Apesar da alegação do presidente Jair Bolsonaro, que disse, em entrevista nesta quinta-feira (6) não saber de mortes de crianças por coronavírus no Brasil, pelo menos 308 delas morreram no país vitimadas pela covid-19 desde o início da pandemia. E quem divulgou este número foi o próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Em 23 de dezembro do ano passado, Queiroga exibiu aos jornalistas um gráfico com dados sobre casos e óbitos de crianças de cinco a 11 anos no Brasil. Segundo as informações apresentadas pelo ministro, entre março de 2020 e novembro de 2021, foram 308 mortes, das quais 163 em 2020 e 145 em 2021.
Somente no Rio Grande do Sul, entre janeiro e outubro de 2021, pelo menos seis crianças na faixa etária dos cinco aos 11 anos morreram por coronavírus. Outras 108, em razão da doença, precisaram de internação em hospitais. O primeiro óbito de uma criança por covid-19 no Estado ocorreu em janeiro do ano passado.
Tratava-se de um menino de sete anos, morador de Alto Feliz, na Serra. Ele ficou internado 11 dias com Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Associada ao coronavírus, a doença apresenta manifestações tardias depois da infecção, podendo ou não a criança ter apresentado sintomas respiratórios de covid-19. O número de óbitos de crianças no Estado representa menos de 0,1% do total de mortes e hospitalizações provocadas pela covid-19 no Rio Grande do Sul. Mas mostra que os mais jovens também são impactados pelo vírus. E como ainda não receberam vacina, são capazes de retransmitirem a doença com mais facilidade.
Durante entrevista à rádio Nordeste, de Pernambuco, nesta quinta-feira (6), um dia depois de o Ministério da Saúde anunciar a vacinação para crianças de cinco a 11 anos, Bolsonaro, além de desconhecer criança que tenha morrido por covid-19, fez questão de reforçar os efeitos colaterais da imunização e ainda pediu aos pais que não se deixem levar pelo que chamou de "propaganda".
— A própria Anvisa que aprovou também diz lá que a criança pode sentir, logo depois da vacina, falta de ar e palpitações. Eu pergunto: você tem conhecimento de uma criança de cinco a 11 anos que tenha morrido de covid? Eu não tenho — comentou Bolsonaro.
Ele repetiu que não vacinará a filha Laura, de 11 anos, e também sugeriu haver interesse da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de "tarados pela vacina" na aprovação do imunizante.
— Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina? — declarou Bolsonaro, completando: — Então, peço, como se tratam de crianças, não se deixe levar pela propaganda. Converse com seus vizinhos. Quanto garoto contraiu covid e nada aconteceu com ele.
Assim como a Anvisa, as agências americana e europeia, reconhecidas internacionalmente, aprovaram a vacinação de crianças com a vacina da Pfizer. Especialistas garantem que a vacinação para crianças contra a covid-19 é segura, eficaz e os benefícios superam riscos eventuais.
Durante a consulta pública sobre a vacinação infantil, aberta pelo próprio governo, a Sociedade Brasileira de Pediatria afirmou que, embora o coronavírus seja mais perigoso aos adultos, nenhuma doença para a qual existe vacina mata mais crianças do que a covid-19.
— Trouxe a vocês uma comparação do que representa a covid-19 em crianças perto de outras doenças passíveis de prevenção por vacinas. Nenhuma dessas doenças, todas elas passíveis de prevenção por vacinas, vitimaram tantas crianças como a covid-19 — destacou o representante da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, durante a consulta pública.
Ao Jornal Hoje, a epidemiologista Carla Dominguez afirmou que os números apresentados pelo ministro "são assustadores".
— Estamos falando de 2,5 mil óbitos na população abaixo de 19 anos e em torno de 300 óbitos entre cinco e 11 anos. Nenhuma doença imunoprevinível, hoje, que está no calendário de imunização matou esse número de pessoas. Então, a gente não pode banalizar as mortes por covid. Poderemos proteger um maior número de crianças e evitar que novos óbitos aconteçam — afirmou.