A ciência aponta para uma nova possível sequela deixada pela infecção provocada pelo coronavírus. Pesquisadores da Universidade de Miami, nos EUA, evidenciaram que pequenas partículas do vírus podem permanecer alojadas no tecido peniano, mesmo após a cura da infecção pela doença, por aproximadamente seis meses e provocar disfunção erétil. O estudo foi publicado no início deste mês no periódico World Journal of Men’s Health.
De acordo com os cientistas, foi constatado que homens que nunca tiveram problemas de impotência sexual passaram a enfrentar esse quadro após infecção pelo coronavírus. A partir daí, os pesquisadores recolheram amostras de tecidos do pênis de dois homens que tiveram covid-19 e se recuperaram. Um dos voluntários chegou a ser internado, enquanto o outro teve somente sintomas leves. Porém, os dois apontaram problemas de disfunção erétil.
Segundo os resultados obtidos, o vírus foi encontrado nos tecidos do pênis dos dois voluntários. Além disso, foi constatado que ambos apresentavam sintomas de disfunção do epitélio. Por outro lado, outros dois homens estudados, que não foram infectados pelo vírus, não apresentaram as disfunções citadas.
Gustavo Carvalhal, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que esse estudo mais levanta uma hipótese do que uma conclusão sobre o efeito de causalidade entre a covid-19 e a impotência sexual. O especialista explica ainda que a infecção provocada pelo coronavírus tem como uma de suas principais sequelas a formação de tromboses de pequenos vasos, o que acarreta o infarto de tecidos. E para que ocorra uma ereção é preciso que esteja mantida a integridade do tecido interno vascular (endotélio):
— Funciona da seguinte maneira: é preciso que o sangue alcance o que chamamos de corpos cavernosos, que são estruturas do pênis que ficam irrigadas com sangue após estímulos. Assim acontece a ereção. Porém, é sabido que o coronavírus gosta de atacar o endotélio. Estando essas artérias do pênis danificadas, teremos casos de disfunção erétil. Porém, essa ainda é uma especulação. Para se comprovar a relação entre esses dois fatores, são necessários mais estudos.
Contudo, o professor da PUCRS afirma que os afetados pela pandemia também podem encarar esse problema, mas não, necessariamente, por questões de ordem fisiológica. O psicológico tem grande importância nesse contexto.
— Muitas pessoas que contraem a enfermidade ficam com estresse pós-traumático porque o medo da morte aflora e isso mexe com o psicológico de qualquer pessoa. Até mesmo a possibilidade de infecção pelo coronavírus gera depressão, ansiedade, e isso já é sabido que prejudica a vida sexual — salienta Carvalhal.