cirurgia geral, cirurgia oncológica, cirurgia torácica e cirurgia plástica. O planejamento desses mutirões é realizado pelas especialidades, sempre considerando a complexidade dos casos e o tempo de espera de cada paciente", disse a Santa Casa em nota.