Com foco no diagnóstico ultraprecoce de câncer de pulmão, o Hospital São Lucas (HSL) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) está incorporando a inteligência artificial a exames de tomografia computadorizada para detectar e iniciar o quanto antes o tratamento da doença, aumentando a chance de cura e a redução da mortalidade.
A tecnologia desenvolvida pela startup Exper, localizada no núcleo de saúde do Tecnopuc, é inédita no Brasil e pode beneficiar fumantes a partir dos 50 anos. O Check Lung, um check-up pulmonar, avalia se o paciente tem ou não câncer de pulmão e investiga marcadores para outras enfermidades que podem acometer a cavidade torácica, como cardiopatias, enfisema e fibrose pulmonar, osteoporose e esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado).
Os dados da tomografia seguem para a análise feita por um software, e o resultado, que fica pronto em até três horas, é liberado junto do resultado do exame de imagem. A solicitação para o procedimento deve partir do médico de referência, como cardiologista ou pneumologista.
Antes de ser disponibilizada ao público, a tecnologia foi objeto de estudos com a participação de pacientes do HSL e também da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. As conclusões se mostraram surpreendentes: 70% daqueles que passaram pelo procedimento receberam diagnóstico ultraprecoce dessas doenças, em especial do câncer de pulmão, e se submeteram a tratamento que acabou por ser curativo. De acordo com Bruno Hochhegger, médico radiologista torácico do HSL e professor de Diagnóstico por Imagem da Escola de Medicina da PUCRS, a taxa normal de diagnóstico precoce do câncer de pulmão, a partir do início do aparecimento dos sintomas, é de 10%.
Ana Gelatti, oncologista clínica do HSL e do Grupo Oncoclínicas, acrescenta que, atualmente, existem tratamentos diferenciados, mas acessíveis a parcelas pequenas da população, com características muito específicas – ou seja, não se trata de uma realidade da qual todos possam se beneficiar.
— Fazer esse diagnóstico antes certamente vai impactar na mortalidade — diz Ana. — Se encontramos lesões, conseguimos acompanhar com exames, fazer cirurgia precocemente ou até usar alguma outra tecnologia — complementa.
A oncologista comenta que a importância dos cuidados preventivos com o pulmão ainda não é bem conhecida do público, fazendo uma comparação com as campanhas anuais que destacam a importância dos exames de mama e próstata, alertas já bem mais difundidos.
— Tem um estigma maior em relação ao câncer de pulmão por causa do cigarro. As pessoas se sentem mais culpadas, têm dificuldade maior de procurar ajuda, não é fácil parar de fumar — observa a médica, ressaltando que 20% dos casos de câncer pulmonar não estão relacionados ao tabagismo.
Hochhegger destaca também que a ferramenta teve ótimo desempenho na fase de estudos em relação às outras enfermidades, permitindo a descoberta de patologias que os médicos nem estavam, inicialmente, procurando.
— Aumentou em 82% o índice de novos diagnósticos de outras doenças — informa Hochhegger.
O atendimento no HSL ainda está reduzido por conta das restrições da pandemia, mas, até o momento, cerca de 60 pessoas já passaram pelo Check Lung.
— Isso vem a calhar no pós-covid, já que muita gente ficou muito tempo sem fazer exames — comenta o médico.