Os últimos dias foram devastadores para uma família conhecida na comunidade de Cruz Alta, no noroeste do Rio Grande do Sul. O termo foi usado por Jorge Luís Bonaldi, o Joca, de 55 anos, para definir a perda da mãe, de três irmãos e de uma cunhada. Todos vítimas do coronavírus.
— Enquanto eu estava na funerária, o hospital me ligou dizendo que outro irmão tinha morrido e que eles não tinham mais espaço para colocar os corpos. São dias devastadores os que estamos vivendo — lamenta.
Os familiares estavam internados no Hospital São Vicente de Paulo, no próprio município, havia cerca de 10 dias. No entanto, o quadro dos pacientes foi agravado rapidamente, segundo informou a equipe médica aos parentes. Joca relembra o dia em que foi chamado por um dos médicos da instituição e alertado sobre exames que mostravam a deterioração pulmonar dos parentes.
— O médico colocou os exames na tela e começou a me mostrar o passo a passo. Um dia, 30%, outro dia 40%, depois ainda mais. É incrível o quanto essa nova variante é agressiva nos pulmões. Ele me disse e eu pude ver — complementa.
Na quarta-feira (17), morreu Paulo Ricardo Bonaldi, 62 anos. No dia seguinte (18), seu irmão, Achiles Atílio Bonaldi, de 58. Na sexta-feira (19), a família perdeu a matriarca, Maria Vergília Corrêa Bonaldi, de 83, e sua nora – esposa de Paulo Ricardo -, Salete Ribeiro Bonaldi, 61.
Mais jovem das vítimas, Sérgio Corrêa Bonaldi, 47 anos, teve o óbito registrado nesta terça-feira (23).
Joca é ex-vereador de Cruz Alta. Esteve no legislativo por três mandatos, e concorreu a reeleição no último pleito, mas não alcançou o índice para se manter na Câmara. Atualmente servidor do município, ele relembra o quanto a família cresceu unida, a partir de um desejo do pai.
— Meu pai comprou três terrenos, um do lado do outro, e ali construímos nossas casas. Parece que eu ainda ouço a voz de um dos meus irmãos, bem italiano, que fala alto, sabe? Ele acordava cedo, fazia chimarrão e ficava ali, bem brincalhão — relembra, ao falar sobre Achiles.
Os três irmãos que perderam a luta para a covid-19 trabalhavam na Oficina Bonaldi, idealizada pelo pai há 40 anos. Descendentes de italianos, eram brincalhões, além de manterem a tradição das conversas em tom alto, fosse com amigos ou clientes, de acordo com o político.
A mãe havia sido vacinada com a primeira dose da CoronaVac, e aguardava imunização completa para os próximos dias. Contudo, contraiu a doença no período de espera.
— Lúcida, forte, de uma capacidade incrível. Ela é que nos comandava — diz Joca, com a voz embargada.
Mais jovem dos sete filhos de dona Maria, o ex-jogador de futebol Rodrigo Corrêa Bonaldi, 41 anos, ficou 15 dias no mesmo hospital. Internado na UTI, se recuperou, mas ainda sofre sequelas, como perda de força nos músculos.
Joca, a esposa e os dois filhos tiveram coronavírus, em janeiro. Todos, com sintomas leves, ficaram isolados e se recuperaram.
Um dos irmãos, João Eurico Bonaldi, 60 anos, não foi contaminado. Angelita Maria Bonaldi, 52 anos, teve sintomas leves.
— Não brinquem com isso. Só quem está passando sabe o que essa doença pode fazer. Liquida com a família, liquida com o emocional, liquida com tudo — finaliza Joca.