Milhões de moradores de Pequim voltaram a trabalhar de casa a partir desta segunda-feira (9), depois que as autoridades reforçaram as medidas anticovid, o que transformou a capital da China, de 22 milhões de pessoas, em uma cidade-fantasma.
A China enfrenta há dois meses o surto epidêmico mais grave desde o início de 2020. Embora os números de contágios sejam mínimos em comparação com o nível mundial, as autoridades mantêm o rigor na aplicação da política "covid zero" e impõem confinamentos em cidades inteiras quando alguns casos são detectados.
Depois de Xangai, a cidade de maior população do país e que está em confinamento desde o início de abril, Pequim está há uma semana sob restrições de deslocamentos e muitos locais públicos (restaurantes, cafés, academias, entre outros) estão fechados.
Nesta segunda-feira, as autoridades limitaram de maneira severa os acessos aos serviços não essenciais no distrito de Chaoyang, o mais dinâmico e de maior população da capital.
O movimentado bairro comercial de Sanlitun, na zona leste de Pequim, estava deserto. A loja da marca americana Apple, por exemplo, recebeu ordem de fechar as portas minutos depois de iniciar as atividades.
— Não me sinto confortável com poucas pessoas ao meu redor — disse à AFP Wang, uma funcionária de limpeza, enquanto esperava para entrar no restaurante em que trabalha.
— Sou responsável pela desinfecção, não posso trabalhar de casa — acrescentou.
Mudança para hotéis
Alguns trabalhadores do setor de finanças se mudaram para hotéis perto de seus escritórios comerciais.
— Nossa empresa disse que deveríamos tentar não voltar para casa porque acredita que há riscos nos deslocamentos — afirmou um gestor de investimentos de Pequim que seguiu para um hotel próximo ao local de trabalho.
— Alguns amigos foram aconselhados a não usar transporte público para seguir até o trabalho, para seguir de carro ou bicicleta — acrescentou.
Pequim anunciou, nesta segunda-feira, 49 novos casos de covid nas últimas 24 horas. Em Xangai, o número de contágios ficou abaixo de 4 mil, depois de superar 25 mil em 24 horas no fim de abril.
O atual surto epidêmico provocou mais de 500 mortes em Xangai, de acordo com números oficiais. A China registrou oficialmente pouco mais de 5 mil óbitos provocados pela covid-19 desde o início da pandemia.
Depois de quase 40 dias de confinamento e alguns problemas de fornecimento de alimentos, os moradores de Xangai começam a mostrar irritação. No bairro de Zhuanqiao, várias pessoas enfrentaram no fim de semana funcionários do governo que usavam o traje de proteção integral anticovid, de acordo com um vídeo divulgado nas redes sociais.
— A polícia agiu rapidamente para dispersar os curiosos e retomar a calma — afirmaram as autoridades locais.
As mesmas fontes anunciaram que "de acordo com uma investigação, os agitadores tinham comida suficiente em casa". O confinamento na capital econômica da China, porto de entrada e saída de mercadorias, tem um grande impacto na economia do gigante asiático.
No mês passado, as exportações da China registraram o menor ritmo de avanço em quase dois anos (+3,9%). Este foi o pior resultado das exportações chinesas desde junho de 2020 (+0,5%).