As denúncias relativas à precarização no atendimento realizado no Hospital Universitário (HU) de Canoas persistem ainda que a instituição esteja sob intervenção. Usuários reclamam da falta de medicamentos e até da ausência de produtos básicos de higiene, a exemplo do álcool em gel e panos para banho, impossibilitando a higiene de pacientes. Também faltam profissionais de vários setores e o pronto-atendimento pediátrico está suspenso.
Uma leitora que pediu para não ser identificada contou que está acompanhando um paciente idoso no hospital, mas falta todo o tipo de material. Segundo ela, não havia nesta semana medicamentos simples como Dipirona, utilizado em quadros de febre.
A balconista Raquel Soares, 25 anos, que tem uma filha bebê ainda internada na UTI pediátrica do Hospital Universitário há quase três meses, conta que os problemas não foram resolvidos desde que conversou com GZH em 23 de maio. Todos os insumos mais importantes para o tratamento da criança são comprados por ela.
— Não há papel higiênico, nem álcool ou sacos nas lixeiras. Não há gaze, nem extensores, produto que precisa ser trocado de três em três dias (utilizado na manutenção de acessos venosos). Também estou vendo os técnicos em enfermagem sumirem do hospital todo dia porque eles estão se demitindo.
Conforme denúncias feitas à reportagem, não foram depositados os valores do Fundo de Garantia do Trabalhador por Tempo de Serviço (FGTS) relativos aos meses de abril e maio. No momento, não há atrasos de salário.
Os problemas continuavam pelo menos até a noite desta sexta-feira (10). Produtos básicos como curativos, aventais, luvas e máscaras também inexistiam nos estoques. Para diminuir as falhas, a prefeitura de Canoas informou que está reabastecendo os estoques de medicamentos, como antibióticos, antitérmicos, anti-inflamatórios, broncodilatadores e antidiabéticos. Totalizando R$ 1,5 milhão, também foram adquiridos produtos como compressas, seringas, máscaras, rolos de pano para banho, agulhas, sacos de lixo e papel higiênico, entre outros.
Em nota, a prefeitura informa que os insumos estão sendo entregues. Não informa, entretanto, por quanto tempo os suprimentos serão suficientes para o abastecimento do hospital.
O pronto-atendimento pediátrico não está funcionando há pelo menos cinco dias por falta de médicos e não tem prazo para ser reaberto. Em vídeo divulgado na noite desta sexta-feira (10), o secretário da Saúde de Canoas, Aristeu Ismailow, reconheceu os problemas relacionados ao setor de pediatra. Na área, vários profissionais se demitiram nos últimos dias.
— Estamos constantemente buscando profissionais que queiram trabalhar no Município, inclusive no HU. O comitê interventor vai lançar, na próxima semana, um edital para contratação de pediatras — disse.
Ismailow ainda anunciou que a Pasta vai inaugurar na próxima terça-feira (14) o Centro de Atenção à Saúde da Criança (Rua Guilherme Schell, 6184), com seis pediatras e equipe de enfermagem, para atendimento nos dias da semana. A medida pretende diminuir a pressão sobre as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Canoas.
Além disso, a partir deste sábado (11) até o primeiro final de semana de agosto, uma unidade básica de saúde de cada região será aberta para realização de atendimentos a crianças.
Intervenção
Após o desligamento total do Gamp (Grupo de Apoio a Medicina Preventiva e a Saúde Pública) em razão de uma série de suspeitas de irregularidades e desvios de verbas, a Fundação Educacional Alto Médio São Francisco (Funam) assumiu a gestão no final de janeiro. Poucos meses depois começaram a surgir denúncias de falhas e irregularidades na gestão do hospital, e a Justiça concedeu liminar em 27 de maio determinando intervenção na instituição.
Com contrato vigente por pelo menos seis meses, a Funam negou qualquer irregularidade na administração do hospital. Desde a intervenção, o Município nomeou um comitê interventor.