O Ministério Público Federal (MPF) enviou ofícios pedindo esclarecimentos ao Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) sobre problemas que motivaram a realização de uma greve por parte dos residentes da área de cirurgia geral. Os médicos em formação mantiveram paralisação por dois dias e a encerraram nesta quarta-feira (23) em Pelotas, no Sul do RS.
A principal demanda é pelo aumento na carga horária destinada à participação em cirurgias, por parte dos residentes. Segundo relato de uma pessoa que faz residência no local, o problema se agravou a partir de setembro, após a descontinuação da formação em anestesiologia no hospital e afastamentos por questões de saúde. Com isso, cerca de metade do número de anestesistas previsto estaria, de fato, atuando neste momento.
A falta desses profissionais tem restringido a realização de anestesias, o que tem inviabilizado procedimentos e aumentado a lista de espera por eles no estabelecimento. A atividade prática é necessária para que o médico conclua uma residência.
Os residentes também reclamam de falta de aulas teóricas e discussão de casos em sua formação, além de problemas de insalubridade nos quartos disponibilizados para os plantonistas e dificuldade de acesso a refeições em períodos noturnos, em feriados e finais de semana.
Apesar de relatarem que ainda não houve acordo junto ao hospital, decidiram encerrar a paralisação, por medo de terem suas bolsas suspensas. Atualmente, há 13 residentes na área de cirurgia geral.
Os pedidos de esclarecimentos foram expedidos pelo 18º ofício do Núcleo de Controle da Administração, comandado pelo procurador Rodrigo Valdez de Oliveira. Na semana passada, mais de uma reclamação foi recebida por Valdez especificamente sobre a área de cirurgia geral do hospital. Essa não foi, contudo, a primeira demanda recebida pelo titular do núcleo com relação à área médica da UFPel, o que lhe levou — além de pedir informações para a universidade e para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o hospital — a encaminhar uma cópia das reclamações para o Conselho Regional de Medicina (Cremers), para ciência.
Nessa terça-feira (22), ocorreu uma reunião entre o HE-UFPel, representantes dos residentes e entidades representativas da categoria. Conforme o coordenador da Comissão de Residência Médica (Coreme) do hospital, Daniel Brito de Araújo, algumas demandas foram atendidas: ficou definido um turno diário para o uso da sala de cirurgia pelos residentes e foram feitas melhorias nos quartos destinados a eles. Há um descontentamento, porém, com a maneira como as reivindicações foram conduzidas.
— Há duas semanas, tivemos uma reunião na qual surgiu essa demanda por mais cirurgias e ficou acertado que tomaríamos providências dentro do tempo em que a coisa pública funciona. Mas aí, de maneira unilateral e sem comunicar a Coreme, os residentes paralisaram. Solicitamos uma nova reunião e ficou definido que eles voltariam ao trabalho e, aí, resolveríamos algumas coisas — relata Araújo.
Com relação à falta de anestesistas, o hospital informou, em nota, que, de fato, houve uma diminuição na equipe por conta de uma exoneração e um afastamento. O HE-UFPel revela ter solicitado à Ebserh que realize um processo seletivo simplificado para recompor o quadro, o que deve ocorrer a partir de janeiro de 2023. “Até a realização deste, estamos otimizando a utilização das salas cirúrgicas, a fim de minimizar impactos tanto na assistência aos pacientes quanto na formação de nossos alunos.”
O caso também está sendo acompanhado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) – o diretor da entidade em Pelotas, Marcelo Sclowitz, participou da reunião. Em nota, o sindicato mencionou que os médicos em formação relataram “inúmeras falhas estruturais e organizacionais na instituição”. A entidade e afirmou que ofereceu assessoramento por parte de sua gerência jurídica e sua assessoria política. O Simers ainda apontou que as situações narradas são “insustentáveis e precisam ser modificadas com urgência”.