Detectada pela primeira vez no Nepal, uma subvariante da Delta, chamada de Delta Plus, começa a ganhar atenção dos cientistas. Ela já foi identificada em pelo menos 30 países — o Brasil não está na lista. Segundo o rastreador Outbreak.info do instituto de pesquisa Scripps Research, até a publicação desta matéria, 612 casos da subvariante do coronavírus haviam sido detectados, a maioria deles nos Estados Unidos.
De acordo com o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI, Fernando Spilki, também professor do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, a Delta Plus traz mais uma mutação na proteína spike (K417N), que também é encontrada em outras variantes e responsável por ajudar o coronavírus a entrar na célula.
— Há dúvidas sobre o quanto essa variante, de fato, traz uma preocupação mais alta — declara o especialista.
Spilki esclarece que, a cada nova infecção, o vírus sofre mutações, e muitas delas não permanecerão. Todavia, quando as alterações no genoma podem dar ao vírus uma vantagem, como uma maior transmissibilidade, essas mutações se acumulam. Essa condição é capaz de dar origem a novas variantes, que podem se disseminar.
— Como é um processo que se dá ao acaso, quanto mais casos de covid-19 ativos, mais chances do surgimento de novas variantes — alerta Spilki.
Para o médico Alessandro Pasqualotto, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia da Capital e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), tem havido uma ênfase exagerada na importância das variantes por existir uma teoria de que elas sejam mais transmissíveis. Ele sugere que as variantes podem não estar transmitindo mais, mas sendo detectadas na presença de aglomerações populacionais.
— Da variante Delta, o que se diz é que ela é mais transmissível, mas essas variantes foram identificadas justamente no momento onde o comportamento humano propiciou o surgimento das variantes. Foram depois de grandes festividades, realizadas ao redor do mundo, que as variantes foram detectadas — explica.
Pasqualotto reforça a importância de não se relaxar as medidas de prevenção, e ele cita como exemplo os norte-americanos, europeus e israelenses, que, segundo ele, relaxaram em demasia, dando espaço para uma nova explosão de casos nesses países.
— A perda do controle da pandemia só ocorrerá se não tomarmos as medidas de precaução e não nos vacinarmos em massa. O Brasil tem tudo para dar o exemplo, mantendo as medidas de distanciamento, o que será difícil à medida que abrirem todas as atividades econômicas neste país — afirma Pasqualotto.
Spilki acrescenta que é necessário manter um ritmo acelerado de vacinação e uma adesão alta da população a esse processo.
— Ainda que estejamos bem longe de metas de vacinação completa, já vemos prováveis efeitos desse processo. Ainda assim, seria importante que tenhamos consciência de que, mesmo com casos em declínio, não estamos livres da possibilidade de uma ressurgência da pandemia — alerta Spilki.