Esta é a segunda parte de uma reportagem sobre HIV. Clique aqui para ler a primeira:
As provas para a inexistência de risco na transmissão do HIV começaram a surgir há mais de uma década, quando a medicina descobriu que mães soropositivas podem dar à luz filhos sem o vírus. Depois, três grandes estudos mostraram que isso também vale para relações sexuais.
1) O primeiro deles, o HPTN 052, analisou, de 2005 a 2010, 1,7 mil casais heterossexuais em que uma pessoa tinha HIV e outra, não – incluindo brasileiros –, cujo uso de camisinha era eventual. Nenhum parceiro pegou o vírus quando o soropositivo estava indetectável. Tamanha foi a repercussão que a análise foi considerada, pela prestigiosa revista Science, o “estudo do ano” de 2011.
2) Para ter mais certeza sobre o assunto, o Partner, dividido em duas fases, investigou 548 casais heterossexuais e 940 casais gays masculinos de 2010 a 2018, nos quais o soropositivo estava com carga viral indetectável. Em mais de 99 mil relações sexuais entre homens e 22 mil entre homens e mulheres, não houve transmissão de HIV.
3) O terceiro estudo é o Opposites Attract, focado em 343 casais gays masculinos de Austrália, Tailândia e Brasil. Em quase 17 mil relações sexuais ao longo de um ano, não houve transmissão de HIV para o homem soronegativo.
Cerca de 850 organizações internacionais de mais de cem países analisaram os resultados e assinaram documento reconhecendo a validade das descobertas. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), especialidade médica que trata quem tem HIV, divulgou a todos os médicos brasileiros, no ano retrasado, que quem toma remédios e está indetectável “torna o sexo desprotegido seguro em relação à contaminação com o HIV”.
Em guia também do ano retrasado, o Unaids, programa da Organização das Nações Unidas (ONU) de combate ao HIV e à aids, afirma que remédios de hoje dão oportunidade “para as pessoas com carga viral indetectável terem relações sexuais sem preservativo, sem risco significante de transmissão ao HIV”.
Prudência da ciência
A expressão “risco zero” não aparece em relatórios por regra de humildade: a medicina não é uma ciência matemática e estudos não abrangem toda a população do mundo. Mas, com base no que já foi observado, é possível prever as consequências.
— Já avançamos muito no campo científico, com medicamentos mais simples, testes mais rápidos e mais métodos de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Mas o estigma continua — afirma Cleiton Euzébio de Lima, diretor interino do Unaids no Brasil. — Não há dúvidas de que uma pessoa com carga viral indetectável não irá transmitir o vírus. Ser indetectável é inclusive importante para a saúde do indivíduo — acrescenta.
O Unaids não prega que as pessoas parem de usar camisinha – pelo contrário, o uso deve ser incentivado. Mas a premissa é dialogar com a realidade: 45% dos brasileiros entre 15 e 64 anos não usaram camisinha em ao menos uma transa casual no ano anterior. Deste grupo, quem mais deixou de se proteger foram os homens (61%). Os dados são da pesquisa mais recente sobre o tema, feita pelo Ministério da Saúde, publicada em 2013.
Tire suas dúvidas
HIV é a mesma coisa que aids?
Não. HIV é o vírus, aids é a síndrome da imunodeficiência adquirida, uma condição de saúde na qual a pessoa não se medica e, por isso, seu sistema imunológico fica fraco, e o indivíduo, vulnerável a doenças. Uma pessoa com HIV não necessariamente é doente – pode, muito pelo contrário, ser saudável. Para viver por muitos anos, é preciso tomar remédios diariamente – e, se isso ocorre, a pessoa fica com a carga viral muito baixa e não transmite o vírus.
O que é ser indetectável?
Ter baixas cópias do vírus HIV a ponto de o teste de laboratório nem detectar a presença dele no sangue.
Por que o vírus não é transmitido quando a pessoa é indetectável?
Não basta apenas ter vírus para haver transmissão. A lógica do HIV é: quanto mais vírus uma pessoa tem, maiores as chances de ela passá-lo a outra pessoa. O antirretroviral diminui a quantidade do HIV no corpo do indivíduo. Quando a carga viral é tão baixa a ponto de testes de laboratório não detectarem a presença no sangue, a pessoa soronegativa não pega o vírus.
Mosquito passa HIV?
Não. Nem compartilhar talheres, equipamentos da academia, beijar ou sentar no mesmo vaso sanitário.
Como funciona o antirretroviral?
O HIV é um vírus que, uma vez no sangue do indivíduo, vive por cerca de duas horas. Por isso, precisa se multiplicar, invadindo outras células. O antirretroviral impede que o HIV se multiplique em diferentes fases do processo.
Como saber que a pessoa está indetectável?
É preciso realizar teste de sangue no laboratório.
A carga viral da pessoa pode subir de uma hora para outra?
Não se ela tomar o remédio todos os dias.
É possível se proteger contra a infecção por HIV?
Sim. Além da camisinha, há um remédio para isso: chama-se Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): uma pílula azul que contém dois antirretrovirais, tomados por quem não tem HIV. O remédio é disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro desde o ano retrasado (veja a seguir onde buscar). Também está presente em países como Estados Unidos, França, Inglaterra, Canadá, entre outros.
Existe vacina contra o HIV?
Ainda não, mas há uma vacina candidata, que está começando a ser testada em seres humanos, em vários países do mundo. Pela primeira vez na história, o Brasil fará parte de testes.
Onde buscar PrEP no SUS
Porto Alegre
- SAE Santa Marta: R. Capitão Montanha, 27, 5º andar, Centro Histórico. Fone (51) 3289-2924
- SAE Vila dos Comerciários: R. Prof. Manoel Lobato, 151. Apenas telefone: (51) 3289-4051
- SAE IAPI: R. Três de Abril, 90, 2º andar, área 12, IAPI. Apenas telefone: (51) 3289-3414
- CTA Caio Fernando Abreu (para quem mora em outras cidades): Av. Bento Gonçalves, 3.722, Partenon. Fones (51) 3901-1328/3336-1883
Interior
- Caxias do Sul – R. Sinimbu, 2.231, 1º andar. Fone (54) 3217-8833
- Gravataí – R. Ernesto Fonseca, 35. Fone (51) 3600-7780
- Lajeado – SAE: (51) 3982-1131/1304
- Novo Hamburgo – SAE: R. General Osório, 868. Fone (51) 3581-3322
- Pelotas – SAE UFPel: Av. Almirante Guillobel, 221. Fone (53) 3921-1179
- Rio Grande – Ambulatório: R. Marechal Floriano, 5. Fone (55) 3232-5845
- Santa Rosa – SAE: fone (55) 3513-5160
- São Leopoldo – SAE: R. Osvaldo Aranha, 779. Fone (51) 3289-3414
- Sapucaia do Sul – SAE: R. Sete de Setembro, 35. Fone (51) 3453-7002