Municípios de diversos Estados encaminharam reclamações à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o recebimento de lotes da vacina CoronaVac com menos doses do que o indicado nos protocolos. No Rio Grande do Sul, 127 prefeituras fizeram esse comunicado, alegando o problema. A redução, segundo as prefeituras, está na quantidade de vacina em cada ampola e não no número de frascos.
— A notificação é que estavam sendo aspiradas entre oito e nove doses em cada ampola, quando deveriam ser dez. A partir da oitava remessa de vacinas que chegou ao Estado é que começamos a verificar esse problema — relata o presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) e secretário da Saúde de Canoas, Maicon de Barros Lemos, ao ressaltar que o problema também tem ocorrido em outros Estados.
De acordo com o dirigente, essa redução de doses não foi verificada nos lotes da vacina Oxford/AstraZeneca. Não há um levantamento por parte do Cosems-RS de quantas doses teriam deixado de chegar ao Estado.
Em Porto Alegre, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) identificou que faltaram 1.251 doses em frascos de cinco lotes do imunizante contra covid-19. Conforme a Diretoria de Vigilância em Saúde da SMS, o período de identificação do problema vai de 30 de março a 7 de abril.
Procurada por GZH, a Anvisa disse que não tem como “antecipar detalhes de processos ainda em investigação”. Mas adianta que “observou um aumento de queixas técnicas relacionadas à redução de volume nas ampolas da vacina”. Também que esses relatos “estão sendo investigados com prioridade pela área de fiscalização”.
A Anvisa esclarece que “estes eventos são considerados de baixo risco, por não haver risco de óbito, de causar agravo permanente e nem temporário”.
No entanto, esclarece que “todas as hipóteses estão sendo avaliadas para que se verifique a origem do problema e não haja prejuízos à vacinação em curso no país”.
O Ministério da Saúde informa que é para que “Estados e municípios registrem no formulário técnico quando não for possível aspirar o total de doses declaradas nos rótulos das vacinas”.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) orienta que todas as notificações sejam informadas à Anvisa, por meio dos sistemas oficiais que a agência dispõe.
O que diz o Instituto Butantan
O Instituto Butantan é responsável pela produção da CoronaVac. Em nota enviada a GZH, descarta que tenham sido enviadas ampolas com menor quantidade aos estados. Sustenta que essa redução deve estar ligada à forma com que os vacinadores aspiram o líquido do imunizante com a seringa. Diz que cada frasco contém 10 doses de 0,5 ml cada, totalizando 5 ml, e adicionalmente ainda é envasado conteúdo extra, chegando a 5,7 ml por ampola.
“Esse volume, devidamente aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é suficiente para a extração das dez doses. É importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para aspiração correta de cada frasco-ampola, além de usar seringas e agulhas adequadas, para não haver desperdício”, diz a nota.
Segundo o Butantan, todas as notificações recebidas até o momento relatando suposto rendimento menor das ampolas foram investigadas, e “identificou-se, em todos os casos, prática incorreta na extração das doses nos serviços de vacinação. Portanto, não se trata de falha nos processos de produção ou liberação dos lotes pelo Butantan”.
O instituto afirma, ainda, que realizou por meio de seus canais de comunicação informes técnicos no sentido de orientar os profissionais da saúde a usar as doses extras.
“É essencial que tais profissionais sigam as orientações e práticas adequadas, no intuito de evitar perdas durante a aspiração da vacina. Seringas de volumes superiores (ex: 3ml, 5ml), podem gerar dificuldades técnicas para visualizar o volume aspirado, uma vez que podem não possuir as graduações necessárias. Outro fator decisivo é a posição correta do frasco e da seringa no momento da aspiração”.
O Instituto Butantan encerra a nota afirmando que “vai revisar a bula da vacina Coronavac, no intuito de promover de forma ainda mais clara as informações relacionadas à forma correta de se realizar a aspiração das doses, adicionando inclusive um QR Code que irá direcionar para um vídeo demonstrativo do procedimento”.