A rápida multiplicação dos casos de varíola dos macacos (tradução do inglês monkeypox) pelo mundo preocupa especialistas. Ainda que não seja uma ameaça equivalente à da covid-19, a doença pode provocar quadros dolorosos e de muito desconforto.
O mais importante, neste momento, é buscar informações, entender melhor sobre a transmissão e sinais de alerta e se capacitar para, eventualmente, desconfiar de sintomas que surgirem.
Em 29 de julho, duas grandes sociedades brasileiras de especialistas, a de Infectologia (SBI) e a de Urologia (SBU), divulgaram uma nota conjunta com recomendações à população, à classe médica e aos demais agentes de saúde com “medidas importantes que devem ser adotadas ao se diagnosticarem lesões cutâneas, especialmente vesículas, pústulas e crostas na região anogenital (ânus e órgãos genitais), ainda mais quando antecedidas ou acompanhadas por febre, gânglios aumentados e dolorosos (ínguas) e lesões em outras partes do corpo”.
Além da SBI e da SBU, a reportagem de GZH reuniu respostas para algumas das dúvidas mais frequentes a partir de orientações emitidas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que é a varíola dos macacos?
A varíola dos macacos, ou varíola símia, é uma doença zoonótica viral. A transmissão ocorre pelo contato com animal ou humano infectado ou material corporal humano contendo o vírus. Apesar do nome, os macacos não são reservatórios de vírus. A epidemia atual não se correlaciona com a transmissão de animais para humanos, ressaltam representantes da SBI e da SBU. Portanto, não se justificam atitudes e, muito menos, crueldade em relação a animais, aí incluídos os macacos.
Quando e onde a doença surgiu?
Foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970, na República Democrática do Congo, na África, em um menino de nove anos que vivia em uma região onde a varíola havia sido erradicada em 1968. Desde 1970, foram registrados casos humanos de ortopoxvirosis simia em 10 países africanos. No início de 2003, também foram confirmados casos nos Estados Unidos, os primeiros fora do continente africano.
Quanto tempo dura o período de incubação?
O período de incubação da doença, enquanto a pessoa está assintomática, costuma se estender de seis a 16 dias, podendo chegar a 21 dias.
Quais os sinais iniciais da infecção?
Os primeiros sinais incluem febre súbita, dor de cabeça, dores musculares e nas costas, adenomegalia (aumento dos linfonodos do pescoço), calafrios e exaustão. Os sintomas podem durar de duas a quatro semanas. A manifestação da doença na pele se dá de um a três dias após os sintomas iniciais, com lesões medindo de meio centímetro a um centímetro de diâmetro. As erupções passam por diferentes fases: mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta. As lesões evoluem uniformemente.
A varíola do macaco pode ser confundida com outras doenças?
Sim. Pode haver confusão com varicela ou sífilis, por exemplo. Um especialista conseguirá identificar corretamente qual é o problema em questão. A SBI e a SBU destacam que, com o risco de a dúvida não se resolver, é bem provável que a doença seja subdiagnosticada e, portanto, subnotificada. Com o crescimento da epidemia pelo mundo, é importante ficar atento a eventuais lesões na pele.
O que fazer se houver suspeita de infecção?
Em caso de qualquer sinal ou sintoma, evite contato próximo com outras pessoas e procure atendimento médico.
Quem corre mais risco?
De acordo com a OMS, neste momento da epidemia, homens que fazem sexo com homens, em especial os que têm múltiplos parceiros, estão sob maior risco de infecção, mas é importante frisar que qualquer pessoa pode pegar a doença. Especialistas afirmam que o vírus deve, em breve, se espalhar para outros grupos.
E as gestantes?
Grávidas, puérperas (no período de até 45 dias após o parto) e lactantes devem usar máscara em ambientes fechados, de acordo com recente recomendação do Ministério da Saúde. A pasta também indica a utilização de preservativo nas relações sexuais (ainda que o contato íntimo pele a pele envolva outras partes do corpo, o que pode permitir a transmissão de uma pessoa a outra mesmo com a camisinha).
Estou com varíola dos macacos. E agora?
Você deve ser tratado com base nas características específicas do seu quadro clínico. É importante se manter isolado, sem contato com outras pessoas, enquanto tiver lesões na pele - o que influi a fase das feridas com crostas - que também são infectantes. O isolamento poderá ser suspenso quando houver exclusão do diagnóstico pelo médico ou completo desaparecimento das lesões.
Há remédio específico para o tratamento?
O Ministério da Saúde está negociando, por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a compra do antiviral tecovirimat. De acordo com o ministro Marcelo Queiroga, o medicamento deverá ser direcionado, em um primeiro momento, aos casos mais graves.
Devo me vacinar?
Não há imunizantes contra a varíola disponíveis no momento. O Ministério da Saúde avalia a compra de vacinas para aplicação em profissionais da área. O governo federal afirmou que não haverá imunização em massa da população.
Como se prevenir?
- Higienize as mãos com frequência, utilizando álcool 70% ou água e sabão
- Evite contato próximo com pessoas que apresentam sintomas compatíveis com os de varíola dos macacos. Não compartilhem objetos, toalhas ou roupa de cama
- Restrinja, por enquanto, o número de parceiros sexuais
- Indivíduos que tiveram contato com pessoas infectadas devem permanecer atentos a possíveis sinais e sintomas para buscar atendimento e também evitar uma onda de transmissão
Fontes: Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Urologia