Começou nesta segunda-feira (3) a distribuição de 500 mil doses da vacina da Pfizer/BioNTech no país. A quantidade faz parte do primeiro lote, com 1 milhão de doses, que chegou ao Brasil na quinta-feira passada (29). Na noite desta segunda, o Rio Grande do Sul recebeu 32.760 unidades do imunizante, remessa que será utilizada apenas em Porto Alegre para a aplicação da primeira dose.
De acordo com informe técnico do Ministério da Saúde publicado no domingo (2), a orientação da pasta é para que Estados e municípios apliquem as duas doses da vacina com 12 semanas de intervalo (três meses). Este espaçamento, porém, não é o recomendado pela fabricante. Conforme apurou o G1, a Pfizer afirmou em janeiro que só pode garantir a eficácia da vacina se ela for dada com 21 dias de intervalo entre as doses, conforme foi realizado o seu teste. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também defende o intervalo sugerido pela empresa, mas admite uma ampliação para, no máximo, até 42 dias (seis semanas).
Consultada pela reportagem de GZH, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que ainda está avaliando como será o cronograma de aplicação da segunda dose no Rio Grande do Sul.
Para justificar a orientação de três meses de intervalo entre doses, o Ministério da Saúde informou, em nota técnica, que está adotando o mesmo espaçamento usado no Reino Unido, que ampliou o prazo com base em estudos que constataram que o imunizante confere algum nível de proteção mesmo com apenas uma dose:
- Uma pesquisa feita naquele país obteve índice de 80% de efetividade da vacina na redução do risco de hospitalização com apenas uma dose em pessoas com 70 anos de idade ou mais.
- Um segundo estudo, publicado na revista científica The Lancet, apontou que a vacina reduziu em 75% a transmissão do coronavírus e de 85% dos casos sintomáticos de covid-19 menos de um mês depois da aplicação da primeira dose. Os autores da pesquisa, que data de fevereiro deste ano, destacaram que os resultados davam suporte à possibilidade de adiar a segunda dose em cenário de escassez de vacinas.
- Um terceiro estudo concluiu que a transmissão do coronavírus cai pela metade com apenas uma dose das vacinas da Pfizer ou da AstraZeneca/Oxford.
— Com 80% de proteção para uma dose, pode ser uma política boa para o Brasil nesse momento, de vacinar o máximo de pessoas possível. Se for o caso de usar todas as doses e vacinar com essa proteção alta, de 80% para uma dose, poderia fazer sentido — disse ao G1 a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, que avalia que atrasar a segunda dose pode ser uma boa estratégia, desde que ela esteja garantida.
O infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pondera que as informações acerca da temática de que três meses possa ser um intervalo seguro entre as duas doses da Pfizer ainda são preliminares, e que os estudos não foram feitos no Brasil.
— A estratégia do Ministério é baseada em estudos observacionais, ou seja, em informações das quais ainda não se tem certeza absoluta. Pode ser que, com ela, possamos imunizar um maior número maior de pessoas sem comprometer a eficácia da vacina, mas isso é baseado em informações vindas do Reino Unido, não sabemos se é válido para a nossa população, dado que temos uma variante diferente. Porém, como nesse momento ainda é um número muito pequeno de vacinação com a Pfizer no Brasil, a acredito que esse intervalo maior, para poder vacinar um número maior de pessoas com a primeira dose, trará mais benefícios do que malefícios — avalia Sprinz.