O Rio Grande do Sul está entre os Estados brasileiros que mais aplicaram a primeira dose da vacina contra a covid-19, com 15% da população em geral atendida. Mas uma análise realizada por pesquisadores das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de São Paulo (USP), feita a pedido de GZH, indica que ainda há uma grande parcela de idosos com o esquema de imunização incompleto. Mais da metade do grupo acima de 79 anos ainda não fez a aplicação complementar no RS.
Especialistas ressaltam que é fundamental tomar as duas doses das vacinas disponíveis até agora no Brasil (CoronaVac e AstraZeneca/Oxford) nos prazos adequados para garantir a maior proteção possível contra o vírus.
— A primeira (aplicação) faz despertar o reconhecimento do vírus pelo sistema imunológico. Mas é a segunda que vai fazer a produção adequada dos anticorpos que vão combater o coronavírus — explica o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Os dados disponíveis indicam que é necessário um grande esforço da rede de atendimento para garantir a cobertura vacinal adequada. Segundo a análise feita nos microdados do sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, 16% dos idosos gaúchos acima de 79 anos ainda não tomaram a primeira dose do imunizante, e mais da metade — 56% — ainda não receberam a injeção de reforço exigida para elevar o nível de anticorpos ao patamar recomendado. Os idosos estão entre os mais vulneráveis a complicações da covid nos grupos considerados prioritários, que também incluem profissionais da saúde, da segurança e pessoas com comorbidades, por exemplo.
A cifra pode incluir pessoas que ainda estão no prazo para tomar a dose complementar, como no caso de quem recebeu o produto da AstraZeneca (com três meses de intervalo) ou perdeu a data e está em atraso. Só em Porto Alegre, por exemplo, na semana passada, 13 mil pessoas deixaram de comparecer aos postos para repetir a injeção e não estão seguros contra o vírus.
O percentual de cobertura se reduz à medida que as faixas etárias ficam mais jovens, em razão do calendário de imunização ter dado prioridade aos mais velhos. Entre a população gaúcha de 70 a 79 anos, se mantém o percentual de 16% que ainda não apareceram para se vacinar nenhuma vez. A proporção de quem ainda precisa receber a segunda aplicação sobe para 91%. No intervalo entre 60 e 69 anos, falta estender a dose inicial a 61% da população, e a complementar para 98%.
A primeira (aplicação) faz despertar o reconhecimento do vírus pelo sistema imunológico. Mas é a segunda que vai fazer a produção adequada dos anticorpos que vão combater o coronavírus
PAULO PETRY
Epidemiologista e professor da UFRGS
— Ainda falta muita coisa. Pelo que observamos, o Rio Grande do Sul se encontra em uma situação intermediária em relação à cobertura vacinal entre os mais velhos no país. Há Estados em condição pior, mas há outros acima de 90% — analisa o doutor em Saúde Pública e Epidemiologia pela Universidade de Harvard (EUA) e professor da UFRJ Guilherme Werneck.
— É fundamental seguir a recomendação do fabricante de cada vacina. Por enquanto, no Brasil, temos essas duas. Posteriormente poderemos ter alguma opção de dose única, como a da Janssen — complementa Petry.
O prazo para aplicação da segunda dose é de 21 a 28 dias, no caso da CoronaVac, e três meses para o produto da AstraZeneca. Quem já deveria ter tomado a segunda dose e ainda não recebeu pode se dirigir a qualquer posto de saúde. Não é preciso recomeçar o esquema de imunização. Basta tomar o reforço.