Um grupo de pesquisadores descobriu que um composto feito com cogumelos alucinógenos, chamada psilocibina, pode melhorar os sintomas de depressão grave por até 12 semanas. O estudo, que ainda está em fase clínica, foi testado em 233 pacientes de 10 países da Europa e América do Norte e precisará ser aplicado a um grupo maior de voluntários, com acompanhamento a longo prazo. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta quinta-feira (3) no periódico científico New England Journal of Medicine.
Para a realização do estudo, os voluntários, que tinham cerca de 40 anos e apresentavam um quadro de depressão grave há mais de um ano, foram divididos em três grupos. No primeiro, 79 participantes ingeriram 25 mg do composto à base de cogumelos alucinógenos. Já no segundo, 75 pessoas se submeteram à 10 mg de psilocibina. No último, outros 79 voluntários tomaram 1 mg da droga.
Além da ingestão da droga, todos participantes se submeteram à psicoterapia. Após o acompanhamento dos voluntários, os cientistas detectaram que nos grupos que ingeriram 10 mg e 1 mg do composto não foram observadas diminuições consideráveis dos sintomas da doença. Já entre as 79 pessoas que tomaram 25 mg de psilocibina, foi constatado que uma em cada três não estavam mais deprimidas e uma em cada cinco tiveram uma melhora significativa em 12 semanas.
De acordo com o estudo, a ingestão de 25 mg da droga deixou os voluntários em um estado de sonho, o que fez com que a terapia psicológica fosse mais bem sucedida e a melhora fosse observada em poucas semanas. No entanto, os pesquisadores alertam que os efeitos do composto a curto prazo devem ser observados e que o apoio de profissionais ligados à saúde mental nesses casos é ainda mais indispensável.
Efeito da droga
Após os participantes ingerirem o composto, eles foram levados até um quarto onde ficaram deitados em uma cama. Com os efeitos da substância no organismo, eles tiveram sonhos, como se estivessem uma "viagem psicodélica", que duravam cerca de seis a oito horas.
A pesquisa apontou que apesar dos efeitos positivos desses sonhos, como deixar os voluntários mais flexíveis e suscetíveis a psicoterapia, também pode ter consequências negativas, como nos casos em que são acessadas memórias traumáticas e há reconexão com mágoas e outros sentimentos ruins.
Durante todo processo, um terapeuta ficou à disposição dos participantes. Além disso, uma semana depois do consumo do composto, os voluntários receberam apoio psicológico para que pudessem contar suas experiências.
A partir dos relatos, os cientistas descobriram que algumas pessoas de todos os grupos tiveram efeitos colaterais, como dores de cabeça, náuseas, cansaço extremo e pensamentos suicidas. Os pesquisadores já previam essas reações e irão trabalhar para que nos próximos experimentos consigam reduzi-las.
Expectativas
A pesquisa apontou que os efeitos de melhora nos sintomas da doença começam a desaparecer após 12 semanas, o que indica que novas doses deverão ser administradas. Contudo, os cientistas ainda precisam estudar qual a quantidade necessária para não sobrecarregar os organismos dos pacientes.
Os pesquisadores acreditam que se conseguirem realizar novas pesquisas na área, a psilocibina pode ser uma alternativa aos antidepressivos. A expectativa da equipe envolvida no estudo é de que a droga seja autorizada para uso medicinal em no máximo três anos.