As autoridades internacionais de saúde observam com uma lupa as variantes do coronavírus. Além da preocupação mundial com a cepa Delta, que representou quase 90% dos casos de infectados a partir de julho deste ano em todo o planeta – no Brasil, a cepa dominante é a Gama –, conforme boletim da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), há uma luz de alerta ligada para acompanhar três novas mutações do coronavírus, identificadas como Iota, Lambda e Delta Plus.
De acordo com os especialistas, a principal atenção é com a capacidade de transmissão e letalidade que essas novas variantes possuem em cenários fora dos países de origem. A variante Delta, por exemplo, comprovadamente é mais contagiosa e não seria mais letal do que as anteriores, já identificada em 135 países.
A Iota ainda não foi oficialmente localizada fora dos Estados Unidos. Já a Lambda, originária do Peru, a variante, também chamada de andina, representava mais de 80% dos casos, em julho, e já havia sido encontrada na Argentina, Brasil e em outros países da América Latina.
A Delta Plus já foi confirmada em amostras de Israel, Estados Unidos, Dinamarca e Reino Unido, onde a mutação da variante Delta já representa cerca de 6% dos casos de covid-19.
O virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, frisa que as novas cepas dependem de um grande número de infectados para ocorrerem com mais frequência:
— As mutações acontecem o tempo todo, mas as que vão se fixar, normalmente, são aquelas que levam o vírus a ter uma transmissibilidade mais alta para que ele consiga se disseminar mais. Gravidade, severidade da doença e letalidade, geralmente, não são um objetivo, pois, se ele mata muito, não vai conseguir infectar mais hospedeiros, porque ele vai matá-los antes que eles transmitam o agente.
Segundo o docente, a tendência é de que essas novas cepas evoluam para maior transmissibilidade e reduzam a severidade. Contudo, isso não significa que quaisquer alterações não possam acarretar mais gravidade da doença. Além disso, como a introdução desses vírus é relativamente recente na espécie humana, isso também pode significar mais gravidade em alguns casos.
Outro ponto abordado pelos especialistas é que as mutações virais ocorrem, principalmente, em função da demora em completar a imunização de uma determinada região. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Guimarães da Fonseca, a principal forma de combater as variantes é aumentar a velocidade da imunização completa de uma população. O Brasil atingiu esta semana 50% das pessoas acima de 12 anos com o esquema completo.
— Quanto mais lentamente a imunização com duas doses ocorre, maior é a probabilidade de que novas variantes apareçam. Por isso, é fundamental que a imunização não atrase. No caso da Delta, a grande diferença é a capacidade dela em infectar células rapidamente e produzir novos vírus através da célula infectada. Ela se multiplica mais rapidamente, tornando-se mais infecciosa.
As variantes Alfa, Beta, Gama e Delta são consideradas “variantes de preocupação”, conforme a Organização Mundial da Saúde. Isso significa que elas já se disseminaram além das regiões em que foram descobertas. Cepas como a Lambda e a Iota ainda são tratadas pelas autoridades como "variantes de atenção" porque foram oficialmente encontradas fora dos locais de origem. A Delta Plus ainda não figura em nenhuma das duas listas.