Os frascos dos imunizantes contra a covid-19 contêm 10 doses, que devem ser aplicadas em até seis horas depois da abertura do recipiente. Por esse motivo, conforme relatado pelo colunista Paulo Germano, alguns postos de saúde e farmácias da Capital têm feito a xepa da vacina, que consiste na aplicação do produto em pessoas que originalmente não o receberiam naquele momento, para evitar que seja desperdiçado.
Nesta segunda-feira (29), a expectativa de conseguir ser vacinado antes do prazo mobilizou cerca de 20 pessoas em frente à unidade de saúde Santa Marta, no centro da Capital. Enquanto não ocorria o fim da vacinação, as pessoas observavam a movimentação na unidade de saúde que aplicava a vacina nos idosos a partir dos 69 anos.
Entre elas estavam as vizinhas Rejane Di Georgio e Adriana Celli, ambas com 64 anos. As duas confirmaram que estão há cerca de um mês tentando, uma vez por semana, receber a vacina no final do dia de vacinação.
— Uma vez por semana tentamos ou na Vila Ipiranga ou aqui (Santa Marta), mas ainda não conseguimos —revelou Rejane.
— Sabemos que está mais próximo da nossa vez, mas precisamos nos vacinar logo. Vários vizinhos positivaram para covid-19 e estamos com muito medo — completou Adriana.
No fim do dia, novamente, não foi possível receber a primeira dose, pois todas foram aplicadas no posto de saúde Santa Marta. GZH esteve também na unidade de saúde Modelo, onde também não restaram doses nesta segunda-feira.
Os profissionais de saúde reforçaram ainda que não há garantia para quem busca essas doses e pede a compreensão da população que busca a xepa das vacinas. Mas existe uma regra para o uso dessas doses que sobram no final do expediente de vacinação?
Em entrevista à Rádio Gaúcha na tarde desta segunda-feira (29), a diretora do Departamento de Atenção Primária e de Políticas de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Ana Costa, explicou qual a orientação do Estado para os municípios procederem nesses casos. Segundo ela, os postos de vacinação devem sempre se organizar para aplicar essas doses restantes em pessoas dos grupos prioritários, sejam idosos ou profissionais de saúde.
— É muito comum que a gente tenha conhecimento de quem precisa tomar a segunda dose e use essas doses remanescentes para isso, ou para os idosos que já estão perto do momento de se vacinar. A lógica é aproveitar todas as vacinas dentro dos grupos prioritários, não deixar perder absolutamente nada — afirmou.
Ana relatou que, no início da campanha de vacinação, chegaram a ser distribuídas monodoses, ou seja, frascos com somente uma dose. Agora, em geral, a maioria das vacinas vêm em 10 doses, então, quando se abre um frasco, é necessário ter o mesmo número de pessoas para receber a aplicação durante as seis horas seguintes:
— Ao abrir a vacina, as equipes já têm que ter uma pré-organização para garantir a aplicação de todas as doses. Elas vão se organizando nesse período para fazer com que sejam aproveitadas todas as doses existentes em cada vidro.
Questionada sobre a vacinação de pessoas que não façam parte dos grupos prioritários, no caso de não haver quem se encaixe no perfil, a diretora salientou que a SES não tem aconselhado essa medida, já que também será necessária a aplicação da segunda dose para garantir a proteção completa daquela pessoa. Ela reforçou ainda que o uso dessas doses não precisa ser somente na unidade de saúde em que elas estão, considerando que muitas vezes há hospitais ou outras unidades próximas.
— Dentro da comunidade há muitas opções, mas é preciso garantir que a vacina fique nos grupos prioritários porque a gente terá que aplicar a segunda dose, e elas não estão previstas para aqueles grupos que não estão elencados, pelo menos não até o momento. Pode ser que o cenário mude, que se comece a vacinar a população de forma maciça, mas, neste momento, é essa a orientação — pontuou.
Além disso, Ana destacou que as unidades estão bastante acostumadas com a vacinação e que não são abertos vários vidros quando o expediente está chegando ao final, mesmo que tenha mais de um profissional aplicando as doses. De acordo com ela, já existe uma organização interna para que o vacinador termine o conteúdo do frasco antes de abrir um novo:
— Não vão abrir 10 vidros nos últimos 15 minutos tendo somente X pessoas para vacinar. A gente organiza, conta quantas pessoas tem, isso é uma prática bastante comum do processo de vacinação, e mais do que nunca a gente tem que aproveitar até o fim.
A diretora também pediu que as unidades ofereçam orientações para aquelas pessoas que decidem ir até o local para tentar receber uma das doses remanescentes, a fim de evitar aglomerações, e que façam os registros de vacinação para que os dados sejam enviados ao Ministério da Saúde. Ela salientou que essa medida é importante para que a população saiba quantas pessoas já foram imunizadas em cada município.
Por fim, Ana afirmou que não há registros de problemas graves relacionados ao desperdício de doses, pois a SES tem repassado diversas orientações sobre o tema e os municípios têm tomado muito cuidado para evitar que aconteçam casos desse tipo.