Diretor técnico do Hospital Universitário (HU) de Canoas, Paulo Nader concedeu entrevista para GZH antes da reunião que seria realizada na tarde desta sexta-feira (17) com o corpo clínico do complexo de saúde e o comitê de intervenção. O governo do Estado solicitou para a gestão municipal do município, na quarta-feira (15), a abertura em caráter emergencial de 30 novos leitos clínicos, para adultos, com o objetivo de amenizar o problema da alta demanda das emergências da Região Metropolitana, especialmente durante o período do inverno. Mais 16 leitos destinados para a retaguarda da pediatria deverão ser abertos nos próximos dias.
— A gente concordou em oferecer esses leitos. Estamos estudando os fluxos de como fazer. Como estávamos com deficiência de vários insumos, estamos repondo isso. Para esses 30 leitos, temos área física, mas precisamos colocar cama, lençol e mais médicos. Vai levar de uma semana a dez dias até que consigamos abrir esses leitos — estima o diretor Paulo Nader, salientando que a situação da instituição hospitalar também foi apresentada na reunião com a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann.
Uma das primeiras medidas adotadas por Nader foi criar um comitê de crise, que se reúne de duas a três vezes por semana. Participam dos encontros médicos, integrantes do comitê de intervenção, representantes da farmácia e fornecedores. Nas reuniões, são discutidas medidas para reposição dos insumos e medicamentos em falta.
Em relação a outros 16 leitos que deverão ser oferecidos para a retaguarda da pediatria, o médico contextualiza a situação:
— Esses 16 leitos já existiam. Eram da emergência pediátrica e, por falta de pediatras e insumos, fecharam. Nossa ideia é justamente começar aos poucos a abrir esses 16 leitos de referência para UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Hoje, sai o edital de contratação de novos pediatras com uma proposta salarial de mercado. Serão pessoas contratadas em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e definitivamente. Teremos esses 16 leitos como retaguarda para auxiliar na rede de Canoas. A nossa estimativa é de que em duas semanas tenhamos também aberto o pronto-atendimento com retaguarda — acrescenta.
Um dos maiores desafios será regularizar os estoques, pois ocorrem muitos relatos de falta de medicamentos, insumos e materiais de higiene na instituição.
— Essa é a estratégia: saber exatamente qual é o consumo diário de medicações e outros insumos. A gente trabalha com estoque de 15 a 30 dias. Claro que algumas coisas ainda estão chegando e não vai dar para os 15 dias, mas já estamos comprando mais. Temos, aproximadamente, R$ 5 milhões destinados a compras de várias medicações e outros insumos — afirma.
Questionado sobre os problemas no setor de pediatria e da emergência pediátrica, o diretor garantiu que a “pediatria está funcionando a pleno e lotada.”
— O que não existe mesmo é a emergência pediátrica, que está fechada, por deficiências que estamos suprindo, mas a pediatria está funcionando.
Segundo compartilha o diretor, a UTI pediátrica oferece 10 leitos, que estão sempre ocupados, e a UTI Neonatal é a segunda maior maternidade do Rio Grande do Sul. O setor de internação pediátrica possui hoje, aproximadamente, 33 leitos.
Problemas
Apesar das ações recentes do comitê de intervenção, os problemas persistem no HU. Conforme matéria de GZH do último dia 15, ao menos 15 médicas e 120 enfermeiras e técnicas de enfermagem estão sem receber os vencimentos desde o começo de 2021. São funcionárias contratadas do Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp), antiga empresa que fazia a gestão da Saúde no município.
Por causa de uma série de irregularidades e denúncias, o Gamp foi afastado em definitivo. A Fundação Educacional Alto Médio São Francisco (Funam) assumiu a gestão no final de janeiro. Após novas denúncias, a Justiça concedeu liminar em 27 de maio determinando intervenção na instituição. Desde então, um comitê de intervenção atua na gestão do HU. O comitê é composto por três pessoas: Juceila Dall’agnol de Lacerda (assessora superior do núcleo jurídico da prefeitura); Ana Macedo (secretária adjunta da Saúde) e Luís Davi Vicenzi (secretário da Fazenda).
Pedido da secretária
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) respondeu, por meio de nota, aos questionamentos de GZH sobre o que foi tratado durante a reunião desta semana com a gestão municipal de Canoas. Na ocasião, a secretária Arita Bergmann pediu a abertura dos 30 novos leitos clínicos. Confira alguns trechos das respostas:
"A reunião realizada na quarta-feira (15), entre o Estado e o município de Canoas, teve por objetivo a pactuação da retomada dos atendimentos no município, especialmente nas UTIs de Canoas e no atendimento da emergência e UTIs pediátricas do Hospital Universitário (HU). Foi pactuada ainda a retomada dos atendimentos à população de referência do município nas especialidades clínicas e cirúrgicas.
Uma ação importante foi a combinação do Estado e do município, que prevê a reabertura de um dos andares do HU para a criação de novos leitos clínicos que ficarão de referência para o Estado e serão regulados pela Central Estadual de Regulação. Com o objetivo de auxiliar hospitais e UPAS de Porto Alegre e Região Metropolitana num momento em que já observamos a superlotação destas estruturas.
O Estado está auxiliando o município para viabilizar e criar condições para reabrir essas estruturas. Devemos operacionalizar isso durante a próxima semana."