Cada frasco de vacina contém 10 doses. É um vidrinho do tamanho de uma pilha média que, depois de aberto, precisa ser todo aproveitado em até oito horas – se não for, começa a perder a eficácia.
O problema é que, quando chega o fim do dia, nos postos de saúde ou nas farmácias, nem sempre ainda tem gente na fila aguardando injeção. E aí podem sobrar duas, três, cinco doses de frascos que foram abertos e, agora, correm o risco de ir para o lixo. É a xepa da vacina: para não ser desperdiçada, ela é aplicada em pessoas que, originalmente, não receberiam o imunizante naquele momento.
– Seria um absurdo, na situação em que estamos, botar qualquer dose fora – avalia o diretor da Vigilância em Saúde da prefeitura de Porto Alegre, Fernando Ritter.
Segundo ele, a orientação é sempre priorizar quem faz parte dos grupos de risco – primeiro, os idosos; em seguida, os doentes crônicos; depois, as pessoas com deficiência permanente. Caso seja impossível, ao final do dia, encontrar gente com esses perfis, aí sim, a xepa pode ser direcionada a homens e mulheres com menos de 60 anos sem comorbidades.
Não há necessidade de cadastro: para receber a sobra da vacina, um dos requisitos é a sorte. Nos postos de saúde mais movimentados, como o Santa Marta, o Modelo ou o IAPI, é normal ver interessados na xepa formando fila a partir do meio da tarde. Às 17h, quando termina a vacinação, alguns conseguem receber a picada – se tiverem sobrado doses, claro.
– Nas unidades com movimento menor, à medida que se aproxima o fim do dia, os agentes comunitários vão buscando moradores que fazem parte dos grupos de risco – conta Fernando Ritter.
A distribuição mais aleatória da xepa ocorre nas farmácias, onde os profissionais de saúde vêm sendo vacinados. Há casos em que o funcionário da farmácia, no fim da tarde, vai para a sinaleira procurar interessados – afinal, são estabelecimentos com menos estrutura e menor contato com a comunidade do que os postos de saúde.
Nas redes sociais, não é difícil encontrar relatos de doses indo para o lixo em Porto Alegre. A prefeitura garante, no entanto, que até agora nenhuma denúncia se confirmou.