Quarenta anos se passaram desde que a medicina ficou em alerta, em 1981, para uma infecção rara que atingia o sistema imunológico. De lá para cá, houve avanço no tratamento e esperança em um diagnóstico que, no início, era dado como sentença de morte. Mas ainda há desafios a serem vencidos neste 1° de dezembro, Dia Mundial da Luta contra a Aids.
Um dos principais é o preconceito. Se no início a aids era associada a uma vida desregrada e a homens que praticam sexo com outros homens, hoje é sabido que o HIV, vírus que pode provocar a doença, acomete tanto homossexuais quanto heterossexuais. Também pode afetar quem mantém poucos e fixos parceiros. Não tem a ver com estilo ou orientação e sim com exposição ao sexo desprevenido, principal forma de transmissão.
— O estigma e o preconceito continuam. Pode ser da sociedade ou da própria pessoa infectada. É uma doença associada à promiscuidade, ao castigo, ao pecado. E isso atrapalha principalmente as mulheres, que guardam para si o diagnóstico — diz o médico Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um dos centros de referência no tratamento da aids no Rio Grande do Sul.
Capital com a maior taxa de detecção de aids no país — são 58,5 casos para 100 mil habitantes, valor três vezes maior que a taxa nacional, de 17,8 —, Porto Alegre vive uma epidemia generalizada, com distribuição equilibrada entre homens e mulheres, segundo a enfermeira Fernanda Vaz Dorneles, coordenadora do núcleo de Doenças Transmissíveis Crônicas da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
— Existe esse perfil antigo de infectados que são homens e homossexuais. Aqui em Porto Alegre, é diferente. Não há um número discrepante entre homens e mulheres infectados. É o que chamamos de epidemia generalizada. A maioria é homem, mas é pouco significativa em relação às mulheres — diz.
Derrubar o tabu que envolve a doença e provoca medo de sofrer discriminação é urgente, pois impede que as pessoas façam o teste para descobrir se estão infectadas e, no caso de diagnóstico positivo, de iniciar um tratamento adequado. Lidando com soropositivos desde 2011 no Centro de Testagem e Aconselhamento Santa Marta, um das três unidades de saúde da Capital que fazem tratamento e prevenção ao HIV, a enfermeira Karen Furlanetto é taxativa: para ela, o preconceito é capaz de matar.
— Por causa do preconceito, a pessoa pode deixar de se tratar e acabar transmitindo para mais pessoas. Para estar em tratamento, a pessoa precisa encarar — incentiva.
Embora esteja no topo do ranking, Porto Alegre também tem uma ampla rede de atendimento, que facilita o diagnóstico precoce do HIV. Desde 2012, é possível fazer um teste rápido em qualquer unidade de saúde, com resultado saindo em cerca de 30 minutos e, caso seja necessário, encaminhamento a exames complementares.
Na avaliação de Fernanda, o ideal é que toda pessoa sexualmente ativa faça o teste para saber se possui alguma doença que pode ser transmitida via ato sexual.
— Sexo seguro não é só sexo com preservativo. É, sobretudo, o sexo onde sabemos nossa condição sorológica e o do nosso parceiro. Tem que fazer o teste rápido — incentiva.
Um ponto positivo quando se fala em prevenção é a Profilaxia Pré-Exposição (PreP), combinação de dois medicamentos (tenofovir e entricitabina), disponível na rede pública de saúde da Capital desde 2018, que reduz em 90% as chances de infecção pelo HIV. Consiste em um comprimido que deve ser tomado à risca, todos os dias, exclusivamente por pessoas mais vulneráveis ao vírus: gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo e pessoas que têm como parceiros alguém soropositivo.
E os resultados são animadores: segundo Karen, que administra a PreP no posto de saúde Santa Marta, nenhum dos 650 pacientes que fazem uso da medicação adquiriram HIV. É uma conquista para um público que antes só tinha a camisinha como forma de precaução.
No entanto, na avaliação da enfermeira, é mais uma prova de que a ciência avança mais rápido do que o comportamento humano. Se hoje há uma pílula capaz de impedir que o HIV afete o organismo, um soropositivo ainda tem vergonha de se assumir perante a sociedade.
— A medicação evolui muito, a prevenção evolui muito, mas o preconceito não retrocedeu. Sem preconceito, a gente teria evoluído muito mais. O que ainda vai mal é a questão social — reflete Karen.
Veja onde fazer o teste rápido para HIV em Porto Alegre:
- Em todas as Unidades Básica de Saúde da Capital, que disponibilizam testes para HIV, Sífilis, Hepatites B e C
- No Centro de Testagem e Aconselhamento Santa Marta: Rua Capitão Montanha, Nº 27 - 5º andar - Centro
Veja onde receber atendimento para HIV e aids em Porto Alegre:
A orientação da Secretaria Municipal de Saúde é procurar a unidade de saúde mais próxima de sua casa. Caso seja necessário e os requisitos sejam atendidos, a pessoa será encaminhada para atendimento em um dos seguintes Serviços de Atendimento Especializado (SAE):
- SAE Centro de Testagem e Aconselhamento Santa Marta: Rua Capitão Montanha, n° 27 - 5º andar, das 8h às 17h;
- SAE GCC: Rua Moab Caldas Nº 400 - área 11, das 8h às 17h;
- SAE NHNI: Rua Três de Abril Nº 90 – área 12, das 8h às 17h