O sequenciamento de 86 amostras de coronavírus coletadas em 12 municípios do Rio Grande do Sul, feito na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, identificou a presença da variante Delta em 25% dos casos e reforçou os indícios de que a nova cepa vem ganhando cada vez mais espaço no Estado. No começo do mês, análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontavam uma proporção de 15%.
O novo trabalho, desenvolvido pela Rede Corona-Ômica, integrante da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, revela ainda que a Delta estava presente em solo gaúcho antes do que se pensava e vem dando origem a novas mutações – ainda sem qualquer sinalização de perigo adicional.
O sequenciamento realizado no Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale confirmou a presença da variante em amostras colhidas aleatoriamente nos municípios de Canoas, Estância Velha, Garibaldi, Novo Hamburgo e Porto Alegre. A pesquisa envolveu material genético captado entre 15 de junho e 9 de agosto de pacientes com idades entre 10 e 93 anos. O trabalho incluiu ainda viajantes abordados no Aeroporto Salgado Filho em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde da Capital.
De acordo com o virologista Fernando Spilki, pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão da Feevale e coordenador da rede Rede Corona-Ômica, os dados confirmam descobertas recentes feitas em outras regiões do país, como a presença cada vez mais comum da Delta.
Spilki observa que essa cepa foi observada com frequência ainda maior nas amostras coletadas mais recentemente – uma sinalização de que estaria ganhando terreno em velocidade crescente. Entre os 10 genomas encaminhados em agosto, a mutação respondeu por metade do material estudado. No material coletado em julho, correspondiam a 20%.
— Parece haver uma tendência de predominância — sustenta Spilki.
Outra constatação é de que a Delta vem gerando novos ramos além da linhagem B.1.617.2 (mais comum, encontrada em 12 casos). Novas mutações geradas a partir da Delta, mas que ainda permanecem classificadas sob essa denominação mais geral, foram localizadas: nove casos da linhagem AY.4 e uma da AY.12. Ou seja, todas ainda são classificadas como Delta, mas já com algumas diferenças genéticas entre si que podem se intensificar ao longo do tempo.
— Não está notificado para essas linhagens, ainda, um incremento de transmissibilidade. Mas é aquele mesmo fenômeno que a gente vem enxergando com a P.1 (rebatizada como Gama, com origem em Manaus). Essas variantes vão abrindo novos ramos que vão sofrendo mutações e desenvolvendo o que, lá no futuro, pode se tornar algum tipo de problema — esclarece Spilki.
Outra constatação do estudo é de que a Delta já estava presente no Rio Grande do Sul antes do que se pensava. Dois casos de covid-19 provocados por essa cepa foram identificados a partir de amostras coletadas em 17 de junho na cidade de Garibaldi – antes das primeiras notificações oficiais, que só ocorreriam no mês seguinte.
— Isso demonstra que já tínhamos alguns casos, ainda que isolados, mas poderia estar circulando no Estado antes do que sabíamos. Isso é normal, já ocorreu em outros momentos e não quer dizer que a partir desses casos que ela começou a se disseminar. Mas descobrimos uma parte a mais do passado e também é relevante porque, em Garibaldi, identificamos número expressivo de casos de Delta — complementa Spilki.
O restante das amostras sequenciadas, o equivalente a 75%, correspondeu à variante Gama. Ao todo, foram coletadas amostras nas cidades de São Sebastião do Caí, Sapucaia do Sul, Quaraí, Alvorada, Campo Bom, Canoas, Estância Velha, Esteio, Garibaldi, Minas do Leão, Novo Hamburgo e Porto Alegre, além de viajantes de outros Estados.
O que diz a prefeitura de Garibaldi:
Em nota, a prefeitura afirma que "os pacientes foram devidamente acompanhados" e que "um segue internado". O texto inclui que "nenhum óbito foi registrado entre os seis pacientes".
"A Prefeitura atua incessantemente no combate à Covid-19, com ampla testagem e vacinação. Neste mês de agosto, Garibaldi alcançou o índice de 78% da população vacinada com a primeira dose e 32% com o esquema vacinal completo. Importante sempre reforçar que a comunidade continue buscando os pontos de imunização, de acordo com o calendário estabelecido", diz a nota.