O número de casos positivos de covid-19 no Rio Grande do Sul deu um salto exponencial entre a penúltima e a última semana de dezembro de 2021. Dados, mesmo que parciais, já indicam que, naquele período, mais que triplicou o número de pessoas com confirmação de covid-19 no Estado. Esse crescimento semanal é um dos mais velozes de toda a série histórica no Estado desde o início da pandemia.
— Essa é a Ômicron. Sem dúvida. Os próximos dias vão ser muito ilustrativos. Nas próximas duas semanas, a gente vai ter mais elementos para entender o que está acontecendo. O crescimento é espantoso. O número de novos casos é algo bizarro — avalia Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas.
A mudança de comportamento da curva começou a ser sentida na antepenúltima semana do ano, entre 12 e 18 de dezembro. Na semana seguinte, encerrada em 25 de dezembro, a alta se consolidou com crescimento de 82,4% nos casos confirmados. Na semana seguinte, a última de 2021, os números mais do que triplicaram, passando de 2.651 para 9.352 casos confirmados (por data de início de sintomas).
Veja abaixo o número de casos confirmados de covid-19 (por data de início de sintomas) a cada semana, no Rio Grande do Sul, entre novembro e dezembro:
O indicador utilizado nesta reportagem é o de novos casos confirmados de covid-19 por data de início de sintomas, por recomendação de especialistas para reduzir o impacto do atraso de notificação nos feriadões de Natal e Ano-Novo.
Esse indicador considera o primeiro dia de sintomas das pessoas que testaram positivo para covid-19. Por esse motivo, os dados mais recentes do indicador ainda sofrerão atualizações nos próximos dias. O coordenador do GT Saúde do gabinete de crise estadual, Pedro Zuanazzi, ressalta que essa alta de casos do fim do ano pode se confirmar ainda maior com as próximas atualizações.
— Os próximos dias também vão dizer se, na última quinzena de 2021, os casos triplicaram, como já temos confirmação, ou se quadruplicaram, quintuplicaram. Esse crescimento é muito alto, mas ainda é preciso saber se vai se manter. Se mantiver com essa força, vamos copiar o comportamento de outros países, como França, Estados Unidos, Espanha — aponta Zuanazzi.
Até o momento, o aumento de casos não se reflete com a mesma intensidade no número de pessoas internadas com covid-19 no Rio Grande do Sul. Nos leitos clínicos (para casos leves e médios), houve aumento de 57% de pacientes com covid-19 nesta semana. Já nos leitos de UTI, segue o mesmo cenário anterior, de estabilidade. O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas aponta que o baixo número de casos graves se deve, por um lado, à cobertura vacinal e, de outro, ao comportamento atual do vírus.
— Isso muito se deve, com certeza, à vacinação. Mas deve ter aí também um componente intrínseco desse vírus (variante Ômicron) que produz menos infecção nas vias aéreas inferiores. Uma coisa a gente tem certeza: a vacina sem dúvida alguma desenvolve papel fundamental e preponderante — acrescenta Sprinz.
O infectologista também aponta que é preciso manter as medidas de proteção. Isso porque, mesmo que seja menos letal, se houver uma explosão de casos, um percentual dos pacientes acabará internando em estado grave ou morrendo.
— Se essa variante for cem vezes menos letal, mas se contaminar 10 vezes mais, já vai ser um problema muito grande. Vai ter pessoas que vão ter casos graves, e isso é estatístico. Se tiver centenas de milhares de pessoas contaminadas, algumas necessitarão de hospitalização e algumas podem morrer. A vacina consegue proteger contra as formas graves, mas elas ainda podem ocorrer — aponta Sprinz.
Veja abaixo o número de casos confirmados de covid-19 (por data de início de sintomas) desde o início da pandemia, no Rio Grande do Sul:
A alta significativa de casos na última quinzena de 2021 fez o governo do Estado emitir, na terça-feira (4), avisos de risco para as 21 regiões covid do Rio Grande do Sul. O aviso é o primeiro nível de risco do sistema 3As de monitoramento da pandemia e não obriga que os prefeitos adotem medidas para conter a contaminação.