A pandemia tem infectado famílias inteiras. Em Cruz Alta, por exemplo, cinco familiares morreram da doença neste mês. No município de Humaitá, noroeste do RS, um caso ocorrido nesta segunda-feira (29) chama a atenção: marido e esposa morreram com uma hora de diferença um do outro.
Fernanda Raquel dos Santos Gonçalves, de 25 anos, e Gilmar da Silva Gonçalves, de 30, estavam juntos há cerca de nove anos. Moradores do bairro Operário, no pequeno município de Humaitá, só se separavam quando precisavam ir ao trabalho. Ela com seus afazeres no setor de limpeza da prefeitura. Ele, numa fábrica de sal. Em casa, eram muito unidos, dividiam tarefas e as executavam juntos. Foram vítimas da covid-19.
Quis o destino que fossem internados juntos e acabassem falecendo quase ao mesmo tempo. O sepultamento ocorreu no cemitério municipal.
Os dois testaram positivo para coronavírus no dia 18 de março. A quarentena estava sendo feita em casa, sem necessidade de internação. No dia 25 de março, no entanto, os dois tiveram piora no quadro de saúde. Jaqueline Fonseca dos Santos Cardoso, 28 anos, irmã de Fernanda, e Gilberto Cardoso, de 39 anos, irmão de Gilmar, que são casados, conversaram com GZH.
— Eles relatavam muita falta de ar — conta Gilberto ao lembrar sobre a necessidade de internação.
Para Jaqueline, a união do casal era tão grande que o destino dos dois não pode ter sido coincidência.
— A gente acha que foi Deus, mesmo. Eles morreram juntos. Ela iria para (o hospital de) Cruz Alta e acabou ficando em Três de Maio — diz a irmã de Fernanda.
O casal foi internado junto, às 11h do dia 25 de março, no Hospital Adesco, em Humaitá, com quadro grave motivado pela covid-19. Como a instituição não possui UTI, foi preciso esperar que vagas fossem liberadas para a transferência.
Gilmar foi antes da esposa, no dia 26, às 19h42min, para o Hospital São Vicente de Paulo, em Três de Maio. Fernanda, mesmo em estado grave, precisou esperar mais em razão da falta de vagas. Foi transferida à 0h39min desta segunda-feira (29) para a mesma instituição.
De acordo com o Hospital São Vicente de Paulo, o óbito de Fernanda ocorreu às 7h55min. Ela estava na chamada sala vermelha, aguardando leito de UTI. Já Gilmar morreu às 9h, na UTI Covid, uma hora e cinco minutos depois da esposa.
— Era um casal amigo. Eles se davam super bem. Nunca vi eles brigando. Muito queridos. Quando estava limpando a casa, o outro ajudava. A gente está sofrendo muito. A gente gostava muito deles. Isso é uma dor sem explicação — conta a vizinha do casal, a professora Keci Vanessa Oliveira de Melo, de 26 anos, que conhecia Fernanda desde a infância.
Jaqueline, irmã de Fernanda, conta que o casal estava construindo uma casa em um terreno próximo onde morava. Os dois viviam numa residência que fica em um terreno onde moram ainda, em outra casa, os pais, um irmão e um sobrinho. Jaqueline relata que a irmã e o cunhado tinham um sonho.
— Eles sonhavam em ter um filho. Eles estavam tentando. Ela estava fazendo um tratamento para engravidar — relata Jaqueline, ao lembrar que a irmã conheceu Gilmar quando tinha 16 anos.
Segundo Jaqueline e Gilberto, vários familiares foram infectados pelo coronavírus, mas nenhum chegou a ficar com quadro grave como do casal que acabou falecendo.
— A gente quase não acreditava na doença. Agora, a gente vai se cuidar mais — admite Gilberto.