Nesta quarta-feira (1º), Dia Mundial de Luta contra a Aids, o Ministério da Saúde lançou uma campanha de combate ao HIV e à aids e atualizou os dados sobre a doença no país, com a divulgação do Boletim Epidemiológico de 2021. Segundo o relatório, o país registrou um total de 32.701 novos casos de HIV em 2020, sendo 7,8 mil de gestantes.
O boletim aponta que a taxa de mortalidade por aids no Rio Grande do Sul é superior à média nacional, que é de 4 óbitos a cada 100 mil habitantes. No RS, são 7,2 óbitos por 100 mil habitantes. Mas o indicador tem apresentado queda: entre 2010 e 2020, o número de óbitos ligados à doença no Rio Grando do Sul caiu de 1.458 para 1.065. Olhando para os dados de Porto Alegre, a cidade aparece como a Capital brasileira com maior taxa de mortalidade por aids do país em 2020, com 24,1 casos por 100 mil habitantes, seis vezes superior ao coeficiente nacional.
A divulgação dos dados foi feita ao vivo pela internet por Gerson Pereira, diretor do departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Segundo o diretor, nacionalmente houve uma redução de 25% na detecção de novos casos de HIV em 2020 na comparação com 2019, quando 43.312 novos casos foram contabilizados. Tal redução era esperada por causa da pandemia, já que é um cenário em que testes e diagnósticos são menos procurados, como ocorreu para outras doenças também. Uma das estratégias do governo para cuidar de quem tem aids durante a pandemia foi ampliar a prescrição de medicamentos
— Fizemos um esforço nessa pandemia para diagnosticar e tratar. Antigamente prescrevíamos medicamentos para 30 dias, mas nós aumentamos o tempo da prescrição e temos, hoje, muitos pacientes recebendo medicamentos para 90 dias. Também distribuímos muitos autotestes para que as pessoas só fossem ao serviço de saúde quando tivessem resultado positivo — afirma Gerson.
Segundo o Ministério houve um aumento na distribuição de testes rápidos: foram 12 milhões, 37% a mais do que no ano passado.
Casos de aids e de HIV
Em 2020, foram registrados 29.917 novos casos de aids no país, número que é menor do que o registrado em 2019, de 37.731. O Brasil tem registrado, nos últimos cinco anos, uma média de 36,8 mil novos casos da doença por ano. O relatório atribui esta queda a uma possível subnotificação de casos durante a pandemia de covid-19, que causa sobrecarga dos serviços de saúde.
No Rio Grande do Sul, entre 2010 e 2020, a detecção de novos casos de aids registrou queda de 49,8%. Atualmente são 21,8 casos da doença por 100 mil habitantes, taxa que ainda é superior à média nacional, de 14,1 casos por 100 mil habitantes. Os números de Porto Alegre são ainda mais altos: 41,9 casos de aids por 100 mil habitantes.
Jovens
O relatório divulgado nesta quarta-feira aponta que 69,8% dos casos de infecção pelo HIV notificados entre 2007 e junho de 2021 no país foram em homens. Já as mulheres compõem 30,2% dos registros. No mesmo período, pessoas com idades entre 20 e 34 anos compõem a faixa etária com maior incidência de casos, representando 52,9% do total. O boletim aponta ainda que a maior concentração da doença em si, no período de 2010 a 2020, foi observada nos indivíduos com idades entre 25 e 39 anos: 52% dos casos do sexo masculino e 47,8% dos casos do sexo feminino pertencem a essa faixa etária.
— Como atingir e atender a população jovem? Vamos continuar esperando essa população de uma forma passiva nas nossas unidades de saúde e ter resultado? Provavelmente, não. Precisamos trabalhar de forma mais ativa nas ações de educação e de diagnóstico precoce. O homem jovem é a situação mais crítica, os homens em geral são os que menos procuram os serviços de saúde. Esse é nosso grande desafio — disse Nereu Henrique Mansano, representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), presente no evento do Ministério.
Diagnóstico durante o pré-natal
Houve um aumento de 30,3% na taxa de detecção de HIV em gestantes durante o pré-natal, de forma que 7,8 mil gestantes foram detectadas com o vírus em 2020. Porto Alegre aparece como a Capital com maior taxa de detecção de gestantes com HIV, com 17,1 casos por 1 mil nascidos vivos.
No país, a taxa de detecção de HIV entre crianças menores de cinco anos vem caindo nos últimos dez anos, passando de 4 casos a cada 100 mil habitantes em 2010 para 1,2 casos a cada 100 mil habitantes em 2020, uma redução de 69,7%. Este indicador serve também para monitorar a taxa de transmissão vertical — a que ocorre de mãe para o seu feto no útero ou recém-nascido durante o parto.
— Crianças menores de cinco anos com aids têm a doença ou por transmissão vertical ou por estupro. Segundo o boletim epidemiológico, 97% dos casos de aids entre menores de cinco anos são casos de transmissão vertical — afirma Gerson.
Municípios como São Paulo, Curitiba e Umuarama, no Paraná, são reconhecidos pelo Ministério da Saúde como locais onde foi eliminada a transmissão vertical do HIV.
A taxa de transmissão vertical no Rio Grande do Sul, embora acima do número nacional, também mostrou evolução nos últimos dez anos. Em 2010, foram 8,2 casos a cada 100 mil habitantes. Já em 2020, foram 1,7 a cada 100 mil.
Metas de combate
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) tem um acordo junto a países como o Brasil de trabalhar a meta conhecida pelas entidades de saúde como 90-90-90, que representa três objetivos. A meta inclui ter 90% dos casos estimados diagnosticados, índice que no Brasil em 2020 é de 88%, conforme divulgado hoje pelo Ministério. Também inclui ter 90% doas casos diagnosticados em tratamento, índice que é de 81% atualmente no país. E inclui, por fim, ter 90% dos casos em tratamento já em estágio de supressão viral, índice que é de 95% em 2020.
— Esse dado é extremamente importante pois, na medida em que a pessoa tem uma carga viral indetectável, mesmo que não use medidas preventivas, não infecta ninguém — afirma Gerson.
Em 2021 o número de pessoas em tratamento para HIV/aids no Brasil é de 694 mil. Até 2020, eram 666 mil. O Ministério da Saúde entende que o público, principalmente o jovem, precisa ser reincentivado a fazer diagnóstico e o tratamento da doença, se necessário. Segundo o diretor Gerson Pereira, a estimativa é de que, passados três meses do início do tratamento, o vírus já possa ser indetectável no organismo do portador.