O ruído pode provocar riso e se tornar motivo de piadas e apelidos. Trata-se de muito mais do que um incômodo para quem dorme ao lado. Ronco não é doença, mas um sintoma provocado por múltiplos fatores — e não deve ser ignorado.
Perda de sobrepeso e prática regular de exercícios físicos podem melhorar ou até resolver o problema em alguns casos. De acordo com a otorrinolaringologista Bruna Machado Kobe, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), quem consegue eliminar cerca de 10% do peso total pode melhorar em até 40% o quadro, passando a roncar menos.
— Tem gente que cura o ronco só por emagrecer — comenta Bruna.
Evitar o consumo de bebida alcoólica e não realizar fartas refeições à noite também são práticas recomendadas. Mas se uma pessoa de peso adequado e bons hábitos regulares continua roncando, é preciso buscar orientação especializada para investigar as causas e adotar o tratamento adequado.
— O ronco não é normal. Ponto-final. Tem que ser investigado. Está relacionado a hipertensão, arritmia cardíaca, sonolência diurna, déficit de atenção. É um distúrbio do sono, a pequena pontinha do iceberg que está para fora — explica Rafael Malinsky, otorrinolaringologista e médico do sono do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Moinhos de Vento e membro do Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico-Facial.
Bruna detalha que o ronco preocupante é o ronco com apneia, que aumenta o risco para infarto e acidente vascular cerebral, entre outras consequências já mencionadas. A apneia é uma pausa na respiração enquanto se dorme.
— Na primeira consulta, o paciente roncador vem sozinho. Peço que, na segunda, ele venha com quem dorme do lado, que é quem vai saber responder — conta a médica.
O paciente com apneia costuma ter um sono não reparador, acorda se sentindo cansado e sofre de sonolência diurna. Se está em uma sala de espera aguardando sua vez de ser chamado, pode cochilar até mesmo de pé. O exame que comprova a presença de apneia é a polissonografia, que exige o pernoite em uma clínica, onde o paciente é monitorado enquanto dorme.
Roncar é um problema mais prevalente entre os homens, mas, a partir da menopausa, por consequência das alterações hormonais, mulheres padecem do distúrbio na mesma medida. O ronco também pode ser observado na infância, momento da vida em que tem causas diferentes, que também exigem atenção.
Malinky ressalta que o tratamento para o ronco pode demandar uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais como fonoaudiólogo, cirurgião-dentista e fisioterapeuta.
— A adesão ao tratamento, seja qual for, precisa do paciente. Uma coisa é o médico indicar, outra é o paciente fazer — frisa o otorrinolaringologista do Hospital Moinhos de Vento.
Possíveis causas para o ronco
- Sobrepeso ou obesidade
- Desvio de septo nasal
- Rinites
- Rinossinusite
- Pólipos
- Retrognatismo (queixo mais para trás)
- Hipertrofia de amígdalas
- Hipertrofia de cornetos (inchamento da mucosa do nariz)
- Uso de certos medicamentos indutores do sono
- Apneia do sono (pausas na respiração)