O Rio Grande do Sul aguardava com ansiedade a vacinação contra a covid-19 quando, em 18 de janeiro do ano passado, cinco pessoas representando diferentes grupos prioritários receberam a primeira dose de CoronaVac em solo gaúcho.
Um ano depois, o tempo mostrou que imunizantes derrubaram a curva de infecções, hospitalizações e mortes. Hoje, o Estado enfrenta nova onda, causada pela variante Ômicron após festas de Natal e Ano-Novo, mas com impacto menor em casos graves.
A vacinação avançou lenta nos primeiros meses de 2021. Apesar do atraso, a campanha ganhou força ao longo dos meses: a partir da metade do ano passado, a aplicação chegou a adultos e aos mais jovens, o que derrubou os indicadores no último trimestre.
Estudo elaborado pela Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) mostrou que as vacinas reduziram em 87% a mortalidade por covid-19 na população com 20 anos ou mais. Entre idosos com 60 anos ou mais que tomaram a terceira dose, a queda na mortalidade foi de 95%.
O Rio Grande do Sul passou a viver a maior tranquilidade dos últimos dois anos — após assistir pela televisão a israelenses e europeus entre risadas em viagens, bares e restaurantes, gaúchos finalmente desfrutaram de forma ampla uma convivência mais segura.
— A humanidade precisa agradecer: as vacinas mudaram o cenário de mortalidade e levaram a uma redução enorme do sofrimento humano. Hoje, dados de Estados Unidos, Israel, Espanha e Reino Unido mostram que 90% dos hospitalizados e óbitos são não vacinados ou incompletamente vacinados — pontua a médica Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Mesmo com variante, imunizantes ainda oferecem proteção
A Ômicron surgiu em dezembro no continente africano e causou furor na comunidade científica pela possibilidade de reduzir a eficácia das vacinas, devido às mutações. O receio se confirmou, mas, apesar disso, as vacinas contra a covid-19, que não foram criadas para impedir casos leves, e sim para evitar casos graves, seguiram oferecendo proteção contra hospitalizações e óbitos.
Com a Ômicron, que escapa parcialmente dos anticorpos adquiridos na vacina ou pela infecção pelo Sars-COV-2, o número de casos explodiu, mas não houve aumento proporcional em casos graves como visto nas ondas anteriores. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já declarou que hospitais estão sendo pressionados por pessoas com calendário de vacinação atrasado.
Há dificuldades na análise de números por conta do apagão de dados sofrido no país, misturado ao atraso de notificações dos últimos dias. Após mais de um mês sem saber como estava a cobertura vacinal, o Rio Grande do Sul recebeu dados parciais nesta segunda-feira e elevou de 70% para 72,9% a cobertura vacinal de duas doses.
A despeito do apagão, os números mostram que a nova onda está longe do pior momento da covid-19, entre fevereiro e abril do ano passado. O Rio Grande do Sul registrou mais de 70 mil casos novos na última semana e, nesta segunda-feira, apresenta média móvel de 450 pacientes com coronavírus em leitos clínicos e 215 em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), segundo dados da SES-RS.
No ápice, em 23 de março do ano passado, apenas 3% dos gaúchos estavam com duas doses. Havia quase 2,6 mil pacientes em estrado gravíssimo em UTIs e mais de 5,2 mil em leitos clínicos. A semana acumulara menos da metade dos casos do que atualmente: cerca de 30 mil.
— A vacina reduziu a mortalidade no Rio Grande do Sul antes da Ômicron e também tem seu papel agora. Nossa maior demanda hoje é para internações em forma menos grave. A maior parte das pessoas internadas no Clínicas e no conjunto de hospitais está com esquema incompleto: nenhuma dose, uma dose quando deveria ter duas ou duas quando deveriam ser três doses — diz Ricardo Kuchenbecker, médico epidemiologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre e professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), reflete que a covid hoje é uma doença de pessoas não vacinadas.
— Os hospitais não estão sob risco de colapso, exceto pelo adoecimento em massa e simultâneo de profissionais de saúde. Isso não decreta a falha das vacinas: elas vieram para evitar forma grave e morte, e é o que acontece. Basta pensar que hoje a covid-19 está sendo banalizada, é quase uma gripe comum. As pessoas vacinadas já não têm mais medo de covid. Esse menor medo só acontece por causa da vacina. A mortalidade caiu abruptamente — diz.
Com a vacinação de crianças, a expectativa de especialistas é de aumentar ainda mais a cobertura vacinal e chegar mais perto do fim da pandemia. A aplicação começa na quarta-feira (19) no Rio Grande do Sul.