Em meio ao aumento de casos de covid-19, o Rio Grande do Sul interrompeu a tendência de queda e apresenta leve aumento nas hospitalizações pela doença, mas ainda em patamares baixos em comparação ao histórico da pandemia, mostra análise de GZH nesta terça-feira (10) sobre estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS).
Especialistas entrevistados pela reportagem pontuam que o aumento na demanda por vagas em hospitais é uma “flutuação”, e não tendência sustentada de piora da covid. Com o grande número de pessoas já infectadas e a alta cobertura vacinal — quase 80% dos gaúchos tomaram duas doses e cerca de 50%, o reforço —, não é esperada grande piora da pandemia.
Dados do Ministério da Saúde analisados pela reportagem apontam que a média móvel de novos casos no Rio Grande do Sul na segunda-feira (9) subiu 24,6% em comparação a duas semanas antes — chegando a 2.393 casos diários. No entanto, a média de mortes por coronavírus caiu 10% no período — são cerca de seis por dia.
As estatísticas mostram que crianças estão buscando muito hospitais, mas não por causa do coronavírus, e sim por outras doenças respiratórias. Adultos, protegidos pelas vacinas, mantêm o ritmo agora normalizado de busca por atendimento para tratar sintomas do Sars-Cov-2.
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a ala pediátrica opera com o dobro da capacidade. No Hospital Moinhos de Vento, as doenças respiratórias foram responsáveis por mais da metade das internações de crianças entre o último sábado e a manhã de segunda (9).
Mas, a nível estadual, a demanda de atendimento de crianças de até 10 anos com coronavírus é a mais baixa desde a chegada da Ômicron, mostram dados do painel da Rede Análise Covid-19. O que motiva a procura pediátrica são outras doenças respiratórias, como gripe — influenciadas por outono, aulas presenciais e baixa exposição a vírus nos últimos anos.
Entre adultos, nesta terça-feira, 83 pessoas com coronavírus estavam internadas em UTIs do Rio Grande do Sul, 8% mais do que há exatamente duas semanas. O número está longe do ápice da pandemia (mais de 2,6 mil) e do ápice da onda de Ômicron (590).
Quando se somam as internações de pessoas com coronavírus a outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves (Srag), o Rio Grande do Sul apresenta tendência de estabilidade na demanda por UTIs, com aumento de 4% em duas semanas.
— A lua de mel ainda está “on”. É inevitável o aumento de casos porque temos uma variante que se transmite fácil, e as subvariantes da Ômicron B4 e B5 conseguem enganar um pouco o sistema imunológico. Então, mesmo quem teve recentemente episódio de covid pode novamente vir a ter um caso semanas depois. Mas, com a vacinação e o número de infecções, não é de se esperar aumento expressivo na demanda por leitos — diz o médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Em leitos clínicos, destinados a pacientes de menor gravidade, há 254 gaúchos internados, cerca de 18% a mais do que há duas semanas. No pico da pandemia eram quase 5,4 mil e, no ápice da Ômicron, cerca de 1,4 mil. Quando se somam as internações de pessoas com coronavírus a outras doenças respiratórias, a subida na demanda por leitos clínicos é de 17%.
— Estamos em período de bastante estabilidade na ocupação hospitalar. Grandes aumentos nas internações, não projetamos. Pode haver pequeno aumento, mas tudo em quantidade bastante controlada. Não há nada indicando que vai estourar a ocupação e que viveremos outros momentos críticos — destaca a professora de Epidemiologia Suzi Camey, uma das maiores autoridades do Estado em indicadores da covid-19 e integrante do Comitê Científico consultado pelo Palácio Piratini para combate à pandemia.
A epidemiologista acrescenta que, neste momento, a covid não traz grande preocupação.
— A preocupação é com não vacinados e pessoas mais vulneráveis. Para os demais, que estão todas as doses no braço, o momento é de razoável tranquilidade — observa Camey.