É no jardim e na capela do Lar São Francisco de Assis, em Caxias do Sul, que as visitas presenciais aos residentes voltaram a ocorrer de forma agendada, desde a semana passada. Conforme a presidente da instituição, Analice Carrer, a decisão foi tomada depois que todos os 68 idosos e os funcionários foram vacinados contra a covid-19.
Segundo Analice, como há idosos que vivem há mais de uma década no local, a sensação é de que quem mora no lar faz parte de uma grande família. Em dezembro do ano passado, a instituição enfrentou um surto da doença, que culminou na morte de 11 idosos por covid-19, trauma que até hoje é motivo de trabalho entre a psicóloga e os idosos.
— Eles criam um ambiente familiar no grupo e acabam se tratando como irmãos. Por isso, sofreram muito com as partidas e precisaram passar por terapia — destaca Analice.
Ainda em dezembro passado, a instituição assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público (MP) se comprometendo a reforçar medidas de prevenção contra a covid-19 e adotar novas precauções. A maioria das ações já era desempenhada pela instituição, segundo Analice:
— Não tivemos mais nenhum caso de covid-19 depois de dezembro. Antes da vacina, tínhamos a insegurança. Agora, estamos um pouco mais tranquilos, mas os cuidados seguem os mesmos.
A volta das visitas presenciais é uma tentativa de amenizar a dor ainda existente entre os moradores. Elas ocorrem sempre com a presença de funcionário do lar. Na terça-feira passada, a aposentada Ironita Wilbert, 67 anos, emocionou-se ao reencontrar a tia, a comerciante aposentada Soely Santuari, 90, moradora do lar há dois anos. A última visita presencial, com direito a abraços, ocorreu em 18 de março do ano passado, data que não sai da memória de Ironita. Até a festa de nove décadas de vida da tia acabou sendo virtual.
Em setembro, Ironita pôde rever Soely durante 15 minutos. Desde então, os encontros passaram a ser apenas por videochamada.
— Minha tia é como uma mãe para mim. Uma pessoa muito positiva. Ela sempre disse que estava tudo bem, mas sentia saudade do nosso abraço. Eu a visitava todas as semanas. Esperei muito por este momento de reencontrá-la
IRONITA WILBERT
Sobrinha de moradora do Lar
Depois de colocar um avental e propés, Ironita se dirigiu à capela da instituição. Carregando um cartão em formato de coração, com uma mensagem carinhosa a Soely, e mesmo mantendo a distância de dois metros, a sobrinha não conteve as lágrimas ao revê-la:
— Foi um dia muito especial. Não teve o abraço físico, mas teve um abraço de sentimento e me imaginei abraçando ela. Foram minutos abençoados. Só me fez fortalecer o amor que eu tenho pela minha tia.