A continuidade da proibição para importação, a propaganda e a venda de cigarros eletrônicos no Brasil, definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta sexta-feira (6), reforça, uma vez mais, a importância da divulgação de informações a respeito dos malefícios que os dispositivos podem provocar.
Não se trata de inalar um vapor inofensivo para adotar um novo hábitos do grupo de amigos ou na tentativa de reduzir e abandonar o consumo de cigarros convencionais. A degradação dos componentes dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), como propilenoglicol e glicerol, gera substâncias tóxicas, que não foram feitas para inalação, de acordo com a pneumologista Liana Ferreira Corrêa, que atua nos hospitais São Lucas e Mãe de Deus, em Porto Alegre:
— Temos visto vários casos com efeitos adversos: tosse seca, boca seca, garganta irritada, náusea. A doença do cigarro eletrônico se parece muito com a covid-19. Isso a curto prazo. A longo prazo, ainda não há grandes estudos que mostrem isso. Sabemos do dano pulmonar, mas não se consegue dizer se vai provocar câncer. Não temos embasamento teórico para isso até o momento. Demoramos décadas para saber o que cigarro tradicional estava relacionado a câncer.
Nos quadros leves, o paciente pode ser tratado a partir das orientações do especialista em consultório. Quando a situação se agrava, pode exigir internação hospitalar, onde receberá suporte de oxigênio e, se necessário, corticoides.
— Tivemos casos bem graves de doença no pulmão com cigarros associados com cannabis (maconha) — diz Liana.
A pneumologista também cita situações em que o atomizador dos DEFs explode, podendo provocar queimaduras na boca ou na coxa, para quem o guarda no bolso da calça.
Conforme a Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB), a grande maioria dos DEFs contém alta concentração de nicotina. Há aqueles que, apesar de anunciarem a ausência da substância, contêm o produto mesmo assim. É a nicotina que provoca o vício. Os sabores, dos mais variados — torta de limão, algodão doce, bolo de aniversário — não aumentam o potencial de adição, segundo Liana, servindo mais como atrativo aos consumidores mais jovens. O uso de DEFs por não fumantes, destaca a AMB em nota, aumenta de duas a três vezes o risco da migração para cigarros comuns, especialmente por parte de adolescentes e jovens.
Para quem almeja largar o tabagismo, os DEFs não são recomendados. Livrar-se do cigarro demanda alterar costumes, e os DEFs, além da toxicidade, assemelham-se, inclusive, no gestual de levar o artefato até a boca. Muitos usuários, comenta Liana, acabam virando os chamados dual users (usam o cigarro convencional e o eletrônico).
— Para o paciente parar de fumar, temos que dar a ele uma mudança de hábito. Se ele associa o cigarro ao café, trocamos por um suco — exemplifica a médica.
Como funcionam os cigarros eletrônicos
- São aparelhos alimentados por bateria de lítio e um cartucho ou refil, que armazena o líquido. Esse aparelho tem um atomizador, que aquece e vaporiza a nicotina. O aparelho traz ainda um sensor, que é acionado no momento da tragada e ativa a bateria e a luz de LED.
- A temperatura de vaporização da resistência é de 350°C. Nos cigarros convencionais, essa temperatura chega a 850°C. Ao serem aquecidos, os dispositivos eletrônicos para fumar liberam um vapor líquido parecido com o do cigarro convencional.
- Os cigarros eletrônicos estão na quarta geração, com maior concentração de substâncias tóxicas. Existem ainda os cigarros de tabaco aquecido: dispositivos eletrônicos para aquecer um bastão ou uma cápsula de tabaco comprimido a uma temperatura de 330°C. Dessa forma, produzem um aerossol inalável.
Fonte: Agência Brasil