Posso escolher a vacina que vou tomar? Preciso usar máscara depois de imunizado? Por que minha cidade ainda não chegou a uma faixa etária e a vizinha já avançou? Com o processo de vacinação contra a covid-19 em andamento, esses e outros questionamentos têm se tornado comuns entre a população.
Para ajudar a esclarecer as dúvidas que estão surgindo com o avançar da campanha de imunização, GZH apresenta logo abaixo este guia com perguntas e respostas dadas por especialistas, órgãos oficiais e documentos técnicos do Ministério da Saúde (MS). Contamos com a colaboração dos leitores para seguir ampliando este conteúdo, esclarecendo mais questões sobre a vacinação. Veja como mandar sua pergunta neste link.
Por que umas cidades vacinam pessoas a partir de certa idade e outras a partir de outra idade? Não deveria ser igual para todos no Estado?
Não. De acordo com Secretaria Estadual da Saúde (SES), cada município tem seu ritmo. À medida que as cidades completam uma faixa etária indicada, podem avançar para a seguinte se ainda tiverem doses disponíveis da remessa mais recente. Impactam o processo a velocidade de aplicação e o tamanho do grupo a ser vacinado, entre outros fatores. A SES reforça que segue recomendações do Plano Nacional de Imunizações (PNI).
Sempre que chega um novo lote de vacinas, os municípios, representados pelo Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), e a SES, pactuam quem será vacinado, fazendo a estratificação a partir dos grupos prioritários. O cálculo leva em conta a quantidade de doses disponíveis, os grupos prioritários a serem contemplados e estimativas populacionais.
Me vacinei em um posto de saúde de Porto Alegre. Posso fazer a segunda dose num drive-thru?
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), é permitido que a pessoa tome a primeira dose da vacina no posto de saúde e a segunda no drive-thru, e vice-versa. Em ambos os casos, basta levar a carteira de vacinação, além do restante da documentação necessária, como documento com foto e comprovante de residência.
Para se vacinar, o idoso precisa ter a idade indicada pela prefeitura completada até o dia da vacina ou em algum momento posterior de 2021?
Precisa já ter completado a idade indicada até o dia da vacina. Por exemplo, se em final de março estão vacinando aqueles com 70 anos ou mais e a pessoa tem 69 anos mas vai completar 70 em maio, ela precisa esperar que o grupo de 69 anos ou mais seja chamado.
Se não tomar a vacina na data indicada para a sua faixa etária, a pessoa pode tomar depois?
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), em caso de alguma situação impedir a pessoa de buscar a vacinação no período determinado, é possível tomar a vacina em qualquer momento. No caso da segunda dose, a SES informa que também pode-se tomar a injeção fora do prazo para completar o esquema de imunização, e que o atraso não acarreta problemas. No entanto, a pessoa precisa estar ciente de que não estará totalmente protegida enquanto não tomar a segunda dose. Por isso, deve fazê-lo o quanto antes.
Como o governo do Rio Grande do Sul divide pelos municípios cada lote de imunizantes que recebe? A divisão é proporcional à população ou tem outro critério?
A SES esclarece que o cálculo de distribuição é feito a partir de estimativas populacionais do grupo prioritário que está sendo vacinado no momento. Ou seja, uma cidade A, de população menor do que uma B, mas com uma proporção de idosos acima de 60 anos bem superior do que a de A, pode acabar recebendo lotes maiores de vacinas em um primeiro momento.
Posso escolher qual a vacina que eu quero tomar?
Não. O Brasil tem, no momento, vacinas de Oxford e CoronaVac, que são distribuídas por lotes aos Estados e municípios. A pessoa toma aquela que estive disponível naquele momento em seu posto de saúde. Para a segunda dose, deve tomar a mesma que tomou na primeira.
Por que a segunda dose da CoronaVac é feita pouco tempo depois da primeira e a segunda dose de vacina de Oxford demora mais tempo?
A CoronaVac tem na bula intervalo de duas a quatro semanas. Já a Oxford/AstraZeneca tem recomendação de intervalo entre doses de 12 semanas (três meses).
O importante é prestar atenção na anotação que o pessoal do posto ou drive-thru fará sobre a data da segunda dose na carteira de vacinação. É preciso seguir a data indicada no cartão.
Qual vacina é melhor: Oxford/Astrazeneca ou CoronaVac?
É importante não traçar comparação entre as duas vacinas em uso no Brasil, pois ambas foram testadas e aprovadas para aplicação, ainda que com variações nos resultados, fruto das diferenças nas populações onde ocorreram os testes, nas epidemiologias e nas faixas etárias em que foram aplicadas. Mônica acrescenta que o perfil dos voluntários incluídos e os critérios para investigação de infecção por coronavírus nos dois estudos foi diferente. A CoronaVac teve participação apenas de profissionais da saúde, atuantes na linha de frente da pandemia. Isso significa que estavam em maior e constante exposição ao vírus. Por outro lado, Oxford aplicou as doses em uma população que não obrigatoriamente estava exposta ao coronavírus.
— E os critérios para investigação de infecção foram muito diferentes. Poucos sintomas estavam incluídos na de Oxford, enquanto outros sinais, como dor de cabeça e diarreia foram motivo para testagem no estudo da CoronaVac. Ou seja, a CoronaVac foi capaz de detectar formas muito leves da doença — destaca a diretora da SBIm.
Outra comparação que não deve ser feita é das vacinas aplicadas no Brasil com outras que já estão sendo administradas no Exterior, como Pfizer e Moderna. Mônica destaca que todas as vacinas que foram licenciadas até agora no mundo estão mostrando bons resultados, inibindo casos graves, internações e mortes.
Vacinado contra a covid-19 ainda consegue transmitir o vírus?
