Detectada pela primeira vez no Nepal, uma subvariante da Delta, a AY4.2, começa a ganhar atenção dos cientistas. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) não a tenha listado como “variante de preocupação” – quando há disseminação para além da região em que foi descoberta – nem como "variante de atenção" – por ser oficialmente encontrada fora dos locais de origem –, autoridades de saúde do Reino Unido já afirmam que estão monitorando de “muito de perto” a mutação.
Na quarta-feira (20), o Ministério da Saúde de Israel confirmou o primeiro caso da variante, apelidada de Delta Plus, no país. No mesmo dia, a diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, Rochelle Walensky, afirmou que a nova mutação da Delta foi identificada em solo norte-americano. Walensky ressaltou, porém, que a "subvariante" não foi encontrada em surtos de covid-19. O governo da Dinamarca também já confirmou infecções no país.
Mas é no Reino Unido que a Delta Plus mostra mais contágios. Por lá, a mutação já representa cerca de 6% dos casos de covid-19, conforme a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido.
Observando o comportamento da AY.4.2, o diretor do Instituto de Genética da University College of London, no Reino Unido, Francois Balloux, estima que ela possa ser cerca de 10% mais transmissível em relação à Delta – a partir de julho deste ano, a cepa foi responsável por 90% dos casos no mundo.
Mesmo assim, especialistas consideram que não é possível associar ainda a Delta Plus ao aumento da contaminação, e apontam o fim das medidas restritivas e a cobertura vacinal estagnada como alguns fatores que propiciam o avanço do vírus.
– O surgimento da AY4.2 não é uma situação comparável à das cepas Alfa e Delta, que eram muito mais transmissíveis (50% ou mais) do que qualquer cepa que circulava naquele momento – afirma François Balloux, diretor do Instituto de Genética da University College London.
Além de ser potencialmente mais transmissível, outra preocupação é se a Delta Plus consegue escapar dos anticorpos produzidos pelas vacinas. O geneticista e diretor do Laboratório Genetika, em Curitiba, Salmo Raskin, explicou ao jornal O GLOGO que, apesar de os imunizantes terem sido criados para combater a variante original do SARS-CoV-2, identificada em Wuhan, na China, eles têm se mostrado eficazes contra todas as variantes posteriores. Mas estudos ainda são necessários para saber como funciona na prática com a AY.4.2.
Mutação da proteína Spike
De acordo com o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI, Fernando Spilki, também professor do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, a Delta Plus traz mais uma mutação na proteína spike (K417N), que também é encontrada em outras variantes e responsável por ajudar o coronavírus a entrar na célula.
Spilki esclarece que, a cada nova infecção, o vírus sofre mutações, e muitas delas não permanecerão. Todavia, quando as alterações no genoma podem dar ao vírus uma vantagem, como uma maior transmissibilidade, essas mutações se acumulam. Essa condição é capaz de dar origem a novas variantes, que podem se disseminar.