O menor tempo para aparecimento de sintomas em pessoas com covid-19 vem chamando a atenção de especialistas nesta nova onda que surge após o Natal e o Ano-Novo, motivada pela Ômicron e pelas festas de fim de ano. Sequer passou uma semana do Réveillon e o Rio Grande do Sul já vive explosão de novos casos.
Não há estudos conclusivos, mas relatos em revistas científicas, dados epidemiológicos e testemunhos de especialistas apontam que, ao contrário de outras variantes, a Ômicron manifesta sintomas mais cedo - portanto, infectados poderiam transmitir covid-19 antes. Tudo parece estar relacionado à maior carga viral da variante.
Com a Gama, eram necessários entre cinco e seis dias após o contato com caso positivo para os primeiros sintomas, podendo chegar a até 14 dias pós-infecção, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com a Delta, eram precisos quatro dias, de acordo com estudo realizado na França. Já a Ômicron provoca alterações corporais em geral no terceiro dia após infecção, podendo variar entre dois e cinco dias depois, segundo estudo realizado na Noruega. Com a mudança de sintomas, o tempo de transmissão também pode ter sido alterado.
Orientações mais recentes do Centro de Controle e Prevenção e Doenças (CDC), dos Estados Unidos, apontam que a transmissão da Ômicron pode ocorrer a partir de 48 horas antes dos primeiros sintomas e chegar ao ápice até 72 horas após o início dos sintomas — podendo se estender por mais cinco dias até totalizar 10 dias de transmissão após a infecção. Anteriormente, a transmissão costumava começar apenas no dia anterior ou no dia de aparecimento dos sintomas.
— Em geral, é pelo terceiro dia depois da contaminação que surgem os sintomas. Com as variantes anteriores, como a Gama, a gente esperava de cinco a sete dias. Parece pouca coisa, mas 72 horas a mais de transmissão é muito tempo. O PCR agora dá para fazer no primeiro dia de sintomas até uma semana depois do início, ao contrário de antes, que precisava esperar 72 horas. O assintomático pode fazer no terceiro dia após contato com caso sabido. Aparentemente, as pessoas ficam doentes por menos tempo com a Ômicron se estão vacinadas, mas não há dados para saber a partir de quantos dias a pessoa deixa de transmitir — explica o médico Alexandre Vargas Schwarzbold, professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Na prática, se uma pessoa pegar covid-19 hoje, amanhã à noite já poderá estar transmitindo, resume o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-Ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
— As pessoas começam a transmitir mais cedo a Ômicron. Dois dias após o contato, já vemos cargas virais altas. Isso é o que potencializa a capacidade de transmissão dessa variante. E nos impressiona a carga viral, mesmo em pessoas vacinadas. A vacina reduz a transmissão, mas vemos vacinados que ainda podem transmitir — resume Spilki.
O estudo realizado na Noruega, citado anteriormente, estudou o caso de 117 vacinados reunidos em um restaurante. Eles realizaram teste de antígeno, com resultado negativo, entre 24 e 48 horas antes do evento. Um dos convidados havia voltado da África do Sul, onde a Ômicron foi identificada. 74% das pessoas pegaram covid-19 e manifestaram sintomas entre um e oito dias depois do encontro no restaurante - a média foi de três dias.
— Dá para inferir hoje que a maior intensidade da transmissão da Ômicron é antes de outras variantes. A orientação vigente é: até 48 horas antes do início dos sintomas, a pessoa pode transmitir. Se você teve covid agora, precisa avisar todas as pessoas que contatou até 48 horas antes para que elas monitorem sintomas. Para pessoas assintomáticas que estão com covid, a data para contagem é a data do teste — afirma o médico infectologista André Giglio Bueno, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), que é mais conservador e afirma que faltam dados para dizer que a Ômicron é transmitida mais cedo.
O CDC, dos Estados Unidos, recomenda cinco dias de isolamento e mais cinco dias de uso de máscaras ao ar livre, totalizando 10 dias de cuidados — a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 14 dias de afastamento.
A decisão norte-americana foi fortemente criticada por infectologistas, que apontam que cinco dias de isolamento é pouco e alegam que órgão cedeu à pressão de empresas, que lidam hoje com menor produtividade em meio aos atestados de afastamento de trabalhadores.