Segundo o médico infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a ciência ainda não tem essa resposta. No entanto, estudos preliminares indicam que uma pessoa vacinada contra a covid-19 tem menos chances de transmitir o coronavírus.
Depois que uma pessoa testou positivo para o coronavírus, qual o prazo para fazer a vacina?
A recomendação atual é de que a pessoa que testou positivo para o coronavírus aguarde quatro semanas após a realização do teste RT-PCR ou antígeno. Depois desse período, pode se vacinar. Se a pessoa desenvolveu um quadro mais grave da covid-19, a recomendação é que ela espere um tempo maior para se vacinar.
Tenho determinada doença. Como saber se estou no grupo prioritário?
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), as seguintes condições configuram comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, e indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave.
Faço parte do grupo de risco, pois tenho diabetes tipo 1, mas estou amamentando. Posso fazer a vacina quando chegar a minha vez?
No caso de pessoas com diabetes não muito bem controlada, espera-se que as respostas imunológicas serão um pouco inferiores. Ainda assim, essas pessoas devem se vacinar contra a covid-19. E devem buscar a imunização mesmo que estejam amamentando. De acordo com o médico infectologista Eduardo Sprinz, um estudo conduzido pela Janssen nos Estados Unidos indicou que mães que amamentam e foram vacinadas contra a covid-19 conseguem passar anticorpos para o leite materno. Assim, acabam ajudando os bebês.
Vacina tem contraindicação? Se a pessoa tem uma doença crônica ou algum outro problema, pode mesmo assim se vacinar?
Depende. O Ministério da Saúde (MS) contraindica as vacinas apenas em dois casos: hipersensibilidade a algum componente do imunizante ou para pessoas que tenham apresentado reação anafilática confirmada no momento em que tomaram a primeira dose da vacina contra covid-19. Esses indivíduos não têm recomendação para segunda dose.
Tem situações, no entanto, que pedem cautela, observa Mônica. É o caso das gestantes, lactantes e durante puerpério (até 45 dias após o parto), população não estudada até o licenciamento das vacinas. Para a médica, em situações de mulheres pertencentes aos grupos prioritários e com alta exposição, a vacinação deve ser recomendada, pois os benefícios superam os riscos hipotéticos. Em caso de dúvida, o ideal é discutir com seu médico.
Pacientes com doenças reumáticas imunomediadas como artrite reumatóide, por exemplo, devem, preferencialmente, tomar a vacina quando a doença estiver controlada ou em remissão, orienta o MS. Entretanto, a recomendação da vacina deve ser debatida com o médico que acompanha o indivíduo. Pacientes oncológicos, transplantados e demais imunossuprimidos (pacientes com sistema imunológico fragilizado em razão de algum outro medicamento, como quimioterapia, por exemplo) não foram pesquisados, entretanto, é pouco provável que as vacinas em uso no país aumentem o risco de eventos adversos. Por precaução, o ministério indica que pacientes nessas condições discutam a vacinação com seus médicos.
Como combinar a vacina da covid com a da gripe? Precisa de prazo entre uma e outra? Uma precisa ser feita antes da outra?
Sim, é preciso respeitar um prazo mínimo entre as duas vacinas. Como não existem dados sobre a coadministração, o Ministério da Saúde não recomenda a vacinação simultânea das vacinas contra covid-19 com qualquer outra, inclusive a da gripe. A orientação é respeitar um intervalo mínimo de 14 dias entre as vacinas covid-19 e as demais do calendário de vacinação.
Se a pessoa é vacinada e tem algum efeito colateral, o que ela deve fazer?
Reações como dor local, febre, fadiga, dor de cabeça podem acontecer e não apresentam nenhum risco. Respostas mais graves devem ser informadas no local onde a pessoa se vacinou, para que a vigilância seja notificada.
Depois de fazer a primeira dose, a pessoa pode deixar de usar máscara? E a segunda?
Não. A diretora da SBIm lembra que o grau de proteção após uma dose ainda não é garantido, podendo, inclusive, ocorrer a infecção pelo coronavírus entre a primeira e a segunda dose. Isso significa que, com uma dose, a pessoa não está adequadamente protegida. Além disso, não há evidências que comprovem que estar vacinado evite a transmissão às outras pessoas.
— Ainda que vacinada, não há dados que permitam os indivíduos a voltarem para vida normal. No momento, a vacina está protegendo quem recebe a dose, não quem convive com eles (imunizados). Portanto, em respeito à saúde dos outros, o vacinado deve usar máscara e respeitar o distanciamento — fala Mônica.
Se a pessoa estiver incubando o vírus e fizer a primeira ou a segunda dose, qual a chance de adoecer?
De acordo com o médico infectologista Eduardo Sprinz, se a pessoa incubou o vírus e tomou apenas a primeira dose, a vacina não vai proteger. Já se ela está com o vírus incubado e for fazer a dose de reforço, imagina-se que o organismo consiga se proteger um pouco mais. Segundo Sprinz, também vai depender de qual das duas vacinas foi tomada, se a da AstraZeneca/Oxford ou a CoronaVac. A vacina de Oxford consegue fazer com que o organismo produza anticorpos mais cedo. Provavelmente, a pessoa que estiver imunizada com a vacina de Oxford fica mais protegida do que outra que tiver recebido a CoronaVac. O médico esclarece que, quando tomada a CoronaVac, a defesa começa após duas semanas da aplicação da segunda dose. E, no caso da vacina de Oxford, a primeira dose já induz um grau de proteção.
Se a pessoa estiver viajando na hora da primeira ou segunda dose, pode tomar a vacina em outra cidade?
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a vacinação pode ser realizada em qualquer município do Rio Grande do Sul, independente de comprovação domiciliar. O ideal, no entanto, é tomar as duas doses no município de residência.
Colaborou Karine Dalla Valle