
O impacto do início perturbador da circulação da variante Ômicron é facilmente verificável nos números de consultas realizadas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, na zona norte de Porto Alegre. Desde o início do ano, pelo menos 200 pacientes com sintomas gripais são atendidos por dia — o dobro da capacidade da estrutura externa, aberta devido à pandemia.
Até 20 de dezembro, a média de consultas diárias era de 60. Começou a aumentar. Com exceção de 1º de janeiro, feriado em que a UPA operou normalmente, são realizados entre 200 e 240 atendimentos — nesta quinta-feira (13) foram 199. A maior demanda das equipes se refere a sintomas leves, testagem e pedidos de atestado para ausência no trabalho. O prédio principal da Moacyr Scliar recebe pacientes em geral.
São coletadas de 190 a 200 amostras para testes do tipo RT-PCR diariamente. As análises são conduzidas pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen/RS), com resultado liberado em prazo de sete a 10 dias. Durante esse período, o paciente é orientado a ficar isolado.
Na semana passada, a primeira de 2022, o tempo de espera chegou a 10 horas. Na manhã desta sexta-feira (14), era de duas horas.
— Todos os pacientes passam por classificação de risco na triagem, que determina o quanto podem esperar. Avaliamos se estão graves ou não. A grande maioria tem sintomas leves, então a espera é pela ordem de chegada — explica o enfermeiro Allant Silva Klein, coordenador de Enfermagem da UPA.
Os usuários se preocupam com a demora: querem saber quanto será preciso aguardar, se não basta fazer o teste e ir embora.
— A maioria está entendendo que é uma situação que foge ao nosso controle. Não temos como ampliar o serviço. Estamos funcionando a plena capacidade — comenta Klein.
Responsável, neste momento, pela coordenação da unidade, o enfermeiro diz que o planejamento é sempre revisto. Conforme o número de afastamentos de funcionários, é preciso refazer escalas. Quem precisa cumprir horas extras acaba, por consequência, ficando mais exposto a uma possível contaminação.
— Para a gestão, é um desafio dia a dia: se colapsar, que serviço será preciso restringir para priorizar esse atendimento (de sintomáticos respiratórios)?
Eventuais medidas restritivas, segundo o enfermeiro, dependem, basicamente, de dois fatores:
— Pode ser com o afastamento de muitos profissionais ou se continuar um contágio muito alto, que aumente a nossa demanda. Se tiver 300 atendimentos por dia, vai colapsar.
Em quase dois anos de pandemia — no pior momento, março de 2021, a unidade “virou praticamente uma UPA covid” —, o enfermeiro afirma que a sobrecarga é estressante.
— Você luta, luta, luta, e a sensação é de que, muitas vezes, está patinando no mesmo lugar. Pouco andamos — lamenta Klein, que confere as mensagens no WhatsApp até de madrugada, receoso de ter deixado algo importante para trás. — Repetimos as mesmas coisas. As pessoas já conhecem os cuidados: uso de máscara, lavagem das mãos, distanciamento, não aglomerar. Precisamos retomá-los e intensificá-los para evitar a propagação de vírus e novas variantes — recomenda.