O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu nesta quinta-feira (25) que houve uma divergência entre a pasta e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nas orientações sobre dose de reforço da vacina covid-19 no Brasil. Pelas recomendações da agência, aprovadas na quarta (24), quem tomou a dose única da Janssen e duas da AstraZeneca deve receber uma aplicação a mais da mesma vacina . Já o ministério aposta na mistura de imunizantes para o reforço.
— A Anvisa falou preferencialmente na vacinação homóloga. Ou seja, é uma pequena divergência de natureza técnica que, na minha opinião, em nada prejudica os rumos da campanha de vacinação e sempre que houver necessidade de fazer adequações, nós todos aqui saberemos tomar as melhores decisões — disse, durante reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), realizada em Brasília com representantes de estados e municípios.
Queiroga afirmou ainda que “as vacinas não devem ser problema, elas são a solução para o problema” e não deu sinais que irá voltar atrás nas orientações, mesmo após o posicionamento da Anvisa.
— A orientação que o Ministério da Saúde fez foi que essas vacinas fossem feitas com um imunizante diferente que foi utilizado para a imunização primária, com exceção das vacinas de RNA (como a Pfizer) que teriam, preferencialmente, o mesmo imunizante. É claro que ainda não há um posicionamento sólido a cerca dessa questão da vacinação heteróloga, até porque tudo em relação à vacinação contra a covid-19 é recente. As evidências estão sendo construídas — explicou.
Nos bastidores, porém, circula a informação de que a pasta pode voltar atrás nas orientações de reforço para quem tomou a vacina da Janssen. O ministério ainda não colocou no papel as recomendações em uma nota técnica, como é de costume.
O anúncio feito por Queiroga, durante uma coletiva de imprensa em Brasília na semana passada, era de que quem tomou a dose única tomaria uma "segunda dose" da mesma vacina e, cinco meses depois, poderia receber uma terceira dose de qualquer laboratório. A tendência é de que o ministério possa seguir o posicionamento da Anvisa e recomende apenas uma dose de reforço da Janssen, e mais duas doses além da dose única, para quem tomou o imunizante.
Em novembro, mais de 2,1 milhões de doses da Janssen chegaram ao Brasil. Os lotes, porém, estão parados no estoque do Ministério da Saúde em Guarulhos (SP) aguardando a liberação do INCQS, órgão que faz o controle de qualidade das vacinas. Não há previsão de distribuição aos estados e ao Distrito Federal.
Entenda
A dose de reforço na população adulta foi anunciada no último dia 16 pelo Ministério da Saúde. Pela orientação, todas as pessoas acima de 18 anos vacinadas com as duas doses da Pfizer, da AstraZeneca ou da Coronavac poderão receber uma terceira dose. Preferencialmente, foi recomendado o imunizante da Pfizer para o reforço, independentemente das vacinas usadas no esquema primário (dose 1 e 2).
Como a Anvisa não participou das decisões junto ao ministério, nesta quarta (25) a diretoria colegiada decidiu se posicionar sobre a aplicação de doses de reforço no Brasil. Em votação unanime entre os diretores, a agência reguladora recomendou à pasta que:
- Quem tomou a vacina da Pfizer, deve receber a dose de reforço de Pfizer;
- Quem tomou CoronaVac, deve reforçar a vacinação também com Pfizer;
- Quem recebeu a AstraZeneca e Janssen, preferencialmente deve fazer o reforço com a mesma vacina;
- Quando for necessário usar uma vacina de laboratório diferente, que se use Pfizer.
O Ministério da Saúde não precisa, necessariamente, seguir as recomendações da agência reguladora, podendo tomar suas próprias decisões sobre a vacinação com base no cenário epidemiológico e em estudos próprios.