Enquanto outros países usam os autotestes para covid-19 como forma de controle da doença, o Brasil ainda debate o uso. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu somente nesta sexta-feira (28) sobre autotestagem no país. Fazer um teste rápido feito em casa, quando executado da forma e tempo adequados, pode ajudar na identificação precoce do vírus e consequente isolamento e identificação de contatos.
Divido com os leitores um relato pessoal sobre o autoteste, pois tive uma experiência recente: em 2021, fui voluntária do estudo da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Sichuan Clover Biopharmaceutical, em Porto Alegre. Para ficar por dentro do quadro de saúde dos participantes, a pesquisa, conduzida pelo Hospital de Clínicas, nos forneceu uma caixa de testes rápidos de antígeno, com quantia suficiente para durar até 2022, fazendo um teste por semana.
E é por este motivo que eu tinha o teste à mão em meados de janeiro, mês em que registrou-se recorde de casos de coronavírus por conta do avanço da variante Ômicron e escassez de testes à população. Eu suspeitei que poderia ser covid quando iniciei com febre e dor de cabeça. Sozinha em casa, coloquei sobre o bidê do quarto os materiais necessários e puxei o manual para fazer certo o teste da fabricante ECO Diagnóstica.
Tocando apenas na haste, inseri o cotonete comprido na narina até sentir resistência e esfreguei circularmente durante uns 15 segundos. É desconfortável, mas possível de fazer sozinha sem grandes dificuldades. Fiz o mesmo procedimento na outra narina e depois inseri o cotonete no chamado "tubo de extração" que contém um líquido regente. Girei o cotonete algumas vezes, tampei o tubo com um bico e despejei três gotas da mistura no dispositivo de teste, que tem duas letrinhas impressas: "C", que é onde precisa surgir a "linha de controle", que indica se o teste está funcionando corretamente e "T", que é onde aparece a "linha de teste" nos casos em que a pessoa está com covid-19.
Leitura do resultado
Esperei os 15 minutos indicados, olhei para a plaquinha e lá estavam duas linhas rosadas, confirmando a minha suspeita de infecção. Na hora, deu receio. Quem já teve o diagnóstico positivo deve concordar que não é nada simpático encarar as duas linhas vermelhas. O vírus de que eu escapava há quase dois anos tinha, enfim, me alcançado.
Conseguir interpretar aquele diagnóstico direto do meu quarto, permitiu que eu me isolasse de pronto, evitando contaminar mais pessoas. Avisei familiares, fiz uma consulta por telemedicina e foquei na minha recuperação, reafirmando pra mim mesma aquilo que temos escrito diariamente nesta pandemia: "vacinada, minhas chances de precisar ir para o hospital são menores" junto com dicas pessoais de "fica calma, vai ver uma série, tomar uma água. Vai ficar tudo bem". E, passados alguns dias de tosse e fadiga, ficou mesmo.
Autoteste em outros países
Reino Unido, Estados Unidos e outras nações já consolidaram como estratégia de saúde pública o exame rápido de antígeno feito em casa. Nos Estados Unidos, o envio de kits à população é feito após as famílias encomendam o exame do governo pela internet. Também há venda de autotestes em farmácias, comércio que é autorizado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) e amplamente requisitada pela população.
O CDC considera o uso dos autotestes uma medida de redução de risco — que deve ser aliada ao uso de máscaras e distanciamento social — e orienta àqueles quem tiverem resultado positivo a se isolarem por ao menos dez dias e avisarem pessoas com quem tiveram contato. Também alerta para possíveis diagnósticos falso-negativo e para casos em que a amostra é coletada muito cedo, no estágio mais inicial da doença, de forma que a pessoa pode ter resultado negativo, mas positivar após alguns dias.
Os autotestes para covid-19 também estão autorizados pelo Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), que entende que estes podem contribuir para a detecção de casos logo no início e redução da circulação do vírus. Na França, são vendidos em farmácias e em supermercados, com preço sugerido de 5,20 euros.
Em locais como o Reino Unido, Austrália e Canadá é possível obter testes grátis junto ao sistema público de saúde.
O governo federal brasileiro já afirmou que não planeja implementar esta estratégia na rede pública, ficando a venda restrita a farmácias. Eles podem ser armazenados em casa e utilizados pelos indivíduos em momentos de suspeita da doença. Todo caso positivo em uma autotestagem deverá ser comunicada em uma unidade de saúde para, então, ser inserida nos sistemas do Ministério da Saúde